
O viver pela fé ...
“Mas o justo viverá pela fé; e, se alguém se retirar, a minha alma não
tem prazer nele.” (Hebreus 10:30).
O que é viver pela fé? O conceito de fé é bíblico – “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas
que se esperam, e a prova das coisas que não se veem.” (Hb
11:1). Contudo, o texto em destaque fala do viver pela fé cristã, pela fé em
Deus, como um estilo de vida qualificado pela presença e comunhão com Deus,
particularidade que não desfrutam todos os descrentes que não creem em Deus nem
em Cristo. Ademais, sabemos que excluídos os ateus, há muitas pessoas que dizem
possuir fé, porém a crença delas não é em Cristo nem no seu evangelho, nem tem
fundamento na morte de Cristo no calvário, o que na verdade não é fé – ou
melhor é uma “fé” própria ou particular -, pois fé bíblica é dada por Deus aos
que se arrependeram, foram perdoados e salvos, a fim de que esses salvos
permaneçam em sua presença gloriosa.
Na verdade,
a fé cristã é um dom espiritual que estabelece a presença de Cristo na vida dos
que creem confiantemente no evangelho, ainda que as bênçãos e as promessas do
reino de Deus sejam invisíveis aos olhos naturais. A invisibilidade está no
conceito de fé porque o relacionamento do crente é com um Deus invisível (Cl
1:15). Quem tem fé vive constantemente alimentando-se
da palavra da verdade porque a fé vem por ouvir a palavra de Deus (Romanos 10:17) e
mantendo-se perseverante no estilo de vida baseado no evangelho de Cristo. A fé
não é um fim em si mesma, por exemplo ela não salva – se a fé salvasse ela
seria uma obra humana, afrontando a palavra divina porque é dito que ninguém é
salvo por obra, e sim pela graça (Efésios 2:8-9) -, mas quem a tem pode chegar à
salvação eterna porque ela mantém o homem ligado a Cristo.
Paulo diz que quando alcançarmos a glorificação não mais
será necessária a fé nem a esperança [de vida eterna] – “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança
e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (I
Co 13:13). Em síntese, a fé é um dom dado por Deus ao homem que busca a
salvação eterna, o qual é fortalecido e produzirá frutos espirituais se sua
vida for edificada pela palavra da verdade. Logo,
todos os que são redimidos pela justiça da cruz de Cristo recebem a fé como um
instrumento de convicção interior ou crença que fomos criados por um Deus
Eterno e retornaremos para a eternidade se crermos firmemente em sua palavra e
lhe obedecermos conforme ensinado pela fé evangélica.
Subjacente à importância de se perseverar na busca da vida
eterna pela fé, o texto de Hebreus põe em destaque a fé individual de cada
membro da igreja (“o justo viverá”),
lembrando-nos que a fé coletiva mantém a unidade do corpo de Cristo, porém a
salvação depende da fé individual. Cada crente precisa viver uma fé pessoal com
Deus. Uma igreja não será salva pela totalidade do corpo ou pela contínua
frequência dos membros ao culto, mas o corpo contribuirá e compartilhará da
salvação em cada um de seus membros, pois através da igreja chega-se à unidade
da fé que conduz à salvação comum dos membros.
A fé subjetiva ou individual é o cerne da salvação, não à
toa que a citação original que “o justo
viverá pela fé” mencionada por Deus no livro do profeta Habacuque (Habacuque 2:4)
teve seu ensino replicado em três livros do novo testamento (Romanos 1:17, Gálatas 3:11,
Hebreus 10:38). Em Romanos é dito: “Porque
nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo
viverá pela fé.” (Romanos 1:17).
Os termos “de fé” e “em fé” associa Deus, o provedor “da fé”, ao homem que recebeu o dom da fé quando se estabeleceu o relacionamento do convertido com o reino de Deus, a partir do momento do perdão de pecados. A comunhão entre Deus e o convertido depende dessa fé individual [“de fé”] que esse homem terá que preservar para se manter na “justiça de Deus” que é a morte de Cristo no calvário, única obra aceita por Deus como pagamento ou justiça da dívida espiritual do pecado que a humanidade tinha com Deus – Deus é a principal vítima de todos os pecados cometidos.
Quando
Deus disse originariamente que “o justo
pela sua fé viverá” (Habacuque 2:4) a sociedade judaica vivenciava injustiça
social e violência, pois seus últimos quatro reis foram homens ímpios (Jeoacaz,
Jeoaquim, Joaquim e Zedequias) e havia rumores e circunstâncias mostrando que
Judá seria destruída pelo inimigo ímpio (Babilônia), o que também incomodava o
coração do profeta que via nisso uma possível injustiça divina se tal fato
ocorresse. No seu entender, como poderia o ímpio destruir o justo na presença
de Deus?
A
resposta de Deus para o profeta foi “porque
a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará;
se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará.” (Habacuque 2:3). Ou
seja, fé é uma força que sustenta a confiança do crente quando parece que tudo
está favorável ao inimigo e que ele não vai aguentar enfrentar as injustiças,
adversidades ou maldades. Pela fé o justo ouve Deus dizer “se tardar” a ajuda ou juízo “espera”
porque tudo está no controle divino e vai acontecer no tempo por ele
determinado. A fé é o que faz o crente confiar em Deus; foi assim na antiga
aliança e permanece igual neste tempo. É esta confiança inabalável que se
ensina na frase “o justo pela sua fé
viverá”.
Viver
pela fé é confiar em Deus quando a razão, os sentidos e os próprios pensamentos
do homem dizem dentro de si “você está
derrotado, não há mais nada a fazer, é o fim”, mas, então, uma força
sobrenatural surge de dentro do coração dele dizendo que todos estão errados
porque seu Deus ainda vai operar a seu favor, e ele age derrubando oposições e
resistências que haviam se levantado contra o justo, fazendo voltar o sorriso
em seu rosto porque teve fé em Deus e não desistiu.
Neste ponto,
também é certo que a fé somente será útil se for mantida sempre acesa ou em
havendo perseverança. Isso está contido no termo “se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” o verbo
recuar (greg. “hupostello”) é o ato retirar-se,
voltar atrás, rebaixar, o retroceder de uma pessoa tímida, ser tímido,
defensivo retraído, daqueles que por causa da sua timidez hesitam
em declarar o que creem, não estar disposto a declarar por medo, evitar declarar, manter-se em silêncio sobre, esconder, dissimular (At 20:20, 27, Gálatas 2:12, Hebreus 10:38)*.
Quem recuar na fé perdeu o
estado espiritual que lhe sustentava pelo poder do dom divino. Perder a fé é
perder o contato com o reino espiritual e com Deus – “Ora,
sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima
de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb
11:6).
Verifica-se
que sem fé desmorona toda estrutura de princípios e leis espirituais que fazem
interagir a alma e o espírito com o Espírito Santo, quebrando-se o vínculo de
proteção e provisão de Cristo e de Deus para com a alma que perde a fé sincera,
pois as pessoas de coração insincero ou hipócritas sequer entraram na presença
de Deus nem jamais desfrutaram das bênçãos dadas aos filhos de Deus, ainda que
se mostram religiosas ou frequentadoras de igrejas. Elas continuarão sofrendo
seus “ais” enquanto não se
arrependerem sinceramente e ter a fé em Cristo como um compromisso ou aliança
celebrada com o Senhor Deus.
A perseverança
dos justos é um princípio bíblico da salvação eterna ensinado desde a
antiguidade, pois os que se desviam entregam-se à perdição eterna: “Sustenta-me, e serei salvo e sempre
atentarei para os teus decretos. Desprezas os que se desviam dos teus decretos,
porque falsidade é a astúcia deles.” (Salmos 119:117-118 - ARA).
Senhor, preserva nossa alma em sua
presença, fortalecendo a fé que nos destes por sua misericórdia e amor!
*Dicionário Strong