Estudo Bíblico

Duas fontes do mal: O diabo e o homem

Duas fontes do mal: O diabo e o homem

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;” (Gn 6:5 - ARA).

A queda de Adão fez seus descendentes nasceram em pecado, símbolo da maldade espiritual, de modo que o conhecimento do bem e do mal transformou o homem em fonte do mal (Gênesis 3:22 e 8:21), juntamente com o diabo. O texto bíblico em destaque usou o adjetivo maldade (hebr. “ra”) o qual é sinônimo de ruim, maligno, mau eticamente, mau caráter, mal, miséria, aflição, calamidade, aquilo que causa dor e infelicidade.*

 Por isso é totalmente sem sentido culpar o diabo de todo mal feito pelos homens ou que acontecem no mundo. Conhecer a verdade implica em saber que o mal habita dentro de nós – “Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo.” (Romanos 7:21) -, vindo daí o conceito bíblico que o pecado é um ato moral, dependente da escolha entre o certo e o errado.

Sabemos que o diabo é maligno e o pai da mentira (João 8:44), mas nem todo mal tem origem no diabo porque depois que o homem comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal tornou-se também fonte de pensamentos e de atos maus por causa do pecado. Não podemos aceitar a ideia apregoada que o diabo é o causador de toda maldade existente no mundo. Ele causa bastante mal, mas o pecado que habita dentro dos homens também é fonte do mal “porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; - ARA (Gênesis 8:21 e 3:22).

Jesus repercutiu esse entendimento no evangelho do reino de Deus ao dizer que o coração do homem está cheio de maldade, verdadeiramente jorrando mal como uma fonte jorra água – “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mateus 15:19). Aqui o Senhor Jesus usa terminologia do velho testamento, segundo a qual no coração concentra-se a vontade (desejo), o sentimento (emoção) e o intelecto (pensamento).

Parece inverossímil e até cômico, mas há uma disputa na prática do mal. Têm situações que o diabo vê o homem praticando um mal monstruoso e diz: “Esse mal eu não conhecia, mas agora o homem me ensinou essa nova prática. Vou fazer assim também!”. Logos, são duas fontes autônomas de mal, com ambas atentando contra a vontade de Deus.

A Bíblia recusa o pensamento daqueles que depois de pecarem coloca a culpa em Deus dizendo “de Deus sou tentado” (Tiago 1:13), pois, cada pessoa tem absoluta liberdade ao escolher o certo ou o errado para obedecer ou desobedecer a Deus, sendo indiscutível que todo pecado é gerado pela própria vontade do pecador. Deus não imputa pecado ao que não o gerou, injustiça incompatível com a função de Justo Juiz.

A oração do Pai Nosso confirma que o mal ou a tentação oriunda dele não procede de Deus, pois a Ele pedimos “não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal” (Mateus 6:13). Deus é luz e por isso lhe pedimos livramento das trevas do mal, de modo que naturalmente sua glória resplandecente é incompatível com qualquer porção de trevas. Se no Universo os buracos negros “engolem” tudo que se aproxima deles, inclusive a luz, no mundo espiritual toda partícula ou ação das trevas são aniquiladas pela luz da glória de Deus – Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12).

Neste ponto, precisamos entender que nem sempre o pedido “livra-nos do mal” resume-se simplesmente em evitar nosso confronto com as provações, adversidades e inimigos desta vida, mas em nos dar força para vencer todas as pelejas que podemos enfrentar – Deus sustenta seus filhos nas batalhas que eles enfrentam (Salmos 89:43). Então, sempre devemos pedir força para as lutas que enfrentaremos, sabendo que Deus pode nos dar o livramento ou a vitória que nos alegrará a alma, permitindo-nos glorificar o seu nome e entoar um cântico novo em louvor da sua majestade.

Dentro da nossa alma está a vontade, o intelecto e as emoções, centros operacionais da vida humana. Aqui mora o perigo porque o pecado começa dentro da vontade de cada um de nós. É uma guerra contra a mente e as emoções, pois os pensamentos e os sentimentos unem-se tentando influenciar a escolha moral feita pela vontade. O jejum e a oração quebram o controle da natureza carnal sobre esse sistema central substituindo o querer, o pensar e o sentir da velha natureza pelos desejos, pensamentos e emoções controlados pelo Espírito de Deus. Quando estamos cheios da unção do Espírito somos imparáveis como a força do boi selvagem – “Porém tu exaltarás o meu poder, como o do boi selvagem. Serei ungido com óleo fresco.” (Salmos 92:10).

Sabemos que os filósofos e humanistas rejeitam a origem do mal pela consciência moral do cristianismo que a situa no pecado. Eles não entendem que no pecado há poder suficiente capaz de desencadear toda sorte de dor, sofrimento, miséria e desgraças manifestadas no mundo exterior, pois argumentam entendimento que isso tudo tem origem no mal natural. Noutras palavras, para eles, as desgraças, tragédias e ações más dos homens deriva da natureza das coisas e da vontade dos homens, jamais vendo nelas ação sobrenatural do diabo ou mesmo de Deus. Estão errados porque padecem de cegueira espiritual – “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (II Co 4:4).

O cristianismo não nega o mal natural, contudo não desconsidera a preponderância e a influência espiritual maligna do pecado e do diabo na maior parte de todo mal praticado na humanidade. O evangelho de Cristo não prega que todo mal procede do diabo, porquanto reconhece haver mal natural que procede do coração do homem (Gênesis 8:21, Jeremias 17:9), pois a natureza humana tornou-se má desde o momento que Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:16-17 e 3:6).

Há um equilíbrio baseado na verdade da palavra de Deus. Por outro lado, o cristianismo não apenas situa a causa principal da tragédia humana na prática do pecado como é o único sistema moral capaz de frear e anular a ação destruidora no mundo material e espiritual, por meio da fé em Cristo. Este é o propósito do plano de salvação eterna da alma humana revelado no evangelho de Cristo. Ninguém consegue anular o poder do mal no mundo espiritual se não for invocando o nome de Jesus Cristo, pois só neste nome há autoridade e poder para ordenar ou cancelar uma obra espiritual maligna, pois os demônios só se curvam e se sujeitam a ele – “E os espíritos imundos vendo-o, prostravam-se diante dele, e clamavam dizendo: Tu és o filho de Deus.” (Marcos 3:11).

A palavra de Deus propõe a vida e o bem, a morte e o mal, e assim andaremos pelas nossas escolhas e decisões (Deuteronômio 30:15). Isso ficou claro antes da prática do primeiro homicídio na planeta terra. Deus advertiu Caim sobre esse poder de escolha que tem o homem antes dele matar seu irmão Caim, advertindo que o desejo de pecar está sempre à porta, porém cabe ao homem dominá-lo – “Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.” (Gn 4:7).

Entrementes, se o diabo e o homem impenitente são fontes do mal, também foram selados no mesmo destino, pois a ambos está reservado o lago de fogo e enxofre – “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” (Mateus 25:41, Apocalipse 20:10).

A palavra da verdade ensina que a luz (Cristo) resplandece nas trevas e as trevas não prevaleceram contra ela (João 1:5), de modo que resta ao coração do homem aceitar o chamado da palavra de Deus, arrepender-se de seus pecados confessando Cristo como Senhor para se livrar do mal pelo poder do perdão de Deus, e a partir daí manter-se temente e fiel a ele para não mais se afastar da sua luz – “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.” (I João 1:7).

Irmãos, prestem atenção nesta mensagem e alegrem-se: “Aos justos nasce luz nas trevas;” (Salmos 112:4).

Pai, o Senhor é luz e em ti não há trevas, conceda-nos permanecer diante da sua glória e longe do mal, desde agora e por toda a eternidade!

* Dicionário Strong

**© Texto bíblico: ACF – SBTB