
Como age o mecanismo da consciência no homem
“Porém
ouvindo eles isto, acusados pela consciência, saíram um a um, a começar
pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que
estava no meio.” (João 8:9).
Esta cena da mulher adúltera
trazida diante de Jesus – era uma cilada dos judeus – torna-se icônica a partir
do momento que o Senhor diz-lhes: “Aquele
que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.”,
e aí todos os acusadores, um a um, agora acusados pela própria consciência
pecadora, vão saindo da sua presença, ficando só ele e a mulher que acusavam.
A palavra
consciência (greg. “suneidesis”)
origina-se da conjunção grega “sun“ (“com”)
+ “oida” (“saber”),* a indicar ser
algo com o que aprendemos ou que nos dá autoconhecimento, é sinônimo de
consciência moral, condição na qual a alma age como diferenciadora entre o que
é moralmente bom e mal, impulsando para fazer o primeiro e evitar o último,
glorificando um e condenando o outro.** A palavra consciência é amplamente
usada no novo testamento (João 8:9, Atos 23:1:16, Romanos 2:15:1, 13:5, I Co 8:7,
10, 12, 10:25, 27-29, II Co 1:12, 4:2, 5:11, I Tm 1:5, 19, 3:9, 4:2, II Tm 1:3,
Tito 1:15, Hebreus 9:9:2, 22, 13:18, I Pd 2:19, 3:16, 21). A Bíblia menciona vários tipos de
consciência – boa, pura, contaminada, culpada, fraca, endurecida e cauterizada.
O que nós cristãos precisamos saber é
que a consciência foi dada ao homem por Deus para internamente exercer nele um
balizamento ou juízo moral acerca de tudo que pensamos, fazemos ou
falamos. Todo homem a possui, até os
mesmos gentios ou incrédulos. Embora não houvesse leis a serem cumpridas pelos gentios (Rm
2:15), vez que Deus instituiu sua lei apenas a nação de Israel, povo escolhido,
os gentios tinham o sentimento da lei existente na própria natureza de Deus. No
ato da criação a mente e o coração de toda criatura é impregnada com traços
elementares de leis justas decorrentes da justiça integrante do caráter de
Deus, que em menor ou maior intensidade influenciam os homens. Uma dessas leis
é a consciência que está dentro de cada ser humano, crente ou descrente.
Isso ocorre
porque Deus escreveu suas leis morais dentro de cada um, as quais são universais e integram naturalmente a essência humana,
independentemente de religiosidade ou fé. Seja ateu ou crente todos foram
dotados com esse nível mínimo de razão moralmente íntegra. Podemos chamá-la de
ética universal, ponto médio que mantém quaisquer sociedades ou grupamentos
humanos convivendo num patamar mínimo de respeito e justiça entre seus
integrantes, sejam grupos primitivos ou de intelectuais. Daí que ninguém vive
em estado de ignorância absoluta, pois sempre sua vontade tem esse padrão moral
congênito – consciência natural - disponível
para afastá-lo do mal, ao tempo que justifica futuro castigo divino por
desobediência ou rejeição à palavra de Deus (Romanos 1:20-21).
O homem somente estará privado desse mecanismo interior que o adverte do mal e do erro acaso se rebele ou rejeite a palavra da verdade, ou ainda se estiver enganado por doutrinas de demônios, pois isso o deixa com a consciência cauterizada – insensível ou endurecida (I Tm 4:2). É uma característica de todos que permanecem no pecado. A consciência precisa ser iluminada pela palavra de Deus para ser iluminada acerca da justiça e da verdade. Paulo errou várias vezes antes da sua conversão – ele próprio confessou que perseguiu, castigou e matou cristãos pensando estar agradando a Deus (Atos 26:9-10) – porque tinha consciência endurecida pelo falso zelo da religiosidade judaica. Vejam o que ele disse sobre o erro de sua consciência: “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos;” (vs. 9).
Toda vez que
erramos ou pecamos a consciência dispara o sentimento de culpa, mecanismo
mental que aciona uma força interior fazendo o homem sentir a necessidade de se
arrepender de seus pecados e voltar-se para Deus. Havendo arrependimento, o
arrependido recebe a fé espiritual – substitui o mero ato de crer ou a fé
intelectual - para aprofundar o conhecimento e a comunhão com Deus, por meio da
graça e da verdade do evangelho de Jesus Cristo.
Não havendo
arrependimento, a recusa em ouvir a consciência para permanecer espontaneamente
no pecado faz com o que o sentimento de culpa não o abandone, pois só mediante
o reconhecimento do erro cometido chegará ao arrependimento e desfrutará da
nova vida com Deus (Provérbios 28:13). Quem está em pecado e não se arrepender, com
certeza sentirá o peso da culpa até sua morte – esses são aqueles que têm a
consciência cauterizada, os quais vive permanentemente em pecado (I Tm 4:2) -,
principalmente nos momentos de infortúnios, angústia e sofrimento. Este tipo de
consciência perdeu o padrão moral natural devido a influência de falsas
doutrinas ou rebeldia permanente, ficando sem capacidade de efetuar um
julgamento moral e ético.
Nunca conseguiremos fazer nossa
consciência aprovar o mal porque a mesma foi colocada dentro de nós justamente
para que sejamos alertados que devemos rejeitar tudo que é mal. A consciência
age no intelecto para o impedir de sentir-se confortável com a prática do mal,
cobrando-lhe mudança de atitude e abandono das coisas erradas.
A
primeira vez que isso ocorreu no mundo foi no paraíso, com Adão e Eva. Adão
falou a Deus que ouviu ele lhe chamando no jardim depois que juntamente com sua
mulher comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porém como
estava nu, teve medo e escondeu-se, de modo que “perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que
estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gênesis 3:11). Nu significa sem vestes de santidade e na
desobediência (). Foi a consciência de Adão e de Eva que os acusou de terem
pecado contra Deus, levando-os a cobrirem a nudez com folhas de figueira e a se
esconderem entre árvores, e desde então a consciência exerce essa função dentro
de cada um de nós. Na verdade, Adão tentou, como se fosse possível,
esconder o pecado de Deus: “Se, como Adão,
encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio;” (Jó 31:33 e Gênesis 3:7).
Nenhum pecado está oculto ante os olhos de Deus porque eles estão em todo lugar
(Provérbios 15:3) e no dia do julgamento do juízo final Cristo julgará até os segredos
dos homens (Romanos 2:16).
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Dicionário Vine
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Dicionário Strong