Estudo Bíblico

Como age o mecanismo da consciência no homem

Como age o mecanismo da consciência no homem

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Porém ouvindo eles isto, acusados pela consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.” (João 8:9).

Esta cena da mulher adúltera trazida diante de Jesus – era uma cilada dos judeus – torna-se icônica a partir do momento que o Senhor diz-lhes: “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.”, e aí todos os acusadores, um a um, agora acusados pela própria consciência pecadora, vão saindo da sua presença, ficando só ele e a mulher que acusavam.

A palavra consciência (greg. “suneidesis”) origina-se da conjunção grega “sun“ (“com”) + “oida” (“saber”),* a indicar ser algo com o que aprendemos ou que nos dá autoconhecimento, é sinônimo de consciência moral, condição na qual a alma age como diferenciadora entre o que é moralmente bom e mal, impulsando para fazer o primeiro e evitar o último, glorificando um e condenando o outro.** A palavra consciência é amplamente usada no novo testamento (João 8:9, Atos 23:1:16, Romanos 2:15:1, 13:5, I Co 8:7, 10, 12, 10:25, 27-29, II Co 1:12, 4:2, 5:11, I Tm 1:5, 19, 3:9, 4:2, II Tm 1:3, Tito 1:15, Hebreus 9:9:2, 22, 13:18, I Pd 2:19, 3:16, 21). A Bíblia menciona vários tipos de consciência – boa, pura, contaminada, culpada, fraca, endurecida e cauterizada.

O que nós cristãos precisamos saber é que a consciência foi dada ao homem por Deus para internamente exercer nele um balizamento ou juízo moral acerca de tudo que pensamos, fazemos ou falamos.  Todo homem a possui, até os mesmos gentios ou incrédulos. Embora não houvesse leis a serem cumpridas pelos gentios (Rm 2:15), vez que Deus instituiu sua lei apenas a nação de Israel, povo escolhido, os gentios tinham o sentimento da lei existente na própria natureza de Deus. No ato da criação a mente e o coração de toda criatura é impregnada com traços elementares de leis justas decorrentes da justiça integrante do caráter de Deus, que em menor ou maior intensidade influenciam os homens. Uma dessas leis é a consciência que está dentro de cada ser humano, crente ou descrente.

Isso ocorre porque Deus escreveu suas leis morais dentro de cada um, as quais são universais e integram naturalmente a essência humana, independentemente de religiosidade ou fé. Seja ateu ou crente todos foram dotados com esse nível mínimo de razão moralmente íntegra. Podemos chamá-la de ética universal, ponto médio que mantém quaisquer sociedades ou grupamentos humanos convivendo num patamar mínimo de respeito e justiça entre seus integrantes, sejam grupos primitivos ou de intelectuais. Daí que ninguém vive em estado de ignorância absoluta, pois sempre sua vontade tem esse padrão moral congênito – consciência natural - disponível para afastá-lo do mal, ao tempo que justifica futuro castigo divino por desobediência ou rejeição à palavra de Deus (Romanos 1:20-21).

O homem somente estará privado desse mecanismo interior que o adverte do mal e do erro acaso se rebele ou rejeite a palavra da verdade, ou ainda se estiver enganado por doutrinas de demônios, pois isso o deixa com a consciência cauterizada – insensível ou endurecida (I Tm 4:2). É uma característica de todos que permanecem no pecado. A consciência precisa ser iluminada pela palavra de Deus para ser iluminada acerca da justiça e da verdade. Paulo errou várias vezes antes da sua conversão – ele próprio confessou que perseguiu, castigou e matou cristãos pensando estar agradando a Deus (Atos 26:9-10) – porque tinha consciência endurecida pelo falso zelo da religiosidade judaica. Vejam o que ele disse sobre o erro de sua consciência: “Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos;” (vs. 9).

Toda vez que erramos ou pecamos a consciência dispara o sentimento de culpa, mecanismo mental que aciona uma força interior fazendo o homem sentir a necessidade de se arrepender de seus pecados e voltar-se para Deus. Havendo arrependimento, o arrependido recebe a fé espiritual – substitui o mero ato de crer ou a fé intelectual - para aprofundar o conhecimento e a comunhão com Deus, por meio da graça e da verdade do evangelho de Jesus Cristo.

Não havendo arrependimento, a recusa em ouvir a consciência para permanecer espontaneamente no pecado faz com o que o sentimento de culpa não o abandone, pois só mediante o reconhecimento do erro cometido chegará ao arrependimento e desfrutará da nova vida com Deus (Provérbios 28:13). Quem está em pecado e não se arrepender, com certeza sentirá o peso da culpa até sua morte – esses são aqueles que têm a consciência cauterizada, os quais vive permanentemente em pecado (I Tm 4:2) -, principalmente nos momentos de infortúnios, angústia e sofrimento. Este tipo de consciência perdeu o padrão moral natural devido a influência de falsas doutrinas ou rebeldia permanente, ficando sem capacidade de efetuar um julgamento moral e ético.

Nunca conseguiremos fazer nossa consciência aprovar o mal porque a mesma foi colocada dentro de nós justamente para que sejamos alertados que devemos rejeitar tudo que é mal. A consciência age no intelecto para o impedir de sentir-se confortável com a prática do mal, cobrando-lhe mudança de atitude e abandono das coisas erradas.

A primeira vez que isso ocorreu no mundo foi no paraíso, com Adão e Eva. Adão falou a Deus que ouviu ele lhe chamando no jardim depois que juntamente com sua mulher comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porém como estava nu, teve medo e escondeu-se, de modo que “perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gênesis 3:11). Nu significa sem vestes de santidade e na desobediência (). Foi a consciência de Adão e de Eva que os acusou de terem pecado contra Deus, levando-os a cobrirem a nudez com folhas de figueira e a se esconderem entre árvores, e desde então a consciência exerce essa função dentro de cada um de nós. Na verdade, Adão tentou, como se fosse possível, esconder o pecado de Deus: Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio;” (Jó 31:33 e Gênesis 3:7). Nenhum pecado está oculto ante os olhos de Deus porque eles estão em todo lugar (Provérbios 15:3) e no dia do julgamento do juízo final Cristo julgará até os segredos dos homens (Romanos 2:16).

* Dicionário Vine

** Dicionário Strong

***© Texto bíblico: ACF – SBTB