Estudo Bíblico

A saída de Deus e a chegada do mal

A saída de Deus e a chegada do mal

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 5 Minutos

Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja pisada; E a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; porém crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela.” (Isaías 5:5-6).

Plantar uma vinha (hebr. “kerem”) na terra de Israel era algo trabalhoso. Começava na escolha de um local alto, geralmente na encosta de uma colina para favorecer a vigilância (Jeremias 31:5). Sua implantação envolvia preparativos e trabalhos árduos desde a retirada das pedras até a edificação da sua estrutura básica: construção de cerca, da torre de vigia e de lagar talhado na rocha para esmagamento das uvas (Mateus 21:33). O lagar é a prova da grande confiança e expectativa de bom resultado com que se planta uma vinha, pois nele passará todos os frutos bons que trará alegria ao dono, esperança concretizada pelo vinho que alegrava os corações.

Na parábola dos lavradores maus contada por Jesus a expectativa de frutos consistia no pagamento da renda da vinha (Mateus 21:34), confirmando que somente ficaremos na vinha se formos bons e zelosos em cumprirmos o pacto ou aliança que fizemos com o Senhor, bem como confirma também nossa vocação para a produção de frutos espirituais porque somos filhos da luz do Espírito que habita em nós – “(Porque o fruto do Espírito está em toda a bondade, e justiça e verdade);” (Efésios 5:9).

Depois de tudo isso, o trabalho com as podas da vide era permanente (Levítico 25:3) e esperava-se anos para a primeira colheita, algo tão importante em Israel que durante o tempo entre o plantio e a primeira colheita o dono da vinha estava dispensado do serviço militar (Deuteronômio 20:6), pois a vinha produtiva era símbolo das bênçãos de Deus – de fato, não é comum uma planta produzir frutos num solo rochoso, com pouca água. Igualmente, a vinha destruída ou minguada apontava para a reprovação e juízo divino sobre o povo por causa da desobediência aos mandamentos da lei (Deuteronômio 28:30, Isaías 16:10).

Aqui o Senhor está usando a analogia de alguém que plantou uma vinha, cercou o local com uma sebe para proteger dos ataques dos animais, a fim de dizer o que faria à nação de Israel, o povo que ele resgatou da escravidão do Egito e o plantou na terra onde habitavam os cananeus (Salmos 80:8-9). A vinha frutificou, tornou-se próspera e depois degenerou-se, como se fosse uma vide brava, produzindo frutos ruins (Jeremias 2:21). Somos ensinados que uma vinha se degenera quando nela é semeado diferentes espécies de semente (Deuteronômio 22:9), mistura que enfraquece a vide e depois põe a perder sua novidade ou a qualidade dos frutos produzidos.

Da mesma maneira a Igreja precisa semear só uma semente: a palavra da verdade do evangelho de Cristo, cuja mensagem principal é o arrependimento e a remissão de pecados pela fé em Cristo (Lucas 24:47), anunciando que Jesus ressuscitou da morte, vivo está à destra do Pai e voltará para buscar sua Igreja (I Ts 4:16-17). Este é o nosso trabalho na vinha do Senhor, pois a semente da verdade produz frutos por si só.

O profeta Isaías está dizendo que Deus desde o momento que libertou Israel do Egito ele o plantou como uma vinha sua – “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e esperou que exercesse juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor.” (Is 5:7) -, com a qual o Senhor teve grande zelo e trabalho à espera de que produzisse frutos, principalmente proclamando sua lei e vontade às demais nações, porém não foi isso que aconteceu, porquanto Israel ensoberbeceu e corrompeu-se com outras sementes deixando de cumprir o propósito divino, pois deixou o temor e a obediência à lei.

O Senhor havia feito tudo que se podia fazer para uma vinha produzir, contudo a mesma em vez de produzir uvas boas produziu uvas bravas, deixando-o decepcionado  – “Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas?” (Isaías 5:4). Uvas bravas ou amargas simbolizam os frutos espirituais inúteis produzidos por pessoas que desprezam a palavra e a presença de Deus.

Isaías pregava essa parábola para Judá, nação que há pouco tempo tinha visto a destruição de Israel (reino do Norte) por causa da desobediência a Deus, pois deixaram os caminhos do Senhor para seguir e adorar deuses pagãos, contudo Judá não se corrigiu e estava andando pelos mesmos caminhos de Israel, o que também atraiu o juízo divino – “Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja pisada;” (Isaías 5:5).

Quando Deus retira de sobre nós o seu olhar por causa da desobediência tudo se torna infrutífero e cessam suas bênçãos – “e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela.”, o que é catastrófico para qualquer alma, pois como se viverá sem paz, alegria, proteção e o amor de Deus?

O apóstolo Paulo alerta a Igreja a não imitar a geração de israelitas que peregrinou pelo deserto, a qual por causa da desobediência perdeu o direito ao descanso que Deus havia preparado – Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.” (Hebreus 3:12).

A misericórdia de Deus é o motivo de nós não sermos consumidos. Ele sempre avisa o povo por meio de profetas antes de enviar calamidades e juízos (Amós 3:7) e assim agiu com a rebelde Judá, avisando-lhe da iminente retirada da cerca e derrubada da parede que a circundavam, símbolos da proteção divina. Quando Deus retira sua proteção de alguém ou lugar o desastre é gigantesco porque o inimigo vem pra cima com toda sua força destrutiva e a vinha é “pisada” e vira “pasto”.

Uma das perguntas clássicas que fazem acerca de Deus é se ele também criou o mal. No capítulo 45:7 de Isaías o Senhor diz “eu crio o mal”, contudo na língua hebraica a melhor tradução para a palavra “mal” (hebr. “ra”) é calamidade ou adversidade, o que se harmoniza com o contexto da passagem, no qual a calamidade ou adversidade mencionada era permitir que as nações inimigas viessem destruir Israel.

O estado de calamidade (hebr. “ra”) consiste em estar suscetível ao poder do mal por falta de proteção divina. É uma condição de adversidade e desamparo espiritual, vez que as forças malignas encontram abertas as portas para atormentarem e destruírem impiedosamente os que não mais têm a proteção divina. Ou seja, Deus não cria o mal em essência, mas permite ou autoriza indiretamente suas consequências afastando de pessoas ou nações, ausência que atrai a escuridão das trevas, ao tempo que libera a ação do poder do mal pela falta da presença da luz divina. A Bíblia, por diversas vezes, diz não haver neutralidade espiritual; ou se está com o bem ou com mal.

A mensagem é clara: Sejam pessoas ou igrejas fomos plantados nesta terra por Deus com a expectativa de produzir bons frutos espirituais, por meio da justiça da fé na obra redentora de Cristo. Mas, se contrariarmos essa vontade do dono da vinha ele retirará a proteção concedida – o Espírito Santo – visto que o Senhor não permanece onde há pecados (Isaías 59:2), o que é uma forte exortação à obediência e à vida santa para não sentirmos as consequências amargas da vida que se afasta de Deus.

Está demonstrado nas Escrituras que todo convertido tem uma cerca e uma parede protetora ao redor da sua vida – “Pois eu, diz o Senhor, serei para ela um muro de fogo em redor, e para glória estarei no meio dela.” (Zacarias 2:5), que é o Espírito Santo derramado no coração dos santos e pelo qual fomos selados como propriedade de Deus (Romanos 5:5, Efésios 1:14).

Portanto, o mal chega e entra impiedosamente em alguém quando se vive só para si mesmo, pelas próprias forças físicas ou natureza carnal, desprezando a palavra de Deus. Aconteceu com Israel, Judá não se corrigiu e também perdeu a proteção divina. Indaga-se: Aprendemos esta lição ou vai ocorrer conosco?

Senhor, tenha misericórdia e não permita que jamais venhamos a se afastar da verdade e da glória que há em Cristo Jesus, nosso Senhor e Salvador!

*© Texto bíblico: ACF – SBTB