
Por que Jesus morreu nu na cruz do calvário?
“Então foram abertos os olhos de ambos,
e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e
fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava
no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da
presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor
Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar
no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” (Gênesis 3:7-10).
A veste (avental ou tanga) que
aparece em Jesus na cruz do calvário é uma aposição das pinturas artísticas
para esconder [respeitosamente] sua nudez, pois, em verdade o Senhor foi
crucificado sem qualquer roupa, porquanto a intenção da pena de crucificação,
reservada a criminosos cruéis, era humilhar ao máximo o condenado, verdadeira
execração pública que ia além da pena de morte. Expor as partes íntimas do
condenado publicamente causava repulsa que até afastava pessoas ligadas ao
condenado do local da crucificação por causa da nudez afrontosa do corpo
exposto.
Certo é que Jesus morreu
completamente nu na cruz, pois, a crucificação era uma pena executada pelos
romanos com a intenção humilhar publicamente o condenado. Porém, a questão
ganhou contornos de discussão teológica vez que no judaísmo andar nu para o
homem era andar de calção como fez Isaías ao andar e pregar nu durante três
anos encenando como o Egito e Cuxe (Etiópia) seriam levados nus (de calção)
pela Assíria – “Então disse o Senhor: Assim como o meu
servo Isaías andou três anos nu e descalço, por sinal e prodígio sobre o Egito
e sobre a Etiópia,” (Isaías 20:3).
Entanto, a crucificação
de Cristo uniu a realidade terrena e a realidade espiritual ou profética para
se cumprir tudo que sobre ele havia sido profetizado, como o Servo Sofredor (Is
52:14, 53:12). A lei romana ordenava que o condenado fosse despido aos pés da
cruz, logo se os soldados não a cumprisse rigorosamente seriam tidos por
insubordinados. A retirada das vestes de Jesus pelos soldados romanos está
registrada nos quatro evangelhos (Mateus 27:35, Marcos 15:24, Lucas 23:34 e
João 19:23).
Espiritualmente, nu
significa sem vestes de santidade e na desobediência a Deus – “Então foram abertos os olhos de ambos, e
conheceram que estavam nus” (Gênesis 3:7). Foram abertos (hebr. “paqah”) os olhos (hebr. “ayin”) significa que após descumprirem a
proibição divina de comer o fruto, num estalo muito rápido, como se fosse um
milagre, abriram-se os sentidos (“olhos
interiores”) de Adão e Eva cumprindo o que a Serpente lhes disse – “no dia em que dele comerdes se abrirão os
vossos olhos” (Gênesis 3:5) –, mas não para dar-lhes a superioridade espiritual
prometida na conversa enganosa, e sim para despertar-lhes suas consciências
acerca do bem e do mal, colocando-os numa situação de afronta a Deus. Nesse
momento ambos tiveram consciência da culpa do pecado, algo que eles nunca
tinham sentido dentro deles. Por isso que ao ouvirem a voz de Deus eles se
esconderam entre as árvores (Gênesis 3:8). Tarde demais para eles quando perceberam
que foram enganados pelo diabo!
Imediatamente após terem desobedecido a Deus,
Adão e Eva “conheceram que estavam nus”,
ou seja, o pecado fez-lhes perderam a pureza de consciência que não os
envergonhavam diante de Deus. Sentir-se nu é o mesmo que se ver exposto ao
julgamento divino ou da verdade por haver pecado contra Deus. Ninguém e nenhum
pecado fica oculto da onisciência divina. Todas as nossas iniquidades e nossos
pecados ocultos permanecem à luz do rosto de Deus (Salmos 90:8, Romanos 2:16). O pecador
é alguém que não tem vestes espirituais.
Jesus também usou a analogia do nu espiritual para falar do pecado da Igreja de Laodiceia – “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” (Apocalipse 3:17). Quem é santo usa vestes brancas e pode ou é digno de andar com Jesus Cristo (Apocalipse 3:4).
Mas, por que Jesus morreu nu?
Para tirar a vergonha e a humilhação que o pecado causou em Adão e Eva quando
desobedeceram e pecaram contra Deus (Gênesis 3:7). Adão, Eva e toda sua descendência
– nós mesmos! – fomos libertados da culpa vergonha do pecado.
Eles viviam nus (hebr. “arom”) em estado de inocência, sem se
acusarem de nada, como é próprio da intimidade que existe no matrimônio entre o
marido e a mulher. A nudez do casamento é aprovada por Deus, o que configura o
estado de inocência – “E
ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.” (Gênesis 2:25). Contudo, o pecado traz o
sentimento de culpa, que é a nudez vergonhosa, do medo ou da indecência (hebr.
“erwah”). E isso foi demonstrado
quando Adão disse que teve medo ao ouvir a voz de Deus e escondeu-se – “E ele disse: Ouvi a tua voz soar no
jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” Gênesis 3:10).
O pecado é acusado dentro da
consciência do pecador. Essa reação de Adão foi lembrada por Jó ao dizer que Aão tentou, como se fosse possível, esconder o
pecado de Deus: “Se, como Adão, encobri as minhas transgressões,
ocultando o meu delito no meu seio; Porque eu temia a grande multidão, e o
desprezo das famílias me apavorava, e eu me calei, e não saí da porta;” (Jó 31:33-34, Gênesis 3:7).
Toda tentativa de fugir da presença de Deus ou das consequências do pecado é
inútil, se não direcionar a busca para os pés da cruz de Cristo.
Mas, por que Adão diz que estavam nus se havia
feito aventais de folhas de figueira? Surpreendentemente Adão descobriu que as
folhas de figueiras resolveram o problema do pecado apenas para ele e para sua
esposa. Ambos se sentiam vestidos, mas quando Deus aparece no jardim
experimentou novamente a sensação de nudez (hebr. “arom”). Essas folhas de figueiras ou aventais representam as obras
do homem na tentativa de se livrar do pecado, mas é trabalho inútil diante de
Deus. A prática de obras humanas, ainda que sejam de boa índole, não preenche
sua necessidade de ser libertado da culpa e da condenação espiritual causada
pelo pecado.
O problema da desobediência do
primeiro casal só foi resolvido com o derramamento de sangue de animais –
prefigurando a morte inocente de Cristo no calvário – quando Deus matou animais
inocentes para lhes cobrir a nudez vergonhosa – “Fez
o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu.” (Gn
3:21). Aqui o Senhor Deus confirmou a vida e a morte de Cristo no calvário para
expiar o homem de todo pecado e vergonha infamante desde o Éden.
Toda vez que alguém
recebe perdão de pecados pela fé no sangue de Jesus Cristo, o pecador está
sendo poupado de derramar o próprio sangue e de se sujeitar à execração
interior e pública da vergonha e do medo provocados na alma humana pelo pecado.
A morte de Jesus na cruz redimiu-nos por completo de toda espécie de culpa,
quer seja física ou espiritual, seja interior ou exterior porque a regeneração
operada pelo Espírito Santo não deixa mancha alguma na alma do convertido.
Certo é que Jesus e seu
evangelho é a nossa paz e repouso: “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Só quem está
nele encontra libertação de todo medo, humilhação e vergonha que aflige a alma
do homem ou da mulher pecadores. Não há outro remédio igualmente não foi
possível a Adão e Eva livrarem-se da nudez com folhas de figueira – Ah, como um
pecador resiste entregar-se aos cuidados de Deus! Para encontrar a paz que sua
alma clama sem cessar o homem precisa deixar de ouvir a voz da Serpente e ouvir
unicamente a voz de Deus.
Louvado seja incessantemente
o nome de Jesus Cristo, nosso Redentor, por todos os homens, pelo que fez por
nós ao morrer na cruz em nosso lugar de forma tão humilhante e ainda nos deu a
esperança da vida eterna. Louvado seja para todo sempre.