Estudo Bíblico

Por que Jesus morreu nu na cruz do calvário?

Por que Jesus morreu nu na cruz do calvário?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.” (Gênesis 3:7-10).

A veste (avental ou tanga) que aparece em Jesus na cruz do calvário é uma aposição das pinturas artísticas para esconder [respeitosamente] sua nudez, pois, em verdade o Senhor foi crucificado sem qualquer roupa, porquanto a intenção da pena de crucificação, reservada a criminosos cruéis, era humilhar ao máximo o condenado, verdadeira execração pública que ia além da pena de morte. Expor as partes íntimas do condenado publicamente causava repulsa que até afastava pessoas ligadas ao condenado do local da crucificação por causa da nudez afrontosa do corpo exposto.

Certo é que Jesus morreu completamente nu na cruz, pois, a crucificação era uma pena executada pelos romanos com a intenção humilhar publicamente o condenado. Porém, a questão ganhou contornos de discussão teológica vez que no judaísmo andar nu para o homem era andar de calção como fez Isaías ao andar e pregar nu durante três anos encenando como o Egito e Cuxe (Etiópia) seriam levados nus (de calção) pela Assíria  – “Então disse o Senhor: Assim como o meu servo Isaías andou três anos nu e descalço, por sinal e prodígio sobre o Egito e sobre a Etiópia,” (Isaías 20:3).

Entanto, a crucificação de Cristo uniu a realidade terrena e a realidade espiritual ou profética para se cumprir tudo que sobre ele havia sido profetizado, como o Servo Sofredor (Is 52:14, 53:12). A lei romana ordenava que o condenado fosse despido aos pés da cruz, logo se os soldados não a cumprisse rigorosamente seriam tidos por insubordinados. A retirada das vestes de Jesus pelos soldados romanos está registrada nos quatro evangelhos (Mateus 27:35, Marcos 15:24, Lucas 23:34 e João 19:23).

Espiritualmente, nu significa sem vestes de santidade e na desobediência a Deus – “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus” (Gênesis 3:7). Foram abertos (hebr. “paqah”) os olhos (hebr. “ayin”) significa que após descumprirem a proibição divina de comer o fruto, num estalo muito rápido, como se fosse um milagre, abriram-se os sentidos (“olhos interiores”) de Adão e Eva cumprindo o que a Serpente lhes disse – “no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos” (Gênesis 3:5) –, mas não para dar-lhes a superioridade espiritual prometida na conversa enganosa, e sim para despertar-lhes suas consciências acerca do bem e do mal, colocando-os numa situação de afronta a Deus. Nesse momento ambos tiveram consciência da culpa do pecado, algo que eles nunca tinham sentido dentro deles. Por isso que ao ouvirem a voz de Deus eles se esconderam entre as árvores (Gênesis 3:8). Tarde demais para eles quando perceberam que foram enganados pelo diabo!

Imediatamente após terem desobedecido a Deus, Adão e Eva “conheceram que estavam nus”, ou seja, o pecado fez-lhes perderam a pureza de consciência que não os envergonhavam diante de Deus. Sentir-se nu é o mesmo que se ver exposto ao julgamento divino ou da verdade por haver pecado contra Deus. Ninguém e nenhum pecado fica oculto da onisciência divina. Todas as nossas iniquidades e nossos pecados ocultos permanecem à luz do rosto de Deus (Salmos 90:8, Romanos 2:16). O pecador é alguém que não tem vestes espirituais.

Jesus também usou a analogia do nu espiritual para falar do pecado da Igreja de Laodiceia – “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” (Apocalipse 3:17). Quem é santo usa vestes brancas e pode ou é digno de andar com Jesus Cristo (Apocalipse 3:4).

Mas, por que Jesus morreu nu? Para tirar a vergonha e a humilhação que o pecado causou em Adão e Eva quando desobedeceram e pecaram contra Deus (Gênesis 3:7). Adão, Eva e toda sua descendência – nós mesmos! – fomos libertados da culpa vergonha do pecado.

Eles viviam nus (hebr. “arom”) em estado de inocência, sem se acusarem de nada, como é próprio da intimidade que existe no matrimônio entre o marido e a mulher. A nudez do casamento é aprovada por Deus, o que configura o estado de inocência – “E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam. (Gênesis 2:25). Contudo, o pecado traz o sentimento de culpa, que é a nudez vergonhosa, do medo ou da indecência (hebr. “erwah”). E isso foi demonstrado quando Adão disse que teve medo ao ouvir a voz de Deus e escondeu-se – “E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.Gênesis 3:10).

O pecado é acusado dentro da consciência do pecador. Essa reação de Adão foi lembrada por Jó ao dizer que Aão tentou, como se fosse possível, esconder o pecado de Deus: Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio; Porque eu temia a grande multidão, e o desprezo das famílias me apavorava, e eu me calei, e não saí da porta;” (Jó 31:33-34, Gênesis 3:7). Toda tentativa de fugir da presença de Deus ou das consequências do pecado é inútil, se não direcionar a busca para os pés da cruz de Cristo.

Mas, por que Adão diz que estavam nus se havia feito aventais de folhas de figueira? Surpreendentemente Adão descobriu que as folhas de figueiras resolveram o problema do pecado apenas para ele e para sua esposa. Ambos se sentiam vestidos, mas quando Deus aparece no jardim experimentou novamente a sensação de nudez (hebr. “arom”). Essas folhas de figueiras ou aventais representam as obras do homem na tentativa de se livrar do pecado, mas é trabalho inútil diante de Deus. A prática de obras humanas, ainda que sejam de boa índole, não preenche sua necessidade de ser libertado da culpa e da condenação espiritual causada pelo pecado.

O problema da desobediência do primeiro casal só foi resolvido com o derramamento de sangue de animais – prefigurando a morte inocente de Cristo no calvário – quando Deus matou animais inocentes para lhes cobrir a nudez vergonhosa – “Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu.” (Gn 3:21). Aqui o Senhor Deus confirmou a vida e a morte de Cristo no calvário para expiar o homem de todo pecado e vergonha infamante desde o Éden.

Toda vez que alguém recebe perdão de pecados pela fé no sangue de Jesus Cristo, o pecador está sendo poupado de derramar o próprio sangue e de se sujeitar à execração interior e pública da vergonha e do medo provocados na alma humana pelo pecado. A morte de Jesus na cruz redimiu-nos por completo de toda espécie de culpa, quer seja física ou espiritual, seja interior ou exterior porque a regeneração operada pelo Espírito Santo não deixa mancha alguma na alma do convertido.

Certo é que Jesus e seu evangelho é a nossa paz e repouso: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32). Só quem está nele encontra libertação de todo medo, humilhação e vergonha que aflige a alma do homem ou da mulher pecadores. Não há outro remédio igualmente não foi possível a Adão e Eva livrarem-se da nudez com folhas de figueira – Ah, como um pecador resiste entregar-se aos cuidados de Deus! Para encontrar a paz que sua alma clama sem cessar o homem precisa deixar de ouvir a voz da Serpente e ouvir unicamente a voz de Deus.

Louvado seja incessantemente o nome de Jesus Cristo, nosso Redentor, por todos os homens, pelo que fez por nós ao morrer na cruz em nosso lugar de forma tão humilhante e ainda nos deu a esperança da vida eterna. Louvado seja para todo sempre.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB