Estudo Bíblico

Paulo faz um esboço das falsas religiões analisando o Gnosticismo

Paulo faz um esboço das falsas religiões analisando o Gnosticismo

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Ninguém vos domine a seu arbítrio com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando em vão inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus.” (Colossenses 2:18-19).

O problema das falsas religiões e seitas no meio evangélico é antigo e de difícil solução, pois os que se convertem ao Cristianismo imaginam que todos as denominações ensinam somente textos das Escrituras sagradas, porém desconhecem que no meio dos cristãos há grupos que pregam heresias e doutrinas estranhas, fazendo uma semeadura da verdade com a mistura de outras sementes que degeneram o fruto produzido (Deuteronômio 22:9). Basta olhar a quantidade de ministérios estéreis espiritualmente ou dando frutos diferentes do que se esperava. Na parábola do semeador Deus não deu várias sementes ao semeador, mas apenas uma semente: a palavra de Deus – “logos tou Theou (Lucas 8:11).

O apóstolo Paulo descreveu as falsas religiões por dentro e por fora quando rejeitou a doutrina gnóstica na igreja dos colossenses. Primeiramente, a falsa religião é heterodoxa ou herética, apegando-se a ensino próprio afrontador dos conceitos e padrão do Cristianismo. Elas apresentam uma novidade, algo novo “pescado” nas profundezas da mente de quem as concebeu. Invocando uma visão iluminada pelo conhecimento o gnosticismo pregava basicamente o culto a anjos e considerava que o corpo por ser matéria, seu uso na prática de pecados, não influenciava a salvação do espírito. Isso é heresia diante da palavra sagrada da Bíblia, onde só devemos prestar culto a Deus, jamais a anjos ou qualquer outra criatura – “Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.” (Mt 4:10, Gálatas 1:8). O mesmo se dá com a santidade, a qual deve abranger a plenitude da pessoa humana – espírito, alma e corpo -, do contrário não se permanece diante de Deus – “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Ts 5:23).

Então, o apóstolo apontou como primeira característica da falsa religião o ensino de doutrina própria e textos extra bíblicos. Geralmente dizem que o fundador da religião falsa ou seita recebeu a doutrina ou ensino extra diretamente de Cristo. Se a igreja estudar qualquer outro livro ou fonte de consulta além da Bíblia, como parte de sua edificação espiritual, é herética.

Qual é o problema espiritual em estudar doutrinas extras? Para quem “acrescenta” algo na Bíblia é dito que virá sobre ele as pragas do Apocalipse e para quem “tira” dela algum texto o castigo é ter seu nome retirado do livro da vida e sua parte da cidade santa (Apocalipse 22:18-19).

Este elemento interno da falsa religião, sua doutrina e ensino extra bíblico, complementa-se e torna-se de visível aparência no legalismo que lhes dá suporte – “Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” (Cl 2:21-23).

Portanto, as regras particulares aos membros e costumes singulares são manifestações da exclusividade de crença no meio cristão, imagem concreta da religiosidade que se vive internamente. É destes dois modos básicos que comumente se organizam as falsas religiões, interna e externamente, com suas práticas ritualistas e o aperfeiçoamento espiritual dependentes da sabedoria humana, jamais da pura e suficiente verdade do evangelho de Cristo, razão pela qual considerável parte do tempo de ensino e adoração são consumidos com atos, ensinos e doutrinas extra bíblicas, ainda que expostas disfarçadamente.

Nos versículos 16 e 18 (Colossenses 2:16) Paulo usa os termos “ninguém vos julgue” (greg. “krino”) e “ninguém vos domine” (greg. “katabrabeuo”) instruindo os crentes a não aceitarem que qualquer pessoa venha a se colocar na posição de árbitro para decidir contra alguém que vive de acordo com o evangelho, pois isso equivaleria perder a salvação por meio de uma fraude, de um engano espiritual. É um chamado à apologética cristã. A repetição de “ninguém” reforça a impossibilidade de se ouvir a verdade por meio de outra fonte ou doutrina, pois a verdade única é a palavra do evangelho de Cristo. Só nele há perfeita compreensão (greg. “nous”) da verdade espiritual e do real propósito pelo qual Deus criou o homem e o predestinou à vida eterna. O apóstolo João combateu mais fortemente os fundamentos doutrinários básicos do Gnosticismo em sua Primeira Carta (I João 1:5-10:22-23, 4:1-3, 5:5-6).

Somos instruídos que o conhecimento da palavra dá convicção à fé, certeza, coragem e segurança aos cristãos, fazendo crescer e aperfeiçoar-se (greg. “teleioo”) cada vez mais quanto maior for a comunhão com o Espírito Santo, o qual além de consolador é o nosso guia neste mundo para as coisas espirituais. Os frutos espirituais dependem desse crescimento espiritual. Do contrário, havendo pouco tempo para o estudo da palavra e da doutrina, as coisas do mundo sufocam a vida espiritual como os espinhos sufocam e impedem o crescimento das plantas (Mateus 13:22). Esta é a principal razão pela qual boa parte dos membros das falsas religiões dependem de libertação espiritual, porquanto tornaram-se religiosos, mas carecem da espiritualidade autêntica com base no poder do evangelho de Cristo, o qual se manifesta na igreja pelos dons do Espírito Santo. Crentes oprimidos, deprimidos e doentes sinalizam vida em miséria espiritual – “E a minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder; Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (I Co 2:4-5).

A religião é falsa porque não é autêntica ou pura. O ouro puro não é maleável. Para se fazer a aliança ou joia mistura-se o ouro com outros metais para se formar uma liga maleável - é o ouro de 18 quilates (75% de ouro e 25% outros metais). Ora, religião autêntica não é maleável, não se deforma nem se mistura para agradar gostos e desejos.

O que temos presenciado é as falsas religiões cristãs fazendo um proselitismo agressivo para captar seguidores por meio de marketing, internet, redes sociais e até ocupando praças, esquinas e ruas movimentadas em busca de crescimento numérico, proatividade que mais se assemelham com empresas comerciais do que com uma evangelização para proclamar as mensagens de boas novas da salvação. É uma avidez por seguidores que dá para desconfiar! No primeiro contato elas apresentam Jesus e o seu evangelho, contudo escondem seus livros e doutrinas heréticas que serão ensinados juntamente com a palavra da verdade. Fuja delas – Sola Scriptura!

A distinção simples e precisa que Paulo fez para se identificar uma falsa religião, ensino primário de grande valor teológico, consistente no aspecto interior (doutrina e ensino extra bíblico) e no aspecto exterior (regras próprias, exclusividade entre os demais cristãos) possibilita qualquer cristão ou interessado na fé em Cristo observar esses elementos e deixá-la de lado se não quiser não ter sérios problemas na eternidade – “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.” (Mateus 23:15).

Cristo é a cabeça da Igreja – “E ele é a cabeça do corpo, da igreja (Cl :18) e quem está nele não recebe nenhum ensino ou conselho que esteja fora das Escrituras, ainda que apresentados revestidos de aparente religiosidade, nem mesmo que um anjo do céu venha anunciá-los.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB