Estudo Bíblico

O que é “morrer” com Cristo?

O que é “morrer” com Cristo?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6:3-4).

Na expressão “quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” (Romanos 6:3) o termo “ebaptisthemen eis” (greg. “εβαπτισθημεν εις”), tem o verbo grego batizar (greg. “baptizo”) no indicativo aoristo, significando literalmente “batizado em” nome de alguém [esse alguém é Cristo]. O verbo batizar (“baptizo”) seguido da preposição grega “eis”, a qual tem o sentido de “para, para dentro ou com o propósito”, significa que a profissão de fé – no ato de conversão - foi feita com o propósito sincero de obedecer a Cristo, havendo uma identificação do convertido com a morte e a ressurreição do Senhor, com quem o novo crente sente-se estreitamente ligado.

Ou seja, quem se batiza na água o faz relembrando o que Cristo fez no calvário – morreu puro e imaculado pelos pecados de toda a humanidade (Romanos 4:25, I João 2:2, Apocalipse 1:5) – e ao mesmo tempo, pela fé, o batizando apropria-se dos benefícios da sua morte vicariante ou substitutiva. Por isso que se diz que o batismo se faz “em nome de Jesus” ( Mateus 28:19, Atos 8:16). A invocação do nome de Jesus pelo convertido tem o poder de colocá-lo debaixo do senhorio e da autoridade espiritual de Cristo.

Normalmente primeiro se dá o batismo “bapto”, onde ocorre a “morte a seco” exatamente no momento da conversão, podendo ser na igreja, hospital, em casa ou rua, e a mesma é feita invocando o nome de Cristo como Senhor e salvador, ou melhor, invocando os benefícios de sua morte, o que espiritualmente equivale a morrer com ele. A partir desse momento o Espírito Santo assume a obra de santificação na vida do convertido, fortalecendo a fé e dando-lhe discernimento espiritual. Entrementes, o segundo batismo (“baptizo”) é o batismo da “morte molhada”, feito na água, como simbolismo do batismo “a seco” anteriormente feito, servindo como admissão do batizado ao corpo de Cristo ou igreja, realizado mediante confissão pública. A língua grega usa a palavra “baptisma” para se referir a esse ritual solene do batismo cristão, que é a ordenança, no qual o novo convertido é imergido na água publicamente.

O primeiro batismo salva a alma (“bapto”), o segundo não salva (“baptizo”). Por exemplo, o bandido da cruz fez só o primeiro batismo crendo em Jesus – “E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando vieres em teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:42-43, Atos 8:31). Ele foi salvo porque creu que Jesus é o Filho de Deus, mesmo não tendo feito o batismo ritual (“baptizo”) ou na água. Quando a profissão de fé em Cristo e o batismo na água são concomitantes os textos bíblicos usam “baptizo” (Marcos 16:16, Atos 8:36-38).

Esta necessidade de “morrer” representa fortemente a ideia da perda de controle que o pecado tinha sobre a vida antiga do convertido, a velha natureza pecaminosa (II Co 4:11), mas isso não é obra humana e sim do Espírito Santo (Romanos 8:13). Se não morrermos com Cristo o poder do pecado não se interrompe e permanece sua influência maligna em nossa vida carnal (Romanos 8:10). O pecado foi morto na cruz do calvário, daí a necessidade também da morte do velho homem. E mais: quem não participa da morte de Cristo não vive em novidade vida, não tem novo nascimento nem se torna nova criatura.

Morrer com Cristo é o mesmo que invocá-lo para ser salvo – “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Romanos 10:13, Atos 2:21).

Paulo complementa a estrutura dessa nova vida dizendo que “os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.” (Gálatas 5:24). Fisicamente nenhum homem foi pendurado numa cruz, contudo nossa crucificação em Cristo opera-se pela fé e desfaz o homem do pecado como se desintegrava o corpo crucificado que ficava pendurado na cruz (Romanos 6:6). Foi por isso Cristo que viveu entre nós em semelhança da carne para condenar o pecado na carne (Romanos 8:2 e II Co 5:21), benefício que dele se apropria todo cristão que anda em Espírito para mortificar as obras da carne.

A necessidade de morrermos para o mundo e para a carne é uma constante no evangelho e nas cartas paulinas: “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.” (Colossenses 2:12 e Mateus 10:39:25).

O apóstolo Pedro faz uma metáfora elucidativa associando a água do dilúvio com a água do batismo. Ele diz que nos dias de Noé, a longanimidade de Deus esperou o arrependimento dos rebeldes daquela geração por muito tempo (120 anos), contudo apenas oito almas – só a família de Noé – salvaram-se pela água [do dilúvio], bem como que essa água foi uma figura ou símbolo da salvação que se operaria na vida dos homens pelo batismo na morte de Cristo – morte da velha natureza que abrigava o pecado e ressuscitamento em novidade de vida para se viver com o Cristo ressuscitado (Romanos 6:3-5) -, não da morte simbólica pelo batismo da água, representando sua conversão e morte para o mundo. O apóstolo também deixou claro que o batismo na água não purifica a alma do batizado: “Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;” (I Pd 3:21). O termo “não do despojamento da imundícia da carne” refere-se à incapacidade do batismo na água de purificar e salvar a alma.

A alma do batizado foi salva desde o momento em que ele, mediante a fé, creu em Cristo e fez sua profissão (Romanos 10:9-10. Mas, esse batismo manifesta-se como um ato de consciência (greg. “suneidesis”) no sentido de que o batizado está fazendo algo agradável a Deus, pois o batismo é uma das ordenanças deixadas por Cristo (a outra ordenança é a ceia do Senhor). Significa ainda que o batizado tem entendimento acerca do é “moralmente bom e mal, impulsando-se para fazer o primeiro e evitar o último, glorificando um, condenando o outro” (Strong), compromisso que assume para viver em novidade de vida, para a qual foi ressuscitado com Cristo, pois uma alma morta não pode interagir com o Cristo ressuscitado, ambos, Cristo e alma do salvo, precisam estar ressuscitados para Cristo guie à vida eterna, como Bom Pastor, aquele que se salvou por meio da fé. Isso é o significado do termo “mas da indagação de uma boa consciência para com Deus”, no qual a palavra indagação (greg. “eperotema”) tem o sentido de apelo, ânsia, desejo intenso, busca exaustiva de fazer aquilo que obedece a Deus.

Ou seja, a vida de crente batizado é um compromisso de santificação pessoal em Cristo, de comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e ao mesmo tempo de viver dentro de uma comunidade cristã (igreja local), na mesma proporção e grandeza com que Cristo andou com seus discípulos sem pecar depois que foi batizado por João Batista, “o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gálatas 2:20).

*Dicionário Strong

**© Texto bíblico: ACF – SBTB