
O que é “morrer” com Cristo?
“Ou não sabeis que todos quantos fomos
batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que
fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós
também em novidade de vida.” (Romanos 6:3-4).
Na expressão “quantos fomos batizados em Jesus Cristo
fomos batizados na sua morte?” (Romanos 6:3) o termo “ebaptisthemen eis” (greg. “εβαπτισθημεν
εις”), tem o verbo grego batizar (greg. “baptizo”) no indicativo aoristo, significando literalmente “batizado em” nome de alguém [esse alguém
é Cristo]. O verbo batizar (“baptizo”) seguido da preposição grega “eis”, a qual tem o sentido de “para, para dentro ou com o propósito”, significa
que a profissão de fé – no ato de conversão - foi feita com o propósito sincero
de obedecer a Cristo, havendo uma identificação do convertido com a morte e a
ressurreição do Senhor, com quem o novo crente sente-se estreitamente ligado.
Ou seja, quem se batiza
na água o faz relembrando o que Cristo fez no calvário – morreu puro e
imaculado pelos pecados de toda a humanidade (Romanos 4:25, I João 2:2, Apocalipse 1:5) – e ao
mesmo tempo, pela fé, o batizando apropria-se dos benefícios da sua morte
vicariante ou substitutiva. Por isso que se diz que o batismo se faz “em nome de Jesus” ( Mateus 28:19, Atos 8:16).
A invocação do nome de Jesus pelo convertido tem o poder de colocá-lo debaixo do
senhorio e da autoridade espiritual de Cristo.
Normalmente primeiro se
dá o batismo “bapto”, onde ocorre a “morte a seco” exatamente no momento da
conversão, podendo ser na igreja, hospital, em casa ou rua, e a mesma é feita
invocando o nome de Cristo como Senhor e salvador, ou melhor, invocando os
benefícios de sua morte, o que espiritualmente equivale a morrer com ele. A
partir desse momento o Espírito Santo assume a obra de santificação na vida do
convertido, fortalecendo a fé e dando-lhe discernimento espiritual.
Entrementes, o segundo batismo (“baptizo”)
é o batismo da “morte molhada”, feito
na água, como simbolismo do batismo “a seco” anteriormente feito, servindo como
admissão do batizado ao corpo de Cristo ou igreja, realizado mediante confissão
pública. A língua grega usa a palavra “baptisma”
para se referir a esse ritual solene do batismo cristão, que é a ordenança, no
qual o novo convertido é imergido na água publicamente.
O primeiro batismo
salva a alma (“bapto”), o segundo não
salva (“baptizo”). Por exemplo, o
bandido da cruz fez só o primeiro batismo crendo em Jesus – “E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim,
quando vieres em teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje
estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:42-43, Atos 8:31). Ele foi salvo porque
creu que Jesus é o Filho de Deus, mesmo não tendo feito o batismo ritual (“baptizo”) ou na água. Quando a profissão
de fé em Cristo e o batismo na água são concomitantes os textos bíblicos usam “baptizo” (Marcos 16:16, Atos 8:36-38).
Esta necessidade de “morrer” representa fortemente a ideia da perda de controle que o pecado tinha sobre a vida antiga do convertido, a velha natureza pecaminosa (II Co 4:11), mas isso não é obra humana e sim do Espírito Santo (Romanos 8:13). Se não morrermos com Cristo o poder do pecado não se interrompe e permanece sua influência maligna em nossa vida carnal (Romanos 8:10). O pecado foi morto na cruz do calvário, daí a necessidade também da morte do velho homem. E mais: quem não participa da morte de Cristo não vive em novidade vida, não tem novo nascimento nem se torna nova criatura.
Morrer com Cristo é o mesmo que invocá-lo para ser salvo – “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Romanos 10:13, Atos 2:21).
Paulo
complementa a estrutura dessa nova vida dizendo que “os que são de Cristo crucificaram a
carne com as suas paixões e concupiscências.” (Gálatas 5:24). Fisicamente
nenhum homem foi pendurado numa cruz, contudo nossa crucificação em Cristo
opera-se pela fé e desfaz o homem do pecado como se desintegrava o corpo
crucificado que ficava pendurado na cruz (Romanos 6:6). Foi por isso Cristo que
viveu entre nós em semelhança da carne para condenar o pecado na carne (Romanos 8:2
e II Co 5:21), benefício que dele se apropria todo cristão que anda em Espírito
para mortificar as obras da carne.
A necessidade de morrermos para o mundo e
para a carne é uma constante no evangelho e nas cartas paulinas: “Sepultados
com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o
ressuscitou dentre os mortos.” (Colossenses 2:12
e Mateus 10:39:25).
O
apóstolo Pedro faz uma metáfora elucidativa associando a água do dilúvio com a
água do batismo. Ele diz que nos dias de Noé, a longanimidade de Deus esperou o
arrependimento dos rebeldes daquela geração por muito tempo (120 anos), contudo
apenas oito almas – só a família de Noé – salvaram-se pela água [do dilúvio], bem
como que essa água foi uma figura ou símbolo da salvação que se operaria na
vida dos homens pelo batismo na morte de Cristo – morte da velha natureza que
abrigava o pecado e ressuscitamento em novidade de vida para se viver com o
Cristo ressuscitado (Romanos 6:3-5) -, não da morte simbólica pelo batismo da água,
representando sua conversão e morte para o mundo. O apóstolo também deixou
claro que o batismo na água não purifica a alma do batizado: “Que também, como uma verdadeira figura,
agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da
indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus
Cristo;” (I Pd 3:21). O termo “não
do despojamento da imundícia da carne” refere-se à incapacidade do batismo
na água de purificar e salvar a alma.
A alma do batizado foi
salva desde o momento em que ele, mediante a fé, creu em Cristo e fez sua
profissão (Romanos 10:9-10. Mas, esse batismo manifesta-se como um ato de
consciência (greg. “suneidesis”) no
sentido de que o batizado está fazendo algo agradável a Deus, pois o batismo é
uma das ordenanças deixadas por Cristo (a outra ordenança é a ceia do Senhor). Significa
ainda que o batizado tem entendimento acerca do é “moralmente bom e mal, impulsando-se para fazer o primeiro e evitar o
último, glorificando um, condenando o outro” (Strong), compromisso que
assume para viver em novidade de vida, para a qual foi ressuscitado com Cristo,
pois uma alma morta não pode interagir com o Cristo ressuscitado, ambos, Cristo
e alma do salvo, precisam estar ressuscitados para Cristo guie à vida eterna,
como Bom Pastor, aquele que se salvou por meio da fé. Isso é o significado do
termo “mas da indagação de uma boa
consciência para com Deus”, no qual a palavra indagação (greg. “eperotema”) tem o sentido de apelo,
ânsia, desejo intenso, busca exaustiva de fazer aquilo que obedece a Deus.
Ou
seja, a vida de crente batizado é um compromisso de santificação pessoal em
Cristo, de comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo e ao mesmo tempo de
viver dentro de uma comunidade cristã (igreja local), na mesma proporção e
grandeza com que Cristo andou com seus discípulos sem pecar depois que foi
batizado por João Batista, “o qual
me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gálatas 2:20).
*Dicionário Strong