Estudo Bíblico

A oração pela cura de doentes e a confissão de pecado

A oração pela cura de doentes e a confissão de pecado

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração do justo pode muito em seus efeitos.” (Tiago 5:14-16).

Indaga-se: Na oração intercessória é necessário conhecer o pecado ou a causa pecaminosa que aflige a alma da pessoa por quem se ora? Não há ordem bíblica expressa que, antes da oração por alguém, se saiba pelo que se vai orar, porém muitas vezes ocorre a revelação espontânea do motivo da oração por parte daquele que pede a oração, o que robustece o clamor a Deus da parte de quem intercede pelo doente ou aflito.

Por isso se recomenda que a pessoa que vai receber oração previamente confesse a Deus seu pecado, pois a confissão da culpa leva ao perdão e isso tem eficácia no poder da oração como diz o texto de Tiago em destaque. Na verdade, a confissão interpõe-se como condição de eficácia da oração que será feita. Irmãos e irmãs, voltem a atenção para esse detalhe: “A oração salvará o doente” indica claramente que deverá haver arrependimento e confissão porque ninguém poderá ser salvo em pecado, podendo se ver que a preocupação divina vai além da cura física, estendendo-se à salvação espiritual da pessoa que recebe a oração de cura – os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus (Isaías 59:2).

Também onde se diz “e se houver cometido pecado” em relação à pessoa do doente (greg. “kamnonta”), a ênfase recai mais sobre sua condição de pecador do que se eventualmente tenha cometido pecados. Feita a confissão de pecados, eles são perdoados, removendo-se os obstáculos espirituais à concessão da cura divina, pois o perdão (greg. “aphesis”) liberta o pecador de maldições e amarras espirituais, livrando-o da escravidão ou prisão que lhe oprime, vez que a remissão apaga os pecados da consciência - não da memória, ainda poderão ser eventualmente lembrados - como se eles nunca tivessem sido cometidos, logicamente se o arrependimento for verdadeiro. Desaparece a culpa do erro ou do pecado, pois a consciência perde o sentimento da culpa pela presença do refrigério espiritual proporcionado pelo perdão divino. Não é mágica, mas é algo do sobrenatural divino, incompreensível pela lógica humana e desfrutável somente pelos que têm fé em Deus.

Importa reafirmar que a confissão entre irmãos na igreja é um tipo especial de confissão de culpa distinta da confissão geral de pecados (Romanos 10:9-10), ficando bem entendido no texto bíblico ser uma condição para que a oração de uns pelos outros tenha eficácia no meio da igreja. A regra da prática espiritual diz que todo aquele que confessa suas transgressões e deixa alcança misericórdia (Provérbios 28:13 e Juízes 10:15-16), daí a principal razão da necessidade da confissão antes da oração por cura, quer entre irmãos ou inconvertidos.

A palavra da sabedoria deixa claro não ser bom manter-se na prática de pecado habitual, cometendo-o reiteradamente como se não se importasse – “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio. (Provérbios 29:1), pois isso atrai fracassos e bloqueios, daí ser necessário arrepender-se dele, confessar e deixá-lo para sempre, única maneira de se afastar da ira de Deus e atrair sua misericórdia e proteção.

A quem devemos confessar nossos pecados? A confissão de pecado se faz a Deus, em nome de Jesus Cristo, porque com ele está o perdão que necessitamos para se livrar da maldição e da culpa espiritual (Sl 130:4 e I João 1:9). Confessar pecado torna-se natural ao cristão que não quer perder a comunhão com Deus, pois além de evitar o esfriamento espiritual e o rompimento do relacionamento com Deus, a confissão é um instrumento de limpeza espiritual da alma manchada pela culpa do pecado, porquanto aquele que encobre suas transgressões não prosperará, “mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” (Provérbios 28:13).

A inconfissão de pecados – “se dissermos que não temos pecados” (I João 1:8:6, 8) – é o estado de quem vive pecando ou em pecado habitual, que não se importa em ofender a lei de Deus com sua conduta nem com as consequências espirituais da maldição pecado, ao passo o ato particular do pecado isolado ou o pecado eventual consiste no pecado praticado por pessoas já convertidas, surgindo como um tropeço ou erro no caminho da fé (I João 1:10). O pecado não é mais um hábito em sua nova vida porque ele permanece em Cristo, e assim também não mais aceita permanecer nas trevas da iniquidade nem no engano do pecado.

Se pecarem, o homem ou a mulher que já foram regenerados pelo Espírito Santo, cabe-lhes imediatamente confessarem e abandonarem o pecado que os fizeram tropeçar (I João 1:9), pois conhecem a Deus e sabem que suas vidas sem ele não valem nada e perto estão do juízo e da destruição eterna. Qualquer crente, até mesmos os líderes cristãos, precisam confessar pecados acidentais como ensina o apóstolo João quando diz “temos um advogado” (I João 2:1), especialmente porque Deus não faz acepção de pessoas, pois referido apóstolo incluiu ele próprio entre os que precisariam pedir perdão em nome de Jesus ao dizer “se alguém pecar” (I João 2:1).

Cabe uma análise do verbo pecar. No termo “se alguém pecar” (“ean tis hamarte”) o verbo pecar na língua grega está no modo subjuntivo aoristo, o que retira a habitualidade do pecado da vida dos filhos de Deus, ficando a possibilidade, como é próprio do modo subjuntivo indicar uma ação possível, incerta ou duvidosa, onde a mesma pode ou não ocorrer, a depender das circunstâncias. Então, em tradução livre pode ser dito: “Vocês não são como aqueles que vivem pecando, mas se eventualmente alguém vier a pecar temos um Advogado...”. Foi dito expressamente pelo apóstolo João que o pecado não mais faz parte da vida dos irmãos em Cristo, contudo o pecado pode surgir no caminho de um convertido como acidente, e, nesse caso, Cristo é o nosso advogado diante do Pai.

Na velha aliança o profeta Daniel também declarou que, como servo fiel, também pecava diante de Deus – “porque pecamos contra ti” (Daniel 9:8), porquanto sabia que não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” (Eclesiastes 7:20). Um profeta e um apóstolo, dois homens de grande santidade e comunhão com Deus, admitem que algum momento da caminhada podemos escorregar espiritualmente. O pecado habitual ou estado pecaminoso (I Jo 1:8) difere do pecado eventual ou do ato pecaminoso (I João 1:10), contudo ambos têm que ser confessados e abandonados porque nenhum dos dois pode fazer parte da vida cristã.

Logo, qualquer convertido poderá recorrer a Cristo tantas vezes quantos forem os pecados eventuais ou acidentais cometidos como ovelha do rebanho do Senhor. Cristo é o nosso bom pastor e também o nosso advogado, porém o perdão divino vem de Deus, por meio da intercessão do Filho que está à direita do Pai – “O Justo, o Sumo Sacerdote Eterno” -, exatamente como o advogado faz um pedido na defesa do acusado diante do acusador (Satanás).

A palavra no novo testamento diz que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23), e já na velha aliança ensinava que ainda que se trate de alguém que faça o bem, ele vai pecar e precisará pedir perdão (Ec 7:20b e I João 1:8). Ao usar o termo “temos um Advogado para com o Pai” (I João 2:1) o apóstolo João novamente inclui a si mesmo na possibilidade de cometer pecado e necessitar da intercessão de Cristo (o Advogado) para ser perdoado pelo Pai. O perdão recebido de Deus pela fé em Jesus Cristo é a única maneira de não permanecer no pecado: “Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.” (I João 3:6).

Permanecer em Deus é sinônimo de guardar os seus mandamentos (I João 3:24), pois o Espírito Santo habita em quem cumpre sua palavra, porquanto o Pai e o Filho visitam ou operam em quem se santificou como morada do Espírito Santo. Prestem atenção neste detalhe: Quem guarda os mandamentos divinos permanece em Deus e tem o Espírito Santo, porém quem guarda sua palavra – o que abrange a totalidade da Escritura, observância que vai além dos mandamentos – não só permanece nele como o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele.” (I João 2:5). Noutras palavras, guardar os mandamentos é condição para se manter em relacionamento com Deus, contudo o amor de Deus é aperfeiçoado na vida dos crentes que se esforçam para guardar toda sua palavra.

Irmãos e irmãs, não deixem nenhuma área de suas vidas fora da presença de Deus, entreguem tudo a Ele, pois ele sabe o que é melhor para nossas vidas e assim teremos saúde física e espiritual até a vinda ou o encontro com o Senhor Jesus – “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.(I Ts 5:23).

*© Texto bíblico: ACF – SBTB