
A oração pela cura de doentes e a confissão de pecado
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da
igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor;
E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se
houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas
uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração
do justo pode muito em seus efeitos.” (Tiago 5:14-16).
Indaga-se: Na oração
intercessória é necessário conhecer o pecado ou a causa pecaminosa que aflige a
alma da pessoa por quem se ora? Não há ordem bíblica expressa que, antes da oração
por alguém, se saiba pelo que se vai orar, porém muitas vezes ocorre a
revelação espontânea do motivo da oração por parte daquele que pede a oração, o
que robustece o clamor a Deus da parte de quem intercede pelo doente ou aflito.
Por isso se recomenda que a
pessoa que vai receber oração previamente confesse a Deus seu pecado, pois a
confissão da culpa leva ao perdão e isso tem eficácia no poder da oração como
diz o texto de Tiago em destaque. Na verdade, a confissão interpõe-se como
condição de eficácia da oração que será feita. Irmãos e irmãs, voltem a atenção
para esse detalhe: “A oração salvará o
doente” indica claramente que deverá haver arrependimento e confissão
porque ninguém poderá ser salvo em pecado, podendo se ver que a preocupação
divina vai além da cura física, estendendo-se à salvação espiritual da pessoa
que recebe a oração de cura – os nossos pecados fazem separação entre nós e
Deus (Isaías 59:2).
Também onde se diz “e se houver cometido pecado” em relação
à pessoa do doente (greg. “kamnonta”),
a ênfase recai mais sobre sua condição de pecador do que se eventualmente tenha
cometido pecados. Feita a confissão de pecados, eles são perdoados,
removendo-se os obstáculos espirituais à concessão da cura divina, pois o
perdão (greg. “aphesis”) liberta o
pecador de maldições e amarras espirituais, livrando-o da escravidão ou prisão
que lhe oprime, vez que a remissão apaga os pecados da consciência - não da memória,
ainda poderão ser eventualmente lembrados - como se eles nunca tivessem sido cometidos,
logicamente se o arrependimento for verdadeiro. Desaparece a culpa do erro ou do
pecado, pois a consciência perde o sentimento da culpa pela presença do
refrigério espiritual proporcionado pelo perdão divino. Não é mágica, mas é algo
do sobrenatural divino, incompreensível pela lógica humana e desfrutável
somente pelos que têm fé em Deus.
Importa reafirmar que a confissão entre irmãos
na igreja é um tipo especial de confissão de culpa distinta da confissão geral
de pecados (Romanos 10:9-10), ficando bem entendido no texto bíblico ser uma
condição para que a oração de uns pelos outros tenha eficácia no meio da
igreja. A regra da prática espiritual diz que todo aquele que confessa suas
transgressões e deixa alcança misericórdia (Provérbios 28:13 e Juízes 10:15-16), daí a
principal razão da necessidade da confissão antes da oração por cura, quer
entre irmãos ou inconvertidos.
A palavra da sabedoria deixa claro não ser bom
manter-se na prática de pecado habitual, cometendo-o reiteradamente como se não
se importasse – “O
homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído
sem que haja remédio.”
(Provérbios 29:1), pois isso atrai fracassos e bloqueios, daí ser necessário
arrepender-se dele, confessar e deixá-lo para sempre, única maneira de se
afastar da ira de Deus e atrair sua misericórdia e proteção.
A inconfissão de pecados – “se dissermos que não temos pecados” (I João 1:8:6, 8) – é o estado
de quem vive pecando ou em pecado habitual, que não se importa em ofender a lei
de Deus com sua conduta nem com as consequências espirituais da maldição
pecado, ao passo o ato particular do pecado isolado ou o pecado eventual
consiste no pecado praticado por pessoas já convertidas, surgindo como um
tropeço ou erro no caminho da fé (I João 1:10). O pecado não é mais um hábito em
sua nova vida porque ele permanece em Cristo, e assim também não mais aceita
permanecer nas trevas da iniquidade nem no engano do pecado.
Se pecarem, o homem ou a mulher que já foram regenerados
pelo Espírito Santo, cabe-lhes imediatamente confessarem e abandonarem o pecado
que os fizeram tropeçar (I João 1:9), pois conhecem a Deus e sabem que suas vidas
sem ele não valem nada e perto estão do juízo e da destruição eterna. Qualquer
crente, até mesmos os líderes cristãos, precisam confessar pecados acidentais
como ensina o apóstolo João quando diz “temos
um advogado” (I João 2:1), especialmente porque Deus não faz acepção de
pessoas, pois referido apóstolo incluiu ele próprio entre os que precisariam
pedir perdão em nome de Jesus ao dizer “se
alguém pecar” (I João 2:1).
Cabe uma análise do verbo
pecar. No termo “se alguém pecar” (“ean tis hamarte”) o verbo pecar na
língua grega está no modo subjuntivo aoristo, o que retira a habitualidade do
pecado da vida dos filhos de Deus, ficando a possibilidade, como é próprio do
modo subjuntivo indicar uma ação possível, incerta ou duvidosa, onde a mesma
pode ou não ocorrer, a depender das circunstâncias. Então, em tradução livre
pode ser dito: “Vocês não são como aqueles
que vivem pecando, mas se eventualmente alguém vier a pecar temos um
Advogado...”. Foi dito expressamente pelo apóstolo João que o pecado não
mais faz parte da vida dos irmãos em Cristo, contudo o pecado pode surgir no
caminho de um convertido como acidente, e, nesse caso, Cristo é o nosso
advogado diante do Pai.
Na velha aliança o profeta Daniel também declarou que,
como servo fiel, também pecava diante de Deus – “porque pecamos contra ti” (Daniel 9:8), porquanto sabia que “não há homem justo
sobre a terra que faça o bem e que não peque.” (Eclesiastes 7:20). Um profeta e um apóstolo, dois homens de grande santidade e
comunhão com Deus, admitem que algum momento da caminhada podemos escorregar
espiritualmente. O pecado habitual ou estado pecaminoso (I Jo
1:8) difere do pecado eventual ou do ato pecaminoso (I João 1:10), contudo ambos
têm que ser confessados e abandonados porque nenhum dos dois pode fazer parte
da vida cristã.
Logo, qualquer convertido poderá recorrer a Cristo
tantas vezes quantos forem os pecados eventuais ou acidentais cometidos como
ovelha do rebanho do Senhor. Cristo é o nosso bom pastor e também o nosso
advogado, porém o perdão divino vem de Deus, por meio da intercessão do Filho
que está à direita do Pai – “O Justo, o
Sumo Sacerdote Eterno” -, exatamente como o advogado faz um pedido na
defesa do acusado diante do acusador (Satanás).
A palavra no novo testamento diz que “todos pecaram e destituídos estão da glória
de Deus” (Romanos 3:23), e já na velha aliança ensinava que ainda que se trate
de alguém que faça o bem, ele vai pecar e precisará pedir perdão (Ec 7:20b e I
João 1:8). Ao usar o termo “temos um
Advogado para com o Pai” (I João 2:1) o apóstolo João novamente inclui a si
mesmo na possibilidade de cometer pecado e necessitar da intercessão de Cristo
(o Advogado) para ser perdoado pelo Pai. O perdão recebido de Deus pela fé em
Jesus Cristo é a única maneira de não permanecer no pecado: “Qualquer que
permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.” (I João 3:6).
Permanecer em Deus é sinônimo de guardar os seus
mandamentos (I João 3:24), pois o Espírito Santo habita em quem cumpre sua
palavra, porquanto o Pai e o Filho visitam ou operam em quem se santificou como
morada do Espírito Santo. Prestem atenção neste detalhe: Quem guarda os
mandamentos divinos permanece em Deus e tem o Espírito Santo, porém quem guarda
sua palavra – o que abrange a totalidade da Escritura, observância que vai além
dos mandamentos – não só permanece nele como “o
amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que
estamos nele.” (I João 2:5). Noutras palavras, guardar os mandamentos é
condição para se manter em relacionamento com Deus, contudo o amor de Deus é
aperfeiçoado na vida dos crentes que se esforçam para guardar toda sua palavra.
Irmãos
e irmãs, não deixem nenhuma área de suas vidas fora da presença de Deus,
entreguem tudo a Ele, pois ele sabe o que é melhor para nossas vidas e assim
teremos saúde física e espiritual até a vinda ou o encontro com o Senhor Jesus –
“E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I
Ts 5:23).