Estudo Bíblico

Por onde Israel peregrinou quarenta anos no deserto?

Por onde Israel peregrinou quarenta anos no deserto?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado.” (Números 14:33-34).

Saindo do monte Sinai o povo acampou em Cades, deserto de Parã (Números 13:26). Ali o povo rebelou-se contra Moisés e Arão por causa do relatório dos dez espias que infamaram a terra prometida, bem como dali se viu os israelitas serem derrotados em Horma pelos amalequitas e cananeus ao tentarem entrar em Canaã descumprindo ordem divina de retornar “pelo caminho do mar Vermelho” (Números 14:25 e Deuteronômio 1:41-45), ou seja, Deus ordenou que retornassem à região norte do golfo de Ácaba (braço oriental do Mar Vermelho), área do deserto de Parã, no lado ocidental, vez que do lado oriental do golfo ficava a região de Midiã, habitada por tribos nômades.

Os trinta e nove anos e uns meses de peregrinação do povo de Israel pelo deserto foi resumida do capítulo 13 (Números 13:26) ao capítulo 20 (Números 20:1). A peregrinação iniciou-se com o retorno de Cades em direção ao Mar Vermelho e terminou em Cades quando para ali retornaram os israelitas após quase quatro décadas, evidentemente depois que caiu no deserto todos os cadáveres da geração velha, em cumprimento ao castigo pela rebeldia afrontosa contra o poder de Deus.

Por onde foi a peregrinação? Ao que tudo indica, sobretudo por falta de registros bíblicos, o povo ficou nessa região (golfo de Ácaba) do deserto de Parã por quase trinta e nove anos a fim de que morresse toda aquela geração murmuradora (Números 14:32-35) e depois voltou para Cades antes de entrar no deserto de Zim (Números 20:1), situado entre o Mar Morto e a região de Arabá. Eram cerca de dois milhões de pessoas, daí que precisaram ficar próximo à abundância de água e de provisão natural, o que é compatível com a escolha desse acampamento ao redor do golfo. Deus não disse que o povo peregrinaria por “desertos”, mas “neste deserto cairão os vossos cadáveres” usando o termo “deserto” no singular (Nm 14:29,32-33 e 35) para se referir ao deserto de Parã, onde se situava Cades, deserto que ocupava a região central da península do Sinai, possuindo fronteiras apenas com outros desertos. Ao norte, o deserto de Neguebe, ao sul o deserto do Sinai, a leste o deserto de Zim e a oeste de deserto de Sur, isolamento geográfico apropriado com o castigo aplicado à geração de murmuradores, bem como antecipava o estilo de vida do povo de Deus que seria viver separado das demais nações, característica espiritual marcante da santidade de Deus (Números 23:9).

Então, a peregrinação limitou-se voltar de Cades ao Mar Vermelho e depois retornar a Cades, cidade situada na fronteira entre os desertos de Parã e Cades, para prosseguir a marcha em direção a Canaã interrompida há cerca de quarenta anos. No retorno a Cades morreu Miriã, irmã de Moisés e Arão, fazendo o povo permanecer ali muitos dias para pranteá-la como era do costume, antes de entrarem no deserto de Zim e acamparem próximo do monte Hor (hebr. “Montanha”), lugar que morreu Arão, quando já tinha completado quarenta anos e cinco meses da saída do povo de Israel do Egito (Números 33:38).

Também durante o êxodo de Israel desde a saída do Egito até chegar às campinas de Moabe quarenta anos mais tarde, os israelitas acamparam em quarenta lugares (Nm 33), sendo que entre o monte Sinai e Cades-Barneia localizavam exatamente vinte lugares (Números 33:16-36), exatamente a metade do total de acampamentos, percurso que foi percorrido em onze dias (Deuteronômio 1:2). No entanto, a rebeldia e a falta de fé na palavra do Senhor levaram os israelitas a transformarem os onze dias necessários para se entrar no sul de Canaã em quarenta anos no deserto (Nm 14:34).

Muitas coisas são atrasadas em nossas vidas não por causa de Deus, mas pelas nossas próprias decisões erradas, principalmente quando se descumpre o que diz a palavra de Deus.

Por sua vez, o registro dos locais onde os israelitas acamparam são fidedignos porque foram anotados “conforme ao mandado do Senhor” (Números 33:2) e com certeza neles não há apenas dados geográficos, mas são jornadas com muitas instruções valiosas para nossa fé (as quais serão estudadas em outras mensagens, se Deus quiser). Em apenas cinco capítulos, do 15 ao 20, resumiu-se toda a peregrinação de quase trinta e nove anos dos israelitas pelo deserto, a maior parte deles em absoluto silêncio bíblico.

Alguns pontos desta jornada chamam atenção por sua posição numérica. O sexto acampamento foi em Elim (hebr. “palmeiras”) onde tinha doze fontes de água e setenta palmeiras (Êxodo 15:27). O décimo segundo acampamento foi no monte Sinai (Êxodo 19:1-2), onde Israel celebrou aliança com Deus, recebendo os Dez Mandamentos.

Mesmo tendo passado quarenta anos peregrinando no deserto sob controle do poder de Deus, o povo de Israel não se livrou da impiedade nem da rebeldia espiritual: “Quarenta anos estive desgostado com esta geração, e disse: É um povo que erra de coração, e não tem conhecido os meus caminhos.” (Salmos 95:10). Errar de coração é pecar voluntariamente contra Deus, pois tanto na língua hebraica (heb. “chata”) quanto na língua grega (greg. “hamartia”) a palavra pecado significa “errar o alvo”.

É justamente esta rejeição da palavra de Deus que endurece o coração e faz o homem cair no erro, no engano e nas seduções atraentes do diabo. A rebeldia e a demora em se converter petrifica o coração do homem, tornando mais difícil enxergar o valor das coisas espirituais que o aguarda no presente e na futura eternidade.

Por fim, deserto sempre foi lugar de adversidades, perigos e de superação, onde a provisão só pode vir da misericórdia de Deus, tornando-se uma peregrinação de aprendizado que capacita e desenvolve homens de caráter forte, com corações obedientes e dependentes do Senhor. Eis a razão pela qual a peregrinação de Israel pelo deserto simboliza com exatidão nossa peregrinação neste mundo tenebroso cheio de armadilhas e perigos que podem destruir para sempre a alma dos que peregrinam nesta terra.

Cuide de nós Senhor, não nos deixe padecer nem perecer pelos desertos deste mundo, porquanto desejamos chegar à terra prometida que o Senhor preparou na eternidade aos que te amam!

*© Texto bíblico: ACF – SBTB