
Por onde Israel peregrinou quarenta anos no deserto?
“Vossos
filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e
levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma
neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta
dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas
iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado.” (Números 14:33-34).
Saindo do monte Sinai o povo
acampou em Cades, deserto de Parã (Números 13:26). Ali o povo rebelou-se contra
Moisés e Arão por causa do relatório dos dez espias que infamaram a terra
prometida, bem como dali se viu os israelitas serem derrotados em Horma pelos
amalequitas e cananeus ao tentarem entrar em Canaã descumprindo ordem divina de
retornar “pelo caminho do mar Vermelho” (Números 14:25 e Deuteronômio 1:41-45), ou seja, Deus ordenou que
retornassem à região norte do golfo de Ácaba (braço oriental do Mar Vermelho),
área do deserto de Parã, no lado ocidental, vez que do lado oriental do golfo
ficava a região de Midiã, habitada por tribos nômades.
Os trinta e nove anos e uns meses de peregrinação do povo
de Israel pelo deserto foi resumida do capítulo 13 (Números 13:26) ao capítulo 20
(Números 20:1). A peregrinação iniciou-se com o retorno de Cades em direção ao Mar
Vermelho e terminou em Cades quando para ali retornaram os israelitas após
quase quatro décadas, evidentemente depois que caiu no deserto todos os
cadáveres da geração velha, em cumprimento ao castigo pela rebeldia afrontosa
contra o poder de Deus.
Por onde foi a peregrinação? Ao que tudo indica, sobretudo
por falta de registros bíblicos, o povo ficou nessa região (golfo de Ácaba) do
deserto de Parã por quase trinta e nove anos a fim de que morresse toda aquela
geração murmuradora (Números 14:32-35) e depois voltou para Cades antes de entrar no
deserto de Zim (Números 20:1), situado entre o Mar Morto e a região de Arabá. Eram
cerca de dois milhões de pessoas, daí que precisaram ficar próximo à abundância
de água e de provisão natural, o que é compatível com a escolha desse
acampamento ao redor do golfo. Deus não disse que o povo peregrinaria por “desertos”, mas “neste deserto cairão os vossos cadáveres”
usando o termo “deserto” no singular (Nm
14:29,32-33 e 35) para se referir ao deserto de Parã, onde se situava Cades,
deserto que ocupava a região central da península do Sinai, possuindo
fronteiras apenas com outros desertos. Ao norte, o deserto de Neguebe, ao sul o
deserto do Sinai, a leste o deserto de Zim e a oeste de deserto de Sur,
isolamento geográfico apropriado com o castigo aplicado à geração de
murmuradores, bem como antecipava o estilo de vida do povo de Deus que seria
viver separado das demais nações, característica espiritual marcante da
santidade de Deus (Números 23:9).
Também
durante o êxodo de Israel desde a saída do Egito até chegar às campinas de
Moabe quarenta anos mais tarde, os israelitas acamparam em quarenta lugares (Nm
33), sendo que entre o monte Sinai e Cades-Barneia localizavam exatamente vinte
lugares (Números 33:16-36), exatamente a metade do total de acampamentos, percurso
que foi percorrido em onze dias (Deuteronômio 1:2). No entanto, a rebeldia e a falta de
fé na palavra do Senhor levaram os israelitas a transformarem os onze dias
necessários para se entrar no sul de Canaã em quarenta anos no deserto (Nm
14:34).
Muitas
coisas são atrasadas em nossas vidas não por causa de Deus, mas pelas nossas
próprias decisões erradas, principalmente quando se descumpre o que diz a
palavra de Deus.
Por sua vez,
o registro dos locais onde os
israelitas acamparam são fidedignos porque foram anotados “conforme
ao mandado do Senhor” (Números 33:2) e com certeza
neles não há apenas dados geográficos, mas são jornadas com muitas instruções
valiosas para nossa fé (as quais serão estudadas em outras mensagens, se Deus
quiser). Em apenas cinco capítulos, do 15 ao 20, resumiu-se toda a peregrinação
de quase trinta e nove anos dos israelitas pelo deserto, a maior parte deles em
absoluto silêncio bíblico.
Alguns
pontos desta jornada chamam atenção por sua posição numérica. O sexto
acampamento foi em Elim (hebr. “palmeiras”)
onde tinha doze fontes de água e setenta palmeiras (Êxodo 15:27). O décimo segundo
acampamento foi no monte Sinai (Êxodo 19:1-2), onde Israel celebrou aliança com
Deus, recebendo os Dez Mandamentos.
Mesmo tendo passado
quarenta anos peregrinando no deserto sob controle do poder de Deus, o povo de
Israel não se livrou da impiedade nem da rebeldia espiritual: “Quarenta anos estive desgostado com esta geração, e
disse: É um povo que erra de coração, e não tem conhecido os meus caminhos.” (Salmos 95:10). Errar de
coração é pecar voluntariamente contra Deus, pois tanto na língua hebraica
(heb. “chata”) quanto na língua grega
(greg. “hamartia”) a palavra pecado
significa “errar o alvo”.
É justamente esta rejeição da palavra de Deus que endurece
o coração e faz o homem cair no erro, no engano e nas seduções atraentes do
diabo. A rebeldia e a demora em se converter petrifica o coração do homem,
tornando mais difícil enxergar o valor das coisas espirituais que o aguarda no
presente e na futura eternidade.
Por fim, deserto sempre foi lugar de adversidades, perigos
e de superação, onde a provisão só pode vir da misericórdia de Deus,
tornando-se uma peregrinação de aprendizado que capacita e desenvolve homens de
caráter forte, com corações obedientes e dependentes do Senhor. Eis a razão
pela qual a peregrinação de Israel pelo deserto simboliza com exatidão nossa
peregrinação neste mundo tenebroso cheio de armadilhas e perigos que podem
destruir para sempre a alma dos que peregrinam nesta terra.
Cuide de nós Senhor, não nos deixe padecer nem perecer pelos
desertos deste mundo, porquanto desejamos chegar à terra prometida que o Senhor
preparou na eternidade aos que te amam!