Estudo Bíblico

Profeta: A sentinela que avisa dos perigos espirituais  - Parte I

Profeta: A sentinela que avisa dos perigos espirituais - Parte I

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Filho do homem, fala aos filhos de teu povo e dize-lhes: Quando eu fizer vir a espada sobre a terra, e o povo da terra tomar um homem dos seus limites, e o constituir por seu atalaia; e, vendo ele que a espada vem sobre a terra, tocar a trombeta e avisar o povo; se aquele que ouvir o som da trombeta não se der por avisado, e vier a espada e o abater, o seu sangue será sobre a sua cabeça.” (Ez 33:2-4).

No antigo Israel, a atalaia era a sentinela (hebr. “tsaphiyth”) de um posto de observação instalado sobre um monte, uma torre ou um muro para vigiar (hebr. “tsaphah”), observando com presteza e atenção, a fim de avisar a cidade ou vilarejo para que os moradores não fossem surpreendidos com a aproximação de inimigos. O aviso da atalaia era vital para os moradores, pois afastava o perigo do ataque surpresa e permitia que se armasse uma defesa para ficar em prontidão ou reagir. O homem também precisa ser avisado do perigo mortal de aceitar o pecado.

A palavra profeta (hebr. “nabi”) quer dizer aquele que fala a mensagem de Deus. Esta é a principal função do profeta: avisar o povo dos perigos do pecado, o maior perigo espiritual de destruição eterna da alma. Isso se chama profecia. O conceito de profecia e da atividade profética é bíblico: “Porém Micaías disse: Vive o Senhor que o que o Senhor me disser isso falarei.” (I Rs 22:14, II Cr 18:13). Nesta passagem o profeta Micaías foi preso porque falou a palavra de Deus sem medo diante do rei Acabe, e só não foi morto porque o rei idólatra morreu em combate conforme havia profetizado (I Rs 22:25-28, 34-37).

Quando a atalaia avistava o perigo ele tocava a trombeta para avisar o povo, porém se o avisado não se protegesse e fosse morto à espada, a atalaia estava livre da culpa pelo seu sangue. Quando há um profeta, Deus fala com os homens por meio desse servo. Por exemplo, diante da ameaça de Senaqueribe, rei da Assíria, o rei Ezequias orou ao Senhor, e a resposta de sua oração foi entregue ao profeta Isaías, o qual a entregou ao rei (II Rs 19:15-19, 20:1-7).

A sentinela era escolhida pelo próprio povo dentre seus moradores, por causa da necessidade de ser alguém da confiança deles, para não correrem o risco de ser traídos e apanhados de surpresa. O profeta de Deus também é um homem de confiança escolhido por Deus para transmitir sua mensagem. Assim foi com Isaías (6:1-9), Jeremias (Jeremias 1:5), Ezequiel (Ez 1 e 2), Eliseu (I Rs 19:19-21) e outros.

Porém, vemos que o antigo testamento dividiu os profetas em dois grupos, um que falava em nome de Deus - os verdadeiros profetas - e outro que falava sem que Deus tivesse ordenado que falasse - os falsos profetas (Deuteronômio 18:18-19).

Sobre esses últimos havia um duro juízo: “ Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.” (Dt 18:20, Jeremias 23:12, Ezequiel 13:9), mas nem isso evitou que surgissem muitos falsos profetas no meio de Israel, principalmente porque o povo gostava de ouvir o que eles falavam – “Que dizem aos videntes: Não vejais; e aos profetas: Não profetizeis para nós o que é reto; dizei-nos coisas aprazíveis, e vede para nós enganos.” (Isaías 30:10).

Em sentido oposto, o mesmo povo rejeitava as profecias dos verdadeiros profetas (Isaías 28:9-10. Jeremias 16:9, Oséias 9:8, Amós 7:12-16, Miquéias 2:11:5), cujas mensagens eram basicamente advertências para abandono de pecado sob pena de julgamento e castigo, motivo pelo qual era um ministério de risco à própria vida, como vemos nos registros escriturísticos que foram mortos os profetas Zacarias, filho do sumo sacerdote Joiada (II Cr 24:20-22), numa grande ingratidão do rei Joás, o qual tinha sido criado e instruído pelo pai de Zacarias. Urias, contemporâneo de Jeremias, também foi morto por causa da atividade profética (Jeremias 26:20-23). A lição principalmente do ministério de um profeta é que ele não veio para anunciar bênçãos, mas a aproximação de um perigo, um inimigo, um juízo ou julgamento divino, ainda que ao anunciá-lo coloque sua vida em risco.

A cidade de Jerusalém tornou-se famosa por matar profetas, como dito pelo Senhor Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados!” (Mateus 23:37). Até os dias de hoje existe no maior cemitério judaico, que fica ao lado da cidade velha de Jerusalém, um espaço reservado aos túmulos dos profetas que foram mortos nessa cidade.

A função básica de um profeta era pregar ou proclamar a palavra de Deus, ensinando, exortando, aconselhando, repreendendo e consolando, fazendo ainda revelações as quais eram, essencialmente, o próprio Deus falando por intermédio do “homem de Deus”, outro título que se dava ao profeta. Nada vinha da sua mente, do seu coração, pois eram manifestações recebidas do Espírito Santo de Deus de interesse de reis, líderes religiosos, povo e da nação de Israel. Quando um homem de Deus fala como profeta o poder divino age imediatamente para mudar qualquer situação, libertando, curando, dando provisão, livramento ou mudando tudo que estava errado na vida de uma pessoa ou lugar, pois Deus se faz presente – “E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la.” (Jeremias 1:12, II Cr 15:8-9).

Observa-se que na velha aliança os profetas eram homens que tinham acesso especial a Deus, proteção divina, recebia poder divino, revelações e mensagens espirituais, estando obrigado a falar em nome do Senhor Deus, sob pena de castigo – “Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu da minha boca ouvirás a palavra e avisá-los-ás da minha parte. Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei.” (Ezequiel 3:17-18).

Porém, a obrigação de salvar almas nunca se limitou à pregação dos profetas, pelo contrário todos os que foram iluminados pelos ensinamentos da verdade têm o dever de livrar as almas que estão sendo levadas para a morte e quem não o fizer responderá diante de Deus (Provérbios 24:11-12). Igualmente o profeta deve avisar os homens que a ira de Deus está sobre a cabeça dos pecadores, se não se arrependerem a tempo e confessarem Jesus como Senhor e Salvador (Jó 9:13 e Sl 7:12). Todavia, se a sentinela cochilasse e não desse o aviso e alguém fosse morto pelos inimigos, o sangue de quem morreu era demandado da sentinela, um claro alerta à atividade profética do rigor divino.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB