
Como fazer a oração de concordância
“E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na
terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus.” (Mateus 16:18)
A expressão “o
que ligarem na terra será ligado no céu e tudo que desligarem na terra terá
sido desligado no céu” é um hebraísmo ou expressão idiomática usada pelos
rabinos para declarar a concordância de Deus com algo decidido pelos homens
justos. Jesus a usou duas vezes. A primeira declarando Pedro como líder da sua Igreja
na terra, na sua presença e principalmente depois de sua morte e ressurreição,
como de fato a história da Igreja confirma a liderança de Pedro sobre a Igreja
Primitiva (Mt 16), e, na segunda vez Jesus outorgou os mesmos poderes da oração
de concordância à Igreja na administração da disciplina envolvendo irmãos de fé
(Mateus 18:15-20).
“Tudo o que
ligares na terra será ligado nos céus” é uma declaração poderosa no
mundo espiritual, pois o verbo ligar ou amarrar
significa que os cristãos têm
autoridade para amarrarem demônios em nome de Jesus Cristo, garantindo
que dos céus descerá poder da graça para executar essa
ordem. O verbo ligar (greg. “deo”),
usado no modo subjuntivo (“deses”) no manuscrito grego, é atar usando um laço,
prender com cadeias, declarar ser ilícito, impor proibição*. Jesus usou este
verbo grego quando curou a mulher encurvada – “a
qual há dezoito anos Satanás tinha presa?” (Lucas 13:16), precisamente no termo “tinha preso” (greg. “edesen”),
declarando nula a prisão daquela mulher por espírito imundo. O sentido pujante
deste verbo grego expressa a necessidade de tornar livre quem por natureza foi
criado livre por Deus, mas se encontra aprisionada, indicando que a oração de
concordância é o modo pelo qual isso deve ser feito.
Então,
tudo que for ilegítimo, ilícito, errado, pecaminoso ou contrário a lei de Deus
pode ser “ligado” na terra ou
declarada sua nulidade por meio da oração. É dizer, se algo não é certo ou é
maligno, tudo o que se proibir na terra em relação a isso, invocando o nome de
Jesus Cristo, será proibido nos céus. Neste aspecto, “ligar na terra” é pedir a Deus que ele desfaça, amarre, cancele ou
anule todo poder demoníaco que aprisiona e encarcera espiritualmente uma alma.
Primeiro
se prende o valente (demônio), para depois libertar a vítima que estava sob seu
domínio – “Ninguém pode roubar os bens do
valente, entrando-lhe em sua casa, se primeiro não amarrar o valente; e então
roubará a sua casa.” (Marcos 3:27).
Por
sua vez, a expressão “e tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus”, usa o verbo desligar (greg. “luo”)
que é o ato de soltar, livrar, libertar alguém que está preso ou atado,
quebrar e dissolver, declarar ilegal uma situação ou condição, desatar algo
amarrado, atado ou compactado, permitir algo correto ou declarar que o bem e
tudo o mais que for bom vai dominar sobre a vida de alguém (Mateus 16:19:18,
21:2, Marcos 1:7, João 11:44, Apocalipse 9:14:3)*.
Logo,
no ato de “ligar” declara-se a
nulidade do poder demoníaco que age em alguém ou em algum lugar, pedindo a Deus
que confirme nos céus esta vontade manifestada na oração, ao passo que pelo
verbo “desligar” declara-se que não
mais impera a força do mal sobre aquela situação, invocando o poder divino para
dirigir-lhe a vida no caminho da bondade e da justiça. Declara-se com confiança
que aquilo que antes a pessoa não podia fazer pela contrariedade espiritual
agora está permitido, porque foi “desligado”
ou desatado o poder do mal pelo poder de Deus.
xxxx NNo entendimento do antigo
testamento “ligar” ou “desligar” representava um privilégio da
autoridade sacerdotal de pedir a Deus para aprovar ou desaprovar algo ou algum
pedido em oração. Os sacerdotes eram os homens mais santos e puros no meio de
Israel. No novo testamento tem a ver com a autoridade espiritual que o homem
justo – justo é todo aquele pratica a verdade (Romanos 2:13) - possui para entrar na
presença de Deus a favor de si mesmo ou como intercessor, exatamente como
faziam os sacerdotes levitas. Nesta dispensação todos os cristãos são
sacerdotes reais, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus (I Pd 2:9).
Dessa forma, Jesus usa referida expressão
idiomática para dizer que os cristãos têm autoridade para mediante a fé
declarar vitória sobre o poder do diabo ou sobre as forças contrárias que agem contra
pessoas (Mt 16) ou contra a igreja (Mt 18). Os rabinos entendiam que “ligar” ou “desligar” era um tipo de oração contrária para desfazer obras
malignas, encantamento idólatra ou feitiçaria feitos por sacerdotes pagãos ou
pelos sacerdotes dos altos.
Certo é que na linguagem rabínica “ligar” era pedir a Deus para proibir ou
cancelar algo feito no mundo espiritual, e “desligar”
consistia em orar pedindo que Deus permitisse ou concedesse algo que estava
emperrado ou impedido por forças espirituais contrárias. Relembra-se que a
mesma condição exigida na antiga aliança permanece em vigor aos cristãos, qual
seja, a declaração de poder ligando ou desligando precisa estar em conformidade
com a palavra de Deus (Mateus 21:22 e I João 5:14).
Na libertação de pessoas que fizeram pacto com
demônios é de bom proceder declarar solenemente desligado seu vínculo anterior
com as trevas e ligada nos céus sua nova vida em Cristo. Pedro fez uso desta
autoridade para ligar sua vontade com os céus apagando pecados dos novos
convertidos e também desligar todo impedimento espiritual à paz na alma dada
pelo Espírito Santo (Atos 3:19:43).
Um exemplo típico de ligar e desligar no mundo
espiritual ocorreu com Pedro. Ele negou Jesus três para não ser preso como um
dos discípulos – “E ele começou a praguejar, e a jurar:
Não conheço esse homem de quem falais.”
(Marcos 14:71) -, ligando no mundo espiritual rejeição e desprezo ao nome de Jesus, o
Filho de Deus, perdendo os dons e a autoridade espiritual recebida como líder
dos discípulos. O verbo praguejar (greg. “anathematizein”)
no original grego é o ato de amaldiçoar, invocar uma maldição contra alguém.*
Negar a Cristo é perder a salvação e viver
debaixo da maldição do pecado (Mateus 10:33 e II Tm 2:12). Pedro não sabia que
aquela noite no pátio da casa do sumo sacerdote (Mateus 26:58-75) tinha causado
um apagão em sua vida espiritual. Para
desligar a negação pública de seu nome declarada por Pedro, o Senhor também o fez declarar três vezes que o
amava (João 21:15-17). Ao final restou claro que Pedro tinha o amor necessário
para guiar os cordeiros e as ovelhas dos rebanhos que pertenciam ao Senhor. Atenção
candidatos a pastor: o critério principal para exercer esse ofício é amar os
cordeiros e as ovelhas que lhes forem entregues por Cristo, e isso Cristo
comprovou que havia no coração de Pedro, restaurando sua fé, ministério e
salvação.
Amados irmãos, somos instruídos que a oração de
concordância é uma forte arma na batalha espiritual, a qual deve ser usada pela
igreja e por todos os homens e mulheres santos que se dispõem enfrentar as
forças das hostes espirituais malignas em nome de Jesus Cristo. A arma já está
disponível, o que a Igreja precisa é de vidas consagradas pelo temor a Deus,
conhecimento da verdade e santidade, condições essenciais para todos que trabalham
na libertação dos encarcerados espirituais.
* Dicionário Strong