Estudo Bíblico

Cristão tem medo da morte?

Cristão tem medo da morte?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” (Hebreus 2:15).

A resposta é não. É exatamente isso o que diz a palavra: “o justo até na morte se mantém confiante.” (Pv 14:32b). Esta é a atitude de fé ideal de todo aquele que vive pela certeza que foi salvo pela redenção que há Jesus Cristo, no viver diário e também na hora da morte. O apóstolo João declara que o amor perfeito lança fora o medo e por isso no dia do juízo – o dia da vinda do Senhor – o cristão que possui o perfeito amor será ousado e confiante, não titubeará ou terá medo de ser condenado (I João 4:17-18), confirmando o que foi dito pelo salmista inspirado.

Paulo também diz que aquele que vive no amor de Cristo nada poderá separá-lo desse amor – Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8:38-39). Quem não crê na vida eterna vive em permanente medo de que a morte venha pôr fim aos prazeres carnais e mundanos aos quais se entregou como incrédulo, pois vê a morte física como fim da sua existência. Mas, para o cristão a morte física é um portal para entrar na glória que o espera nos lugares celestiais, onde Cristo o espera.

O medo da morte apavorou a humanidade por vários séculos desde a queda no Éden, pois era e é uma perspectiva que torna os homens escravos do medo diante de algo que é insuperável por qualquer tipo de força terrena. O império da morte era uma prisão implacável porque não havia como se livrar do medo que dominava o coração dos homens, o qual somente foi derrotado pela morte e ressurreição de Cristo. Através de sua morte redentora e ressurreição ele eliminou esse enganoJesus eliminou esse engano de Satanás tirando da alma dos homens o medo da morte por meio da esperança da vida eterna, da qual deu garantia selando os crentes com o Espírito do Deus vivo (Ef 2:13).

Quando o homem se torna escravo do medo ele não enxerga a grandeza da essência celestial que há dentro dele, porquanto o medo é um sentimento que paralisa quem vive debaixo de qualquer domínio ou escravidão, seja física ou espiritual. O medo literalmente altera a capacidade do coração de levar oxigênio para todo o corpo, mas principalmente para o bom funcionamento do cérebro, provocando ansiedade, paralisia e confusão mental, estados de fraqueza física que afetam a integridade espiritual da fé. Pessoas afetadas por esse tipo de medo são presas fáceis de seus inimigos, principalmente do diabo.

O medo de morrer que estava no coração do homem foi causa que fez Deus reduzir o exército de Israel de trinta e dois mil homens para somente trezentos homens valentes, quando ordenou a Gideão retirar os homens medrosos – “Quem for medroso e tímido, volte, e retire-se apressadamente das montanhas de Gileade” -, e com esses trezentos homens valentes Israel venceu o exército dos midianitas (Juízes 7:1-7). Medrosos não lutam nem por si, muitos menos em defesa de outros, por isso que o diabo tem o medo como uma arma.

O homem e a mulher precisam ter fé e confiar que Cristo e o Espírito Santo seguem à sua frente. Escute isso e vá em frente: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.” (Isaías 41:10). É assim que age quem confia em Deus: “Em qualquer tempo em que eu temer, confiarei em ti.” (Salmos 56:3).

A morte física não é o fim de tudo – a alma está viva, apesar da morte do corpo ou da matéria -, mas, aos que têm Cristo é o início da convivência da alma dos crentes com as promessas da ressurreição e da vida eterna, nos lugares celestiais. A palavra diz que a morte de Cristo aniquilou o diabo: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hebreus 2:14). Na elocução “para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte” o verbo aniquilar (greg. “katargeo”) é sinônimo de tornar inativo ou sem poder, inoperante, fazer uma pessoa ou coisa não ter mais eficiência, privar da força, influência, poder, fazer cessar, por um fim em, anular, abolir, ser posto de lado, ser afastado de, livre de alguém, terminar todo intercurso com alguém (Lucas 13:7, Romanos 3:3, 31, 6:6, 7:2, 6, I Co 1:28, 2:6, 6:13, 13:8, 10-11, 15:24, 26, II Co 3:7, 11, 13-14, Gálatas 3:17:4, 11, Ef 2:15, II Ts 2:8, II Tm 1:10, Hebreus 2:14)*.

Ora, o texto original revela que o poder de Satanás foi totalmente anulado, tornado sem eficácia por meio da morte e da ressurreição gloriosa de Jesus Cristo. Isso tudo está no hino de louvor: “Porque Ele vive, posso crer no amanhã, Porque Ele vive, temor não há, Mas eu bem sei, eu sei que a minha vida, Está nas mãos do meu Jesus, que vivo está (Porque ele vive – Bill Gaither e Gloria Gaither – Harpa).

Ao ser dito que Jesus veio em carne e sangue “para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” revela-se o terror e a sujeição que a morte, antes inabalável e imbatível, provocava na humanidade. Não havia remédio contra o fim da vida, a vitória era sempre da morte – não se podia dizer: Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (I Co 15:55). Satanás sabendo que o coração do homem era dominado por esse medo diz a Deus que se a vida de Jó estivesse em perigo ele renunciaria o próprio Deus para se salvar: “Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Porém estende a tua mão, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!” (Jó 2:4-5). Antes de tudo, a expressão “pele por pele” é um dito proverbial significando que o homem dará tudo o que tem por sua vida, até mesmo a vida de outras pessoas para manter sua própria vida – insinuação diabólica que Jó não teria se abalado com a morte de seus filhos (Jó 1:18-19) e por isso continuava a temer a Deus.

Atentar contra a saúde física de alguém é o poder máximo que Satanás tem para fazer o mal contra o homem, pois ele não pode matar diretamente nenhuma pessoa. O que ele fez? Encheu Jó de chagas purulentas que se não o mataram fisicamente, mataram-lhe moralmente diante de parentes, amigos e dos que o conheciam, mas nem assim ele blasfemou contra Deus como queria sua mulher ao ver seu sofrimento: Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.” (Jo 2:9-10).

Esse homem íntegro, reto e temente a Deus provou que a alma que vive na presença do Senhor não tem medo das adversidades próprias desta vida tampouco da morte física “porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra.” (Jó 19:25). Jó venceu individualmente o medo da morte, o que era exceção diante do império da morte sob governo de Satanás, poder que somente foi aniquilado universalmente, em benefício a todos os homens, com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A fé de Jó o fez transcender no sofrimento temporário desta vida pela certeza da comunhão e da vida eterna com Deus, derrotando o medo da morte, prefigurando o que Cristo faria ao derrotar o império da morte a favor de toda a humanidade (Hebreus 2:14-15).

Prestemos atenção ao que diz a doutrina: “Portanto, o nosso Senhor nos libertou, não só da escravidão da morte propriamente dita, mas também da tirania do diabo, que nos retém, por assim dizer, sob a morte. O diabo foi privado do seu poder. (...) E qual é o resultado? O autor de Hebreus nos diz: ‘E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão’ (Hebreus 2:15). E isso significa simplesmente que todo aquele que compreende a verdade da salvação, todo aquele que compreende o que o Senhor Jesus Cristo realmente realizou, terá sido libertado, não somente do poder da morte, porém até mesmo do medo da morte; não somente do diabo, mas também de todo medo que o diabo pode provocar, e tem provocado, na mente de todos nós. É nisso que é tão importante que entendamos esta grande salvação.

Alguns parecem pensar que toda a salvação se restringe ao fato de que os nossos pecados são perdoados, mas depois, quando se aproximam da morte, o diabo os tenta e eles ficam sem saber onde estão, e tremem de medo de morrer. Os cristãos primitivos eram assim, e lhes foi dado esse este ensino a fim de poderem ser libertados desse medo. Contudo, precisamos aplicar isso.” (Romanos – D. Martyn Lloyd-Jones – Exposição sobre o capítulo 14 – pag. 149 – PES - 2004).

* Dicionário Strong

**© Texto bíblico: ACF – SBTB