
Cristão tem medo da morte?
“E livrasse todos os que, com medo
da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.” (Hebreus 2:15).
A resposta
é não. É exatamente isso o que diz a palavra: “o
justo até na morte se mantém confiante.” (Pv 14:32b). Esta é a atitude de fé
ideal de todo aquele que vive pela certeza que foi salvo pela redenção que há
Jesus Cristo, no viver diário e também na hora da morte. O apóstolo João declara
que o amor perfeito lança fora o medo e por isso no dia do juízo – o dia da
vinda do Senhor – o cristão que possui o perfeito amor será ousado e confiante,
não titubeará ou terá medo de ser condenado (I João 4:17-18), confirmando o que
foi dito pelo salmista inspirado.
Paulo também diz
que aquele que vive no amor de Cristo nada poderá separá-lo desse amor – “Porque estou certo de que, nem a morte, nem
a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente,
nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm
8:38-39). Quem não crê na vida eterna vive em permanente medo
de que a morte venha pôr fim aos
prazeres carnais e mundanos aos quais se entregou como incrédulo, pois vê a
morte física como fim da sua existência. Mas, para o cristão a
morte física é um portal para entrar na glória que o espera nos lugares
celestiais, onde Cristo o espera.
O medo da morte apavorou a humanidade por vários
séculos desde a queda no Éden, pois era e é uma perspectiva que torna os homens
escravos do medo diante de algo que é insuperável por qualquer tipo de força
terrena. O império da morte era uma prisão implacável porque não havia como se
livrar do medo que dominava o coração dos homens, o qual somente foi derrotado
pela morte e ressurreição de Cristo. Através de sua morte redentora e
ressurreição ele eliminou esse enganoJesus eliminou esse engano de Satanás
tirando da alma dos homens o medo da morte por meio da esperança da vida
eterna, da qual deu garantia selando os crentes com o Espírito do Deus vivo (Ef
2:13).
Quando o
homem se torna escravo do medo ele não enxerga a grandeza da essência celestial
que há dentro dele, porquanto o medo é um sentimento que paralisa quem vive
debaixo de qualquer domínio ou escravidão, seja física ou espiritual. O medo
literalmente altera a capacidade do coração de levar oxigênio para todo o
corpo, mas principalmente para o bom funcionamento do cérebro, provocando
ansiedade, paralisia e confusão mental, estados de fraqueza física que afetam a
integridade espiritual da fé. Pessoas afetadas por esse tipo de medo são presas
fáceis de seus inimigos, principalmente do diabo.
O medo de
morrer que estava no coração do homem foi causa que fez Deus reduzir o exército
de Israel de trinta e dois mil homens para somente trezentos homens valentes,
quando ordenou a Gideão retirar os homens medrosos – “Quem for medroso e tímido, volte, e retire-se apressadamente das
montanhas de Gileade” -, e com esses trezentos homens valentes Israel
venceu o exército dos midianitas (Juízes 7:1-7). Medrosos não lutam nem por si,
muitos menos em defesa de outros, por isso que o diabo tem o medo como uma
arma.
A morte física não é o fim de tudo – a alma está viva, apesar
da morte do corpo ou da matéria -, mas, aos que têm Cristo é o início da convivência da alma dos crentes com
as promessas da ressurreição e da vida eterna, nos lugares celestiais. A palavra diz que a morte de Cristo aniquilou o
diabo: “E, visto como os filhos
participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para
que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”
(Hebreus 2:14). Na elocução “para que pela
morte aniquilasse o que tinha o império da morte” o verbo aniquilar (greg.
“katargeo”) é sinônimo de tornar
inativo ou sem poder, inoperante, fazer uma pessoa ou coisa não ter mais
eficiência, privar da força, influência, poder, fazer cessar, por um fim em,
anular, abolir, ser posto de lado, ser afastado de, livre de alguém, terminar
todo intercurso com alguém (Lucas 13:7, Romanos 3:3, 31, 6:6, 7:2,
6, I Co 1:28, 2:6, 6:13, 13:8, 10-11, 15:24,
26, II Co 3:7, 11, 13-14, Gálatas 3:17:4, 11, Ef
2:15, II Ts 2:8, II Tm 1:10, Hebreus 2:14)*.
Ora, o texto original revela que o poder de Satanás
foi totalmente anulado, tornado sem eficácia por meio da morte e da
ressurreição gloriosa de Jesus Cristo. Isso tudo
está no hino de louvor: “Porque Ele vive,
posso crer no amanhã, Porque Ele vive, temor não há, Mas eu bem sei, eu sei que
a minha vida, Está nas mãos do meu Jesus, que vivo está (Porque ele vive –
Bill Gaither e Gloria Gaither – Harpa).
Ao ser
dito que Jesus veio em carne e sangue “para que pela morte aniquilasse o que tinha o império
da morte, isto é, o diabo” revela-se
o terror e a sujeição que a morte, antes inabalável e imbatível, provocava na
humanidade. Não havia remédio contra o fim da vida, a vitória era sempre da
morte – não se podia dizer: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde
está, ó inferno, a tua vitória?” (I
Co 15:55). Satanás sabendo que o coração do homem era dominado
por esse medo diz a Deus que se a vida de Jó estivesse em perigo ele
renunciaria o próprio Deus para se salvar: “Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por pele, e tudo
quanto o homem tem dará pela sua vida. Porém estende a tua mão, e toca-lhe nos
ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face!” (Jó
2:4-5). Antes de tudo, a expressão “pele
por pele” é um dito proverbial significando que o homem dará tudo o que tem
por sua vida, até mesmo a vida de outras pessoas para manter sua própria vida –
insinuação diabólica que Jó não teria se abalado com a morte de seus filhos (Jó
1:18-19) e por isso continuava a temer a Deus.
Atentar
contra a saúde física de alguém é o poder máximo que Satanás tem para fazer o
mal contra o homem, pois ele não pode matar diretamente nenhuma pessoa. O que
ele fez? Encheu Jó de chagas purulentas que se não o mataram fisicamente,
mataram-lhe moralmente diante de parentes, amigos e dos que o conheciam, mas
nem assim ele blasfemou contra Deus como queria sua mulher ao ver seu
sofrimento: “Então sua mulher lhe disse:
Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém ele lhe disse:
Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não
receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.” (Jo
2:9-10).
Esse homem
íntegro, reto e temente a Deus provou que a alma que vive na presença do Senhor
não tem medo das adversidades próprias desta vida tampouco da morte física “porque eu sei que o meu Redentor vive, e que
por fim se levantará sobre a terra.” (Jó 19:25). Jó venceu individualmente o medo da
morte, o que era exceção diante do império da morte sob governo de Satanás,
poder que somente foi aniquilado universalmente, em benefício a todos os homens,
com a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
A fé
de Jó o fez transcender no sofrimento temporário desta vida pela certeza da
comunhão e da vida eterna com Deus, derrotando o medo da morte, prefigurando o
que Cristo faria ao derrotar o império da morte a favor de toda a humanidade
(Hebreus 2:14-15).
Prestemos atenção ao que diz a doutrina: “Portanto, o nosso Senhor nos libertou, não
só da escravidão da morte propriamente dita, mas também da tirania do diabo,
que nos retém, por assim dizer, sob a morte. O diabo foi privado do seu poder.
(...) E qual é o resultado? O autor de Hebreus nos diz: ‘E livrasse todos os
que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão’ (Hebreus
2:15). E isso significa simplesmente que todo aquele que compreende a verdade
da salvação, todo aquele que compreende o que o Senhor Jesus Cristo realmente
realizou, terá sido libertado, não somente do poder da morte, porém até mesmo
do medo da morte; não somente do diabo, mas também de todo medo que o diabo
pode provocar, e tem provocado, na mente de todos nós. É nisso que é tão importante
que entendamos esta grande salvação.
Alguns parecem pensar que
toda a salvação se restringe ao fato de que os nossos pecados são perdoados,
mas depois, quando se aproximam da morte, o diabo os tenta e eles ficam sem
saber onde estão, e tremem de medo de morrer. Os cristãos primitivos eram
assim, e lhes foi dado esse este ensino a fim de poderem ser libertados desse
medo. Contudo, precisamos aplicar isso.” (Romanos – D. Martyn Lloyd-Jones – Exposição sobre o capítulo 14
– pag. 149 – PES - 2004).
* Dicionário Strong