Estudo Bíblico

Como a igreja lida com caluniadores?

Como a igreja lida com caluniadores?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 3 Minutos

Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons” (II Tm 3:3).

A palavra ensina que nos últimos dias teremos tempos trabalhosos, com o homem fortemente apegado ao egoísmo para promoção pessoal, deixando o propósito da palavra de Deus em posição inferior à sua vontade particular de fazer as coisas como bem entender.  O caluniador (greg. “diabolos”) é alguém que acusa falsamente outrem com o mero intuito de difamar ou arruinar a honra e o caráter alheio. A difamação (greg. “katalalos”) tradicional mira causar descrédito e abalo moral na reputação pública do ofendido. Satanás era um caluniador ou difamador dos homens diante de Deus (Jó 1:7 e Apocalipse 12:10). A malignidade do difamador supera a do fofoqueiro, pois enquanto este conta fatos negativos da vida alheia, que o melhor seria que não se tornasse divulgado por uma boca abençoada, o que difama fala mal das pessoas inventando fatos irreais movido pela maldade de ofender. Não se iludam, na igreja também há joio, como foi ensinado por Jesus na parábola do joio e do trigo (Mateus 13:24-30).

A Bíblia também o chama de maldizente (greg. “diabolos”), pois são pessoas dadas a encontrar faltas no comportamento e conduta de outros e a espalhar suas insinuações e críticas pela igreja (I Tm 3:11, II Tm 3:3, Tito 2:3). Logo, o acusador ou difamador são aqueles que fazem acusações, comentários maliciosos em oposição aos princípios e regras de convivência entre irmãos ou por ser contra alguma verdade espiritual com a qual não concorda nem pratica, motivado por interesses pessoais ou simplesmente por perversidade – “Pois não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono se não fizerem alguém tropeçar. Porque comem o pão da impiedade, e bebem o vinho da violência.” (Pv 4:16-17).

Instigados pela malícia guardada no coração, o difamador não se acanha em ofender nem em provocar intrigas entre os irmãos com enganos e falsas acusações. Nas cartas pastorais o apóstolo Paulo usa “diabolos” referindo-se aos maldizentes ou caluniadores (I Tm 3:11, II Tm 3:3 e Tito 2:3). É um incendiário da paz alheia. A história de Jó mostra Satanás, o príncipe dos falsos acusadores ou difamadores, criando inimizade entre a humanidade e Deus, quando acusou falsamente esse servo íntegro e reto na presença de Deus (Jó 1:8-11). Entanto, o novo testamento emprega “diabolos” com maior frequência quando se refere ao Diabo ou Satanás, o anjo caído (Mateus 4:1, João 13:2, Atos 13:10, Efésios 4:27, 6:11, I Tm 3:7, I Pd 5:8).

Todo caluniador ou aquele que tem má língua age pelo espírito de Satanás e da mesma maneira que Satanás não permaneceu no céu “o caluniador não se estabelecerá na terra;” (Sl 140:11 - ARA). Se quem calunia soubesse o que lhe espera como juízo retrocederia no que faz, pois, Tiago ensina-nos que a língua injuriosa funciona como um fogo que contamina todo o corpo do mal falador – exatamente como se espalha uma doença infecciosa por todo o corpo a partir de uma ferida aberta (a língua) - podendo-lhe causar enfermidades, e oportunamente queimá-lo com o mesmo poder destrutivo do fogo do inferno (greg. “geenna”), pois a língua caluniadora é inflamada por demônios (Tg 3:6). “Geenna” é sinônimo de inferno, mas “designava originalmente o Vale do Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o lixo e os animais mortos da cidade eram jogados e queimados. É um símbolo apropriado para descrever o perverso e sua destruição futura” (Dicionário Strong).

Nestes tempos de internet e de redes sociais, mundo virtual que alguns ainda imaginam fora do controle e do alcance da lei, precisamos ser prudentes e cautelosos nas opiniões, pois a facilidade de falar poderá acarretar dificuldade para explicar quando tudo estiver sendo tratado no mundo real, frente a frente, fora do mundo virtual.

A igreja não foi estabelecida para ser enganada por pessoas perversas ou mal intencionadas influenciadas por Satanás, porquanto a palavra assegura que ninguém será punido ou excluído do corpo de Cristo por fofoca ou calúnia: “Uma só testemunha contra alguém não se levantará por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que cometeu; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato.” (Deuteronômio 19:15). Além de ser uma regra do antigo testamento, também se arvora em princípio diretivo de regulação da convivência na casa de Deus.

Também é certo que a igreja não deve fazer vista grossa para pecadores impenitentes que convivem na congregação dos justos, contudo existe a maneira correta de se manter a disciplina e a retidão moral dos membros do corpo de Cristo –“Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor.” (I Tm 5:20). A mesma segurança e paz contra falsa acusação a favor dos presbíteros ou pastores foi expressamente prevista no novo testamento, precaução providencial por ser a mentira o instrumento preferido de Satanás – “Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas.” (I Tm 5:19, João 8:17).

Então, o que fazer contra o caluniador? Nada. Ele próprio vai atrair o mal contra si (Provérbios 11:17:8, Colossenses 3:25). O Bom Rei diz que não ficará na sua casa o que usa de fraude, o mentiroso, o soberbo nem o caluniador – “Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei;” (Salmos 101:5). Contudo, o homem e a mulher santos não podem aceitar ofensas sem procurar o irmão da igreja para conversar: “O justo odeia a palavra de mentira, mas o ímpio faz vergonha e se confunde.” (Pv 13:5). O justo odeia a mentira, não o mentiroso. Não guarde sentimento de vingança nem de desprezo, seja longânimo e paciente na oração e no amor, pois isso incomodará mais o caluniador do que uma ofensa como revide.

Esta disciplina para resolução de questão na igreja foi confirmada e ensinada pelo próprio Senhor Jesus: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.” (Mateus 18:15-16).

Todo inocente tem um grito natural de indignação, que é a mais simples forma de legítima defesa. E, ao ouvir uma fofoca, o homem sábio se cala porque antes de opinar ou concordar avaliará a situação (Provérbios 17:28). O princípio espiritual ensinado por Jesus nessas questões de confusões e intrigas é o perdão, pois só ele apaga multidão de pecado e reflete a prática da verdade e da justiça no coração dos irmãos em Cristo (Colossenses 3:13).

Espera em Deus, a verdade brilhará gloriosa no meio do povo santo: “Não digas: Vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor, e ele te livrará.” (Provérbios 20:22:11, 24:29, Romanos 12:21).

*© Texto bíblico: ACF – SBTB