Estudo Bíblico

“Como é o povo assim é o sacerdote”

“Como é o povo assim é o sacerdote”

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 4 Minutos

Por isso, como é o povo, assim será o sacerdote; e castigá-lo-ei segundo os seus caminhos, e dar-lhe-ei a recompensa das suas obras.” (Oséias 4:9).

Numa linguagem popular pode se dizer: “Como é o povo, tal é o sacerdote e como é o sacerdote tal é o povo!. O mesmo ditado é falado em relação aos eleitores e aos políticos que eles elegem para comandar a sociedade. Infelizmente quando isso ocorre na igreja há evidente degradação moral e espiritual, representando verdadeira subversão contra os mandamentos divinos, pois as regras e o preceitos da lei de Deus foram dados para moldarem o coração do povo por meio do ensino ministrado pelos sacerdotes (Levítico 10:11). Aqui vemos que na época do profeta Oseias a corrupção havia se alastrado na Samaria, de alto a baixo, até profetas e sacerdotes haviam rejeitado o conhecimento do Senhor para se alimentarem do pecado do povo.

Os sacerdotes foram estabelecidos pela lei mosaica com autoridade para ensinarem a palavra de Deus, para que pudessem diferenciar o santo do profano, o imundo do limpo, para declararem a cura de doenças incuráveis e julgarem contendas entre pessoas, convolando-se em verdadeiros representantes da justiça divina em questões religiosas. No novo testamento este ofício está reservado aos que ministram para a igreja – apóstolos, profetas, missionários ou evangelistas, pastores e mestres (Efésios 4:11-12, I Tm 3:1-7), os quais são responsáveis pelo aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério e a edificação do corpo de Cristo (a igreja).

Os sacerdotes da velha aliança foram deixados como modelo de máxima santidade entre os homens, pureza de espírito e de alma que lhes dava o privilégio particular de serem os únicos homens da nação de Israel a chegarem tão perto de Deus – a glória de Deus estava junto da arca da aliança no Santo dos Santos - por meio de sacrifícios no altar do templo e de outros serviços na tenda do tabernáculo prestado em benefício da religiosidade dos israelitas. Essa pureza era simbolizada pelas vestes brancas que usavam quando ministravam no templo. Quem não fosse sacerdote ou levita e se aproximasse de onde estava a arca da aliança morria (Números 3:10).

A experiência da vida cristã ensina que o rebanho da igreja normalmente reflete aquilo que é pregado e ensinado no púlpito, mas principalmente o testemunho de vida do pastor ou da liderança da igreja. Não há como separar o fracasso sacerdotal do fracasso da igreja, pois a edificação e o alimento espiritual vêm do púlpito. Enquanto conviveu com os tessalonicenses pregando o evangelho de Cristo, o apóstolo Paulo dedicou-se ao ensino, pregações e a trabalhar incansavelmente pelo próprio sustento, em conduta irrepreensível, testemunho de vida que se tornou padrão e foi imitado pelos crentes daquela igreja (I Ts 1:6-7 e II Ts 3:9).

Inegável que pastores há que tentam condicionar o que se falar para o rebanho e o que não é “preciso” falar. Ora, nem tudo que se faz pela regra da boa convivência ou do politicamente correto é bom espiritualmente. Vai ter situação que não será possível se afastar da polêmica por ser necessária à defesa da fé cristã. Toda heresia e pecado precisa ser rejeitado do púlpito, mesmo com perda de membros que se sentirem atingidos pela pregação da verdade bíblica, pois sempre existem aqueles que o comportamento pecaminoso não é manifesto (I Tm 5:24). Sem pregação da palavra o pecador não será incomodado pelo Espírito Santo, não haverá conversão nem mudança de vida de quem precisa abandonar a vida de pecado.

Na volta de Judá do exílio o Senhor Deus repetiu o princípio da retidão sacerdotal dizendo: “ Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.” (Ml 2:7). Só a palavra de Deus pode purificar o coração corrompido pelo pecado. Está na lei a força e o poder de transformar o coração dos pecadores, mas quando há negligência ou omissão na pregação da palavra da verdade ocorre uma inversão inaceitável pela qual o povo condiciona aquilo que será ensinado pelos sacerdotes, pois esses foram corrompidos pelos mesmos pecados do povo. Os ouvintes não podem condicionar o que os pregadores irão falar, mesmo porque todo pregador ora a Deus antes de ministrar para que suas palavras sejam inspiradas pelo Espírito Santo.

O poder imoral (pecado do povo) sufocou e subjugou o poder moral (a lei de Deus) na terra de Israel, derrubando os sacerdotes da presença de Deus, homens que tinham sido separados para ensinar a lei ao povo. A retidão, a justiça e a ética dependem da palavra da verdade, do contrário é certa a ruína de qualquer indivíduo ou nação, pois “não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz. (Provérbios 29:18).

No novo testamento o apóstolo Paulo doutrinando sobre os falsos crentes diz que virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;” (II Tm 4:3), justamente focando na questão dos ouvintes desejarem ouvir somente aquilo que lhes agrada devido suas inclinações pecaminosas guardadas dentro do coração.

Serão tempos de homens com aparência de piedade, frequentadores de igrejas, mas vivendo dissolutamente os prazeres carnais e mundanos  (II Tm 3:5). Na expressão “amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências, o termo “amontoarão para si, dizem os estudiosos bíblicos, que esse tipo de crente vai procurar ouvir pregadores que falam exatamente o que lhes agrada, desprezando mensagens que pedem renúncia de pecado, obediência e submissão ao evangelho, porquanto a prática da verdadeira vida espiritual não satisfaz os desejos ou as concupiscências da carne, dos olhos e do coração.

Eles não terão dificuldade em encontrar mestres que falam coisas amenas, que não pregam continuamente contra o pecado ou que promete prosperidade material. vários montões de falsos pregadores seduzindo ouvintes que seguindo fábulas artificialmente compostas (II Pd 1:16) são enganados como a serpente fez com Eva, pois o método persuasivo desses mestres é o mesmo usado por Satanás.

Paulo chama esse tipo de pessoa de crentes carnais, os quais são aqueles que professam fé em Cristo, mas vivem de maneira mundana, sem demonstrar regeneração espiritual por meio do testemunho de uma vida guiada pelas coisas do reino de Deus (I Co 3:1-3), e ficando claro que não são novas criaturas em Cristo porque desde a conversão não mudaram o comportamento diante do mundo nem da igreja por falta de santificação pessoal, permanecendo com comportamento semelhante aos que têm os ímpios que estão fora da igreja. A solução espiritual para a fé de tais pessoas é bem simples: precisam voltar à palavra de Deus para obedecerem e com esforço buscarem a salvação pessoal (Lucas 16:16).

*© Texto bíblico: ACF – SBTB