
“Como é o povo assim é o sacerdote”
“Por
isso, como é o povo, assim será o sacerdote; e castigá-lo-ei
segundo os seus caminhos, e dar-lhe-ei a recompensa das suas obras.” (Oséias 4:9).
Numa linguagem popular pode se dizer: “Como é o povo, tal é o sacerdote
e como é o sacerdote tal é o povo!”. O mesmo ditado é falado em relação
aos eleitores e aos políticos que eles elegem para comandar a sociedade. Infelizmente
quando isso ocorre na igreja há evidente
degradação moral e espiritual, representando
verdadeira subversão contra os mandamentos divinos, pois as regras e o preceitos da
lei de Deus foram dados
para moldarem o coração do povo por
meio do ensino ministrado pelos sacerdotes (Levítico 10:11). Aqui vemos
que na época do profeta Oseias a corrupção havia se alastrado na Samaria, de
alto a baixo, até profetas e sacerdotes haviam rejeitado o conhecimento do
Senhor para se alimentarem do pecado do povo.
Os sacerdotes foram estabelecidos pela lei mosaica com
autoridade para ensinarem a palavra de Deus, para que pudessem diferenciar o
santo do profano, o imundo do limpo, para declararem a cura de doenças
incuráveis e julgarem contendas entre pessoas, convolando-se em verdadeiros
representantes da justiça divina em questões religiosas. No novo testamento
este ofício está reservado aos que ministram para a igreja – apóstolos, profetas,
missionários ou evangelistas, pastores e mestres (Efésios 4:11-12, I Tm 3:1-7), os
quais são responsáveis pelo aperfeiçoamento dos santos, para a obra do
ministério e a edificação do corpo de Cristo (a igreja).
Os sacerdotes da velha aliança foram deixados como modelo
de máxima santidade entre os homens, pureza de espírito e de alma que lhes dava
o privilégio particular de serem os únicos homens da nação de Israel a chegarem
tão perto de Deus – a glória de Deus estava junto da arca da aliança no Santo
dos Santos - por meio de sacrifícios no altar do templo e de outros serviços na
tenda do tabernáculo prestado em benefício da religiosidade dos israelitas.
Essa pureza era simbolizada pelas vestes brancas que usavam quando ministravam no
templo. Quem não fosse sacerdote ou levita e se aproximasse de onde estava a
arca da aliança morria (Números 3:10).
A experiência da vida cristã ensina que o rebanho da
igreja normalmente reflete aquilo que é pregado e ensinado no púlpito, mas
principalmente o testemunho de vida do pastor ou da liderança da igreja. Não há
como separar o fracasso sacerdotal do fracasso da igreja, pois a edificação e o
alimento espiritual vêm do púlpito. Enquanto conviveu com os tessalonicenses pregando
o evangelho de Cristo, o apóstolo Paulo dedicou-se ao ensino, pregações e a
trabalhar incansavelmente pelo próprio sustento, em conduta irrepreensível,
testemunho de vida que se tornou padrão e foi imitado pelos crentes daquela
igreja (I Ts 1:6-7 e II Ts 3:9).
Na volta de Judá do exílio o Senhor Deus repetiu o princípio
da retidão sacerdotal dizendo: “ Porque
os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os
homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.” (Ml
2:7). Só a palavra
de Deus pode purificar o coração corrompido
pelo pecado. Está na lei a
força e o poder de transformar o coração dos pecadores, mas quando há
negligência ou omissão na pregação da palavra da verdade ocorre uma inversão inaceitável pela qual o povo condiciona aquilo que será ensinado pelos sacerdotes, pois esses foram
corrompidos pelos mesmos pecados do povo. Os ouvintes não podem
condicionar o que os pregadores irão falar, mesmo porque todo pregador ora a
Deus antes de ministrar para que suas palavras sejam inspiradas pelo Espírito
Santo.
O poder imoral (pecado do povo) sufocou e subjugou
o poder moral (a lei de Deus) na terra de Israel,
derrubando os sacerdotes da presença de Deus, homens que tinham sido separados
para ensinar a lei ao povo. A retidão, a
justiça e a ética dependem da palavra da verdade, do
contrário é certa a ruína de qualquer indivíduo ou nação, pois “não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz.” (Provérbios 29:18).
No novo testamento o apóstolo Paulo doutrinando
sobre os falsos crentes diz que “virá
tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos,
amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências;” (II Tm 4:3),
justamente focando na questão dos ouvintes desejarem ouvir somente aquilo que lhes
agrada devido
suas inclinações
pecaminosas guardadas dentro
do coração.
Serão tempos de homens com aparência de piedade, frequentadores de igrejas, mas vivendo
dissolutamente os prazeres carnais e mundanos (II Tm 3:5).
Na expressão “amontoarão
para si doutores conforme as suas próprias concupiscências”, o termo “amontoarão
para si”, dizem os estudiosos bíblicos, que esse tipo de crente vai procurar
ouvir pregadores que falam exatamente o que lhes agrada, desprezando mensagens que pedem renúncia de pecado, obediência e
submissão ao evangelho, porquanto a prática da verdadeira vida
espiritual não satisfaz os desejos ou as concupiscências da
carne, dos olhos e do coração.
Eles não terão dificuldade em encontrar
mestres que falam coisas amenas, que não pregam continuamente
contra o pecado ou que promete prosperidade material. Já há vários montões
de falsos pregadores seduzindo
ouvintes que “seguindo
fábulas artificialmente compostas” (II Pd 1:16) são enganados como a serpente fez
com Eva, pois o método persuasivo desses
mestres é o mesmo usado por Satanás.
Paulo chama esse tipo de pessoa de crentes carnais, os quais são aqueles que professam fé em Cristo,
mas vivem de maneira mundana, sem demonstrar regeneração
espiritual por meio do testemunho
de uma vida guiada pelas coisas do reino de Deus (I Co 3:1-3), e ficando claro
que não são novas criaturas em Cristo porque desde a conversão não mudaram o
comportamento diante do mundo nem
da igreja por falta de santificação pessoal, permanecendo com comportamento semelhante aos que têm os ímpios que
estão fora da igreja. A solução espiritual para a fé de tais pessoas é bem simples: precisam
voltar à palavra de Deus para obedecerem e com esforço
buscarem a salvação pessoal (Lucas 16:16).