
Não faça sacrifícios de tolos
“Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se
para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem
que fazem mal.” (Eclesiastes 5:1).
A frase sacrifício de tolo tem origem na expressão “ouro de tolo”. Mas, o que é ouro de tolo?
É um jargão comumente usado na química referindo-se ao mineral pirita de ferro –
de onde se extrai o dissulfeto de ferro, o qual tem semelhança com o ouro -,
dada sua aparência brilhante de amarelo-dourado, fazendo a pirita parecer com o
ouro, porém é metal enganoso porque não tem valor. Em suma, quem sacrifica
tolamente ou por mera religiosidade não tem crédito com Deus, porque está se
cansando para acumular coisas inúteis, de nenhum valor. Assim, nota-se que a
religiosidade vazia e destituída de sinceridade, santidade e temor é chamada
pela palavra de Deus de “sacrifício ou oferta
de tolo”, porquanto pensando estarem fazendo o bem frequentando igreja
fazem não só algo inútil espiritualmente, mas também fazem mal para suas próprias
almas com o autoengano.
Deus rejeita sacrifício impuro ou insincero (I Sm 15:22, Isaías 1:13-18:3, Amós 5:21-24). Quando se diz que “chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos” (Eclesiastes 5:1 – ARA), na verdade está dizendo que é melhor obedecer do que sacrificar, pois o verbo ouvir e o verbo obedecer tem a mesma raiz na língua hebraica (heb. “smr”), de modo que num texto do antigo testamento (Êxodo 19:5, Deuteronômio 28:45, Neemias 9:29) quando se diz ser necessário ouvir a palavra do Senhor está implícito que a mesma deve ser obedecida. Um dos maiores erros religiosos da história do povo de Israel e também da Igreja foi considerar que práticas ou rituais religiosos agradam a Deus. Os rituais sempre agradaram a homens, pois Deus se agrada com santidade ou ética santa, na qual está a essência espiritual dos que temem a Deus.
Ouvir
atentamente o que diz a palavra ensinada é melhor do que oferecer sacrifício,
pois quem ouve a palavra e guarda seu ensino encontra o caminho para a vida (Pv
6:23, 10:17, 21:3). Quem não faz isso comparece inutilmente na igreja e oferece
sacrifício de tolo por não dar ouvidos às repreensões da palavra acerca do que
precisa ser corrigido em sua vida (II Tm 3:16).
A experiência mostra que atualmente há muitos batizados
nas igrejas, sem, contudo, se converterem, porquanto lhes falta a conversão
sincera que promove a regeneração da velha natureza (II Co 5:17). Há crentes
religiosos que em nada se distinguem dos homens mundanos, ambos têm idênticos
estilo de vida, mesmo aqueles vivendo o rito religioso de frequentarem igrejas
semana após semana são desprovidos de revestimento ou crescimento espiritual.
Religiosidade sem espiritualidade é coisa vã. A palavra ensina
que o fortalecimento da fé em Cristo requer tempo diário de exortação,
edificando “uns aos outros todos os dias”
(Hebreus 3:13) e também frequência regular à congregação ou igreja local (Hebreus 10:25),
igualmente para os santos admoestarem-se “uns
dos outros” no crescimento mútuo da fé individual e coletiva, visto que de
tais práticas religiosas carece o fortalecimento da unidade da fé.
Adotar
posição de isolamento na vida cristã enfraquece a convicção pessoal e coletiva
da fé – “Assim nós, que somos muitos,
somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.”
(Romanos 12:5 e I Co 12:12) -, posto que a comunhão entre os santos estimula, treina
e capacita os irmãos no amor, na oração e nas boas obras. Nunca se sai da
igreja do mesmo jeito que chegou, pois ali é removido o peso ou a sobrecarga que
o mundo e a carne colocam sobre nossa alma – “o meu fardo é leve” – e algo da pregação, do louvor, da adoração ou
todo o culto será proveitoso ao espírito porque ali está a presença do Senhor
por meio do Espírito Santo (Mateus 18:20).
Igreja
é local de compartilhar, de dar e receber admoestação, instruções e revelações
entre os santos, daquilo que lhe foi entregue pela palavra ou pelo Espírito
Santo, um fortalecendo ao outro e todos se mantendo no crescimento e na
esperança da graça de Cristo. É desta forma que se evita a apostasia, a
negligência e a desobediência espiritual e cada cristão torna-se participante
ativo do corpo de Cristo, quer seja por orações quer seja por serviços,
porquanto somente preservamos intacta a promessa da vida eterna “se
retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” (Hebreus 3:14). Em suma, a vida cristã baseia-se na exortação
diária e em comparecimento regular à igreja local, onde ocorre a admoestação
uns dos outros pelo Espírito do Deus vivo, com o coração sempre disposto a
ouvir e a obedecer.