Estudo Bíblico

Não faça sacrifícios de tolos

Não faça sacrifícios de tolos

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 2 Minutos

Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.” (Eclesiastes 5:1).

A frase sacrifício de tolo tem origem na expressão “ouro de tolo”. Mas, o que é ouro de tolo? É um jargão comumente usado na química referindo-se ao mineral pirita de ferro – de onde se extrai o dissulfeto de ferro, o qual tem semelhança com o ouro -, dada sua aparência brilhante de amarelo-dourado, fazendo a pirita parecer com o ouro, porém é metal enganoso porque não tem valor. Em suma, quem sacrifica tolamente ou por mera religiosidade não tem crédito com Deus, porque está se cansando para acumular coisas inúteis, de nenhum valor. Assim, nota-se que a religiosidade vazia e destituída de sinceridade, santidade e temor é chamada pela palavra de Deus de “sacrifício ou oferta de tolo”, porquanto pensando estarem fazendo o bem frequentando igreja fazem não só algo inútil espiritualmente, mas também fazem mal para suas próprias almas com o autoengano.

Deus rejeita sacrifício impuro ou insincero (I Sm 15:22, Isaías 1:13-18:3, Amós 5:21-24). Quando se diz que “chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos” (Eclesiastes 5:1 – ARA), na verdade está dizendo que é melhor obedecer do que sacrificar, pois o verbo ouvir e o verbo obedecer tem a mesma raiz na língua hebraica (heb. “smr”), de modo que num texto do antigo testamento (Êxodo 19:5, Deuteronômio 28:45, Neemias 9:29) quando se diz ser necessário ouvir a palavra do Senhor está implícito que a mesma deve ser obedecida. Um dos maiores erros religiosos da história do povo de Israel e também da Igreja foi considerar que práticas ou rituais religiosos agradam a Deus. Os rituais sempre agradaram a homens, pois Deus se agrada com santidade ou ética santa, na qual está a essência espiritual dos que temem a Deus.

         O novo testamento rejeitou o valor espiritual dos rituais religiosos e dos cerimonialismos exteriores quando Paulo enfrentou as ordenanças e ritos dos gnósticos (Colossenses 2:20-23). Deus nunca reconheceu rituais como ato de justiça ou de santidade, porquanto a retidão de caráter que conduz à vida santa provém da observância dos preceitos e dos juízos divinos (Amós 5:24). A justiça dos céus advém da obediência aos preceitos e juízos da palavra, não em coisas de aparência exterior, porque neles se fundamenta a santidade ética da vida cristã que procede do coração.

Ouvir atentamente o que diz a palavra ensinada é melhor do que oferecer sacrifício, pois quem ouve a palavra e guarda seu ensino encontra o caminho para a vida (Pv 6:23, 10:17, 21:3). Quem não faz isso comparece inutilmente na igreja e oferece sacrifício de tolo por não dar ouvidos às repreensões da palavra acerca do que precisa ser corrigido em sua vida (II Tm 3:16).

A experiência mostra que atualmente há muitos batizados nas igrejas, sem, contudo, se converterem, porquanto lhes falta a conversão sincera que promove a regeneração da velha natureza (II Co 5:17). Há crentes religiosos que em nada se distinguem dos homens mundanos, ambos têm idênticos estilo de vida, mesmo aqueles vivendo o rito religioso de frequentarem igrejas semana após semana são desprovidos de revestimento ou crescimento espiritual. Religiosidade sem espiritualidade é coisa vã. A palavra ensina que o fortalecimento da fé em Cristo requer tempo diário de exortação, edificando “uns aos outros todos os dias” (Hebreus 3:13) e também frequência regular à congregação ou igreja local (Hebreus 10:25), igualmente para os santos admoestarem-se “uns dos outros” no crescimento mútuo da fé individual e coletiva, visto que de tais práticas religiosas carece o fortalecimento da unidade da fé.

Adotar posição de isolamento na vida cristã enfraquece a convicção pessoal e coletiva da fé – “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.” (Romanos 12:5 e I Co 12:12) -, posto que a comunhão entre os santos estimula, treina e capacita os irmãos no amor, na oração e nas boas obras. Nunca se sai da igreja do mesmo jeito que chegou, pois ali é removido o peso ou a sobrecarga que o mundo e a carne colocam sobre nossa alma – “o meu fardo é leve” – e algo da pregação, do louvor, da adoração ou todo o culto será proveitoso ao espírito porque ali está a presença do Senhor por meio do Espírito Santo (Mateus 18:20).

Igreja é local de compartilhar, de dar e receber admoestação, instruções e revelações entre os santos, daquilo que lhe foi entregue pela palavra ou pelo Espírito Santo, um fortalecendo ao outro e todos se mantendo no crescimento e na esperança da graça de Cristo. É desta forma que se evita a apostasia, a negligência e a desobediência espiritual e cada cristão torna-se participante ativo do corpo de Cristo, quer seja por orações quer seja por serviços, porquanto somente preservamos intacta a promessa da vida eterna “se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” (Hebreus 3:14). Em suma, a vida cristã baseia-se na exortação diária e em comparecimento regular à igreja local, onde ocorre a admoestação uns dos outros pelo Espírito do Deus vivo, com o coração sempre disposto a ouvir e a obedecer.

Texto bíblico: ACF