Mensagem Bíblica

Consciência cauterizada: vida insensível espiritualmente

Consciência cauterizada: vida insensível espiritualmente

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 7 Minutos

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;” (I Tm 4:1-2).

Na elocução “cauterizada a sua própria consciência, a qual é uma expressão idiomática (greg. “kauteriazomai suneidesis”), o verbo cauterizar (greg. “kauteriazo”) significa queimar com ferro em brasa, secar, grelhar, tornar insensível ou mortificar,* referindo-se às almas insensíveis com as marcas do pecado que permanentemente carregam consigo, sem se importar, a consciência de pecado. A Bíblia fala de vários tipos de consciência – boa, pura, contaminada pelo pecado, culpada, fraca, endurecida e cauterizada.

O maior dano que a cauterização da consciência provoca é a insensibilidade espiritual, situação na qual a pessoa não se importa em conviver com o pecado nem em pecar mais vezes, muito menos pensa em arrepender-se do mal feito. Não se engane: deixar o homem sem capacidade de discernir entre o certo e o errado é a intenção principal do diabo, pois para ele se o homem ficar cego espiritualmente ele não conseguirá ser libertado do pecado nem verá a glória do evangelho de Jesus Cristo, e passará seus dias enganado pelas coisas do mundo até perecer para sempre (II Co 4:3).

Qualquer homem tem inato dentro de si capacidade para entender o que é certo e errado, justiça e injustiça e o bem e o mal, de modo a viver em retidão moral. O crente e o ateu são dotados desse discernimento, pois a consciência é comum a todos os homens. Temos, então, que a consciência é o nosso juiz interior (João 8:9, Romanos 2:15, 9:1 e 13:5) e ela começa a operar quando se obtém entendimento acerca do bem e do mal. Ela atua como um juiz negativo porque apenas desaprova nossos erros e aponta nossa culpa, cobrando inflexivelmente que se faça o certo. A consciência tem essencialmente caráter acusador no íntimo de cada homem.

Os irmãos de José, na perversidade do coração, o venderam aos midianitas, mercadores de escravos (Gênesis 37:28). Passaram-se cerca de treze anos, esses irmãos estavam sendo interrogado pelo governador do Egito, contudo não sabiam que referida autoridade era José, o irmão que davam como morto. Ao serem informados que ficariam presos sob suspeita de espionagem, ainda na frente do governador, eles recordaram a maldade praticada contra José, obviamente cobrados pela consciência – Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia.” (Gênesis 42:21). Mesmo decorrido tanto tempo a consciência os cobrava pelo mal feito.

A principal função da consciência é julgar negativamente cada um de nós apontando erros e ilegalidades cometidas, ao tempo que dispara o sentimento de culpa pelo mal feito. Qual é o objetivo desse mecanismo operado pela consciência? Levar o homem ao arrependimento. Por isso a chamam de juiz negativo ou sensor de culpa. É o Anjo da Guarda que só dá puxões de orelhas. Elogiar o certo não é sua função.

Por meio da consciência sabemos se agimos com retidão ou de maneira reprovável. Quem ouve a palavra da verdade e está no pecado ou no erro se autoacusa imediatamente. Isso acontecia com os fariseus. Depois que Jesus contou a parábola dos lavradores maus, falando implicitamente da rejeição do Filho do homem pela nação de Israel, “os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles” (Mt 21:45) e tentaram prendê-lo porque suas consciências os identificou como os maus lavradores da narrativa e passou a acusá-los internamente. E, na celebração da última ceia de Jesus com seus discípulos, após falar que seria traído por um daqueles que estava com ele na mesa, Judas também se acusou diante dos apóstolos dizendo: “Porventura sou eu, Rabi? (Mateus 26:25).

Embora a consciência tenha sido colocada dentro de cada homem por Deus, seu funcionamento regular pode ser alterado pelo pecado ou doutrinas demoníacas, tornando-a endurecida, desprovida de freios morais, alterando, de forma simultânea, a conduta do pecador, o qual começa demonstrando arrogância e pode progredir até à perversão desordenada e imoral sem se importar se o comportamento pecaminoso fere pessoas ou ofende a Deus, justamente porque desapareceram as restrições que a consciência normalmente impõe ao ser humano, cristão ou incrédulo.

A intensidade do pecado afugenta o juiz natural que habitava em seu interior, deixando o pecador insensível aos sentimentos morais, principalmente ao sentimento de culpa. Este é o estado da consciência cauterizada, própria dos incrédulos e apóstatas (I Tm 4:2). A principal causa da ineficiência natural da consciência é a dureza do coração dos homens (Zacarias 7:12), devido a ausência ou rejeição da palavra de Deus, por ser ela o meio de renovação e vivificação dos pensamentos e raciocínios da mente humana (Romanos 12:2).

Os ninivitas e todo o povo assírio eram violentos e cruéis com seus inimigos. Matavam e dependuravam os corpos em postes, bem como tinham a maldade de arrancar a pele dos corpos e entendê-la em suas tendas. Eram muito maldosos. Aí está um exemplo do mal que o homem é capaz de fazer se tiver a consciência cauterizada, que perdeu a noção do certo e errado, entregando-se ao domínio absoluto do mal que impera no pecado. No entanto, Deus teve misericórdia dos ninivitas e enviou o profeta Jonas (hebr. “Pomba”) para lhes pregar a salvação, o que desagradou extremamente Jonas, mas, mesmo contrariado e irado, pregou a palavra e houve arrependimento de pecados em toda Nínive. Então, ao final Deus explicou que teve compaixão dos ninivitas porque a consciência deles estava tão cauterizada pelos pecados que eles não sabiam “discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda” (Jonas 4:11).

Em suma, a consciência é a maior aliada da salvação da alma, pois a todo momento lembra-nos do senso de urgência que precisamos ter na busca da salvação em Cristo, verdadeira voz interior a dizer incessantemente que a fé na obra redentora da cruz é a única maneira de ganhar a salvação e a vida eterna. Não é exagero dizer que a consciência é a voz do amor de Deus clamando em todas as almas, posto que fala ao coração incrédulo (que não tem o Espírito Santo, porque vive em pecado) e também ao coração do crente, no qual há o Espírito Santo, pois sabemos que Deus “quer que todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade.” (I Tm 2:4).

Pai Grandioso, dê-nos uma consciência boa e pura para que jamais haja acomodação do pecado dentro de nossos corações, vez que nosso desejo é ouvirmos sempre essa voz do amor divino alertando a alma acerca de tudo que é errado e do poder maligno do pecado, especialmente nestes últimos tempos que vivemos. Louvado seja seu nome, Deus Altíssimo, só tu és Deus e não há outro que possa cuidar de nós como tu fazes. Amém.

* Dicionário Strong

**© Texto bíblico: ACF – SBTB