
Consciência cauterizada: vida insensível espiritualmente
“Mas
o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns
da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios;
Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua
própria consciência;” (I Tm 4:1-2).
Na elocução “cauterizada
a sua própria consciência”, a qual é uma expressão idiomática (greg. “kauteriazomai
suneidesis”), o verbo cauterizar (greg. “kauteriazo”) significa queimar com
ferro em brasa, secar,
grelhar, tornar insensível ou mortificar,* referindo-se às almas insensíveis com as
marcas do pecado que permanentemente carregam consigo,
sem se importar, a consciência de pecado. A Bíblia fala de vários tipos de
consciência – boa, pura, contaminada pelo pecado, culpada, fraca, endurecida e
cauterizada.
O maior dano que
a cauterização da consciência provoca é a insensibilidade espiritual, situação
na qual a pessoa não se importa em conviver com o pecado nem em pecar mais
vezes, muito menos pensa em arrepender-se do mal feito. Não se engane: deixar o
homem sem capacidade de discernir entre o certo e o errado é a intenção
principal do diabo, pois para ele se o homem ficar cego espiritualmente ele não
conseguirá ser libertado do pecado nem verá a glória do evangelho de Jesus
Cristo, e passará seus dias enganado pelas coisas do mundo até perecer para
sempre (II Co 4:3).
Qualquer homem tem inato dentro de si capacidade para entender o que é certo e errado, justiça e injustiça e o bem e o mal, de modo a viver em retidão moral. O crente e o ateu são dotados desse discernimento, pois a consciência é comum a todos os homens. Temos, então, que a consciência é o nosso juiz interior (João 8:9, Romanos 2:15, 9:1 e 13:5) e ela começa a operar quando se obtém entendimento acerca do bem e do mal. Ela atua como um juiz negativo porque apenas desaprova nossos erros e aponta nossa culpa, cobrando inflexivelmente que se faça o certo. A consciência tem essencialmente caráter acusador no íntimo de cada homem.
Os irmãos de José, na perversidade do coração, o venderam aos midianitas, mercadores de escravos (Gênesis 37:28). Passaram-se cerca de treze anos, esses irmãos estavam sendo interrogado pelo governador do Egito, contudo não sabiam que referida autoridade era José, o irmão que davam como morto. Ao serem informados que ficariam presos sob suspeita de espionagem, ainda na frente do governador, eles recordaram a maldade praticada contra José, obviamente cobrados pela consciência – “Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia.” (Gênesis 42:21). Mesmo decorrido tanto tempo a consciência os cobrava pelo mal feito.
A principal
função da consciência é julgar negativamente cada um de nós apontando erros e
ilegalidades cometidas, ao tempo que dispara o sentimento de culpa pelo mal
feito. Qual é o objetivo desse mecanismo operado pela consciência? Levar o
homem ao arrependimento. Por isso a chamam de juiz negativo ou sensor de culpa.
É o Anjo da Guarda que só dá puxões de orelhas. Elogiar o certo não é
sua função.
Por meio da consciência sabemos
se agimos com retidão ou de maneira reprovável. Quem ouve a palavra da verdade
e está no pecado ou no erro se autoacusa imediatamente. Isso acontecia com os
fariseus. Depois que Jesus contou a parábola dos lavradores maus, falando implicitamente
da rejeição do Filho do homem pela nação de Israel, “os
príncipes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas palavras, entenderam que
falava deles” (Mt
21:45) e tentaram prendê-lo porque suas consciências os identificou como os
maus lavradores da narrativa e passou a acusá-los internamente. E, na
celebração da última ceia de Jesus com seus discípulos, após falar que seria
traído por um daqueles que estava com ele na mesa, Judas também se acusou diante
dos apóstolos dizendo: “Porventura sou
eu, Rabi?” (Mateus 26:25).
Embora a
consciência tenha sido colocada dentro de cada homem por Deus, seu
funcionamento regular pode ser alterado pelo pecado ou doutrinas demoníacas, tornando-a endurecida, desprovida
de freios morais, alterando, de forma simultânea, a conduta do pecador, o qual
começa demonstrando arrogância e pode progredir até à perversão desordenada e
imoral sem se importar se o comportamento pecaminoso fere pessoas ou ofende a
Deus, justamente porque desapareceram as restrições que a consciência
normalmente impõe ao ser humano, cristão ou incrédulo.
A intensidade do pecado
afugenta o juiz natural que habitava em seu interior, deixando o pecador
insensível aos sentimentos morais, principalmente ao sentimento de culpa. Este
é o estado da consciência cauterizada, própria dos incrédulos e apóstatas (I Tm
4:2). A principal causa da ineficiência natural da
consciência é a dureza do coração dos homens (Zacarias 7:12), devido a ausência ou
rejeição da palavra de Deus, por ser ela o meio de renovação e vivificação dos
pensamentos e raciocínios da mente humana (Romanos 12:2).
Os ninivitas e todo o povo
assírio eram violentos e cruéis com seus inimigos. Matavam e dependuravam os
corpos em postes, bem como tinham a maldade de arrancar a pele dos corpos e
entendê-la em suas tendas. Eram muito maldosos. Aí está um exemplo do mal que o
homem é capaz de fazer se tiver a consciência cauterizada, que perdeu a noção
do certo e errado, entregando-se ao domínio absoluto do mal que impera no
pecado. No entanto, Deus teve misericórdia dos ninivitas e enviou o profeta
Jonas (hebr. “Pomba”) para lhes
pregar a salvação, o que desagradou extremamente Jonas, mas, mesmo contrariado
e irado, pregou a palavra e houve arrependimento de pecados em toda Nínive.
Então, ao final Deus explicou que teve compaixão dos ninivitas porque a
consciência deles estava tão cauterizada pelos pecados que eles não sabiam “discernir entre a sua mão direita e a sua
mão esquerda” (Jonas 4:11).
Em suma, a consciência é a maior aliada da
salvação da alma, pois a todo momento lembra-nos do senso de urgência que
precisamos ter na busca da salvação em Cristo, verdadeira voz interior a dizer incessantemente
que a fé na obra redentora da cruz é a única maneira de ganhar a salvação e a
vida eterna. Não é exagero dizer que a consciência é a voz do amor de Deus
clamando em todas as almas, posto que fala ao coração incrédulo (que não tem o
Espírito Santo, porque vive em pecado) e também ao coração do crente, no qual
há o Espírito Santo, pois sabemos que Deus “quer
que todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade.” (I
Tm 2:4).
Pai Grandioso, dê-nos uma consciência
boa e pura para que jamais haja acomodação do pecado dentro de nossos corações,
vez que nosso desejo é ouvirmos sempre essa voz do amor divino alertando a alma
acerca de tudo que é errado e do poder maligno do pecado, especialmente nestes
últimos tempos que vivemos. Louvado seja seu nome, Deus Altíssimo, só tu és Deus
e não há outro que possa cuidar de nós como tu fazes. Amém.
* Dicionário
Strong