Mensagem Bíblica

Jesus a Pedro: “Para trás de mim Satanás”

Jesus a Pedro: “Para trás de mim Satanás”

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 7 Minutos

Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” (Mateus 16:23).

O contexto mostra que Jesus tinha acabado de revelar expressamente aos discípulos que ele era o Cristo e que por isso deveria ir a Jerusalém padecer nas mãos dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, para então ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Nunca antes ele havia revelado claramente que de fato era o Cristo prometido por Deus a Israel. Pedro chamou-o à parte, como quem querendo falar-lhe em particular, e o repreendeu severamente (greg. “epitimao”) dizendo que isso não lhe aconteceria – “E Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso.” (Mt 16:22).

Ora, a Bíblia não fala quanto tempo passou entre a revelação de Jesus aos discípulos e a conversa com Pedro, mas foi tempo suficiente para Pedro lançar uma pedra de tropeço (greg. “skandalon”) à missão que Deus tinha dado a seu Filho. Daí a repreensão severa a Pedro. O uso da palavra “Satanás” foi para dizer que por falta de discernimento espiritual Pedro estava se comportando como o anjo caído, dando mais atenção às coisas da carne e deste mundo do que ao cumprimento da vontade de Deus, denunciando-nos que a tática preferida de Satanás para afastar o homem de Deus é fazê-lo pensar em si mesmo e não no propósito divino.

Pedro tentou evitar que Jesus chegasse à cruz, justamente o propósito pelo qual o Deus Filho encarnou e veio ao mundo, e ao fazer tal coisa Pedro equiparou sua vontade à vontade de Satanás que era fazer Jesus negar o caminho da cruz, como o diabo fizera anteriormente quando mostrou todos os reinos do mundo no alto do monte e lhe propôs a glória deste mundo se o adorasse (Mateus 4:9-10). As palavras eram de Pedro, mas o pensamento e o propósito eram de Satanás, como é de Satanás tudo que nos leva a negar a Deus.

A repreensão do apóstolo ensina que não devemos achar que a vida cristã é sem sofrimento, sem renúncia ou sem oposição às coisas do mundo, pelo contrário temos que estar preparado como Jesus estava para, se preciso for até morrer pelas coisas do reino de Deus. Não deixar Jesus agradar o Pai era o que Satanás gostaria de ver Jesus fazer. Então, a expressão “para trás de mim, Satanás” significa não vou me deixar guiar pela sua vontade porque sigo a vontade do Pai. Muitas vezes na defesa da nossa fé precisamos rejeitar conselhos de pessoas próximas para cumprir resolutamente a vontade de Deus e não a da carne ou do mundo.

Nota-se que a auto piedade pode ter origem em Satanás, tentando passar a ideia que não viemos a este mundo para sofrer, mas para só fazermos o que for agradável aos nossos interesses, deixando de lado o propósito que Deus tem para cada alma que ele criou – “Eu disse no meu coração: Deus julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.(Eclesiastes 3:17). Muitos desistem da prova divina porque não entendem que a disciplina do amor traz dor e sofrimento, porém são necessários principalmente aos que são têm algum chamado ministerial, porque primeiro Deus tira a sujeira da prata para depois fazer um vaso de honra (Provérbios 25:4).

Também não devemos ficar murmurando diante de adversidades, perseguições, injustiças ou imprevistos, mas alicerçar-se com confiança no livramento de Deus, meditando na palavra e orando a todo tempo – “Se te mostrares fraco no dia da angústia, é que a tua força é pequena.” (Provérbios 24:10).

Em várias oportunidades Jesus ensinou que o sofrimento faz parte da vida cristã, sendo importante para a purificação, disciplina e perseverança que fortalecem a esperança da vida eterna. É fato comprovado que o Senhor Jesus sofreu muito fisicamente durante o jejum de quarenta dias no deserto, período que foi ao mesmo uma provação da sua obediência ao Pai e também de resistência às tentações de Satanás (Mateus 4:1-11), porém em momento algum se fez de fraco ou desobedeceu a vontade de Deus. Se o início da vida ministerial dele foi de sofrimento, não foi diferente o final, pois, orando no Getsemani suou sangue por causa da angústia que lhe sufocava, e a partir do momento que foi preso pelos guardas do templo foi zombado, esbofeteado, cuspido, ferido com a coroa de espinho, açoitado, carregou a cruz pelas ruas de Jerusalém, até ser pregado na cruz e furado por uma lança, mas tudo suportou em obediência ao propósito eterno de Deus de salvar a humanidade pela fé na sua morte – “todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:39).

A partir da experiência da cruz é inconcebível desejar viver pela fé sem passar por dificuldades ou abalos que balançam toda a estrutura espiritual que proporcionava momentos bons, pois essas aflições são necessárias ao fortalecimento e nos fazem participantes das aflições de Cristo (I Pd 4:12-13, 5:9-10). Não devemos esquecer que o chamado cristão inclui o dever de testemunhar o que vivenciamos na fé, inclusive as perseguições, injustiças e prisões pelo nome de Cristo (Lucas 21:12-13).

É de grande impacto ouvir o apóstolo Pedro declarar que nosso chamado inclui sofrer, não justamente por algo feito de errado, mas injustamente ou sem merecer ainda que tenha feito o bem, pois isso será agradável a Deus – “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.” (I Pd 2:21-22).

O alvo do escândalo é o coração do homem, pois é uma arma que Satanás usa para esfriar a fé e ânimo dos cristãos no evangelho da verdade. Quando vê escândalos o coração dos homens desanima na fé e se endurece à palavra. Ele sabe que o nosso coração é enganoso, soberbo e vaidoso. Ele faz isso por experiência própria, pois encheu o coração de soberba para ser igual a Deus e foi expulso dos céus (Isaías 14:14 e Apocalipse 12:9).

No Éden ele enganou Eva cutucando a vaidade e a soberba do coração dela quando a estimulou a comer o fruto proibido dizendo que assim abririam seus olhos do entendimento do bem e do mal e isso a faria ser igual a Deus. Satanás sempre usa a rebeldia para afastar os homens de Deus. O que nos livra desse perigo é guardar os preceitos e os mandamentos de Deus no coração porque são eles que iluminam nossos olhos para ver os enganos e as ciladas espirituais urdidas pelo nosso inimigo (Salmos 19:8:11).

Cristo, dá-nos sabedoria e discernimento para imitá-lo em tudo que fizeste para mostrar o caminho da salvação eterna aos homens.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB