
Jesus a Pedro: “Para trás de mim Satanás”
“Ele,
porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me
serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus,
mas só as que são dos homens.” (Mateus 16:23).
O contexto
mostra que Jesus tinha acabado de revelar expressamente aos discípulos que ele
era o Cristo e que por isso deveria ir a Jerusalém padecer nas mãos dos
anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, para então ser morto e
ressuscitar ao terceiro dia. Nunca antes ele havia revelado claramente que de
fato era o Cristo prometido por Deus a Israel. Pedro chamou-o à parte, como
quem querendo falar-lhe em particular, e o repreendeu severamente (greg. “epitimao”) dizendo que isso não lhe
aconteceria – “E
Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem
compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso.” (Mt
16:22).
Ora, a
Bíblia não fala quanto tempo passou entre a revelação de Jesus aos discípulos e
a conversa com Pedro, mas foi tempo suficiente para Pedro lançar uma pedra de
tropeço (greg. “skandalon”) à missão
que Deus tinha dado a seu Filho. Daí a repreensão severa a Pedro. O uso da
palavra “Satanás” foi para dizer que
por falta de discernimento espiritual Pedro estava se comportando como o anjo
caído, dando mais atenção às coisas da carne e deste mundo do que ao
cumprimento da vontade de Deus, denunciando-nos que a tática preferida de
Satanás para afastar o homem de Deus é fazê-lo pensar em si mesmo e não no
propósito divino.
Pedro tentou
evitar que Jesus chegasse à cruz, justamente o propósito pelo qual o Deus Filho
encarnou e veio ao mundo, e ao fazer tal coisa Pedro equiparou sua vontade à
vontade de Satanás que era fazer Jesus negar o caminho da cruz, como o diabo
fizera anteriormente quando mostrou todos os reinos do mundo no alto do monte e
lhe propôs a glória deste mundo se o adorasse (Mateus 4:9-10). As palavras eram de
Pedro, mas o pensamento e o propósito eram de Satanás, como é de Satanás tudo
que nos leva a negar a Deus.
A repreensão do apóstolo ensina que não devemos achar que a vida cristã é sem sofrimento, sem renúncia ou sem oposição às
coisas do mundo, pelo contrário temos
que estar preparado como Jesus estava para, se preciso for até morrer pelas coisas do reino de Deus. Não deixar Jesus
agradar o Pai era o que Satanás gostaria de ver Jesus
fazer. Então, a expressão “para
trás de mim, Satanás” significa não vou me deixar guiar pela sua
vontade porque sigo a vontade do Pai. Muitas
vezes na defesa da
nossa fé precisamos rejeitar
conselhos de pessoas próximas para cumprir resolutamente a vontade de
Deus e não a da carne ou do
mundo.
Nota-se que a auto piedade pode ter origem
em Satanás, tentando passar a ideia que não viemos a este mundo para sofrer,
mas para só fazermos o que for agradável aos nossos interesses, deixando de
lado o propósito que Deus tem para cada alma que ele criou – “Eu disse no meu coração: Deus julgará o
justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda a obra.” (Eclesiastes 3:17). Muitos desistem da prova divina porque não entendem que
a disciplina do amor traz dor e sofrimento, porém são necessários principalmente
aos que são têm algum chamado ministerial, porque primeiro Deus tira a sujeira
da prata para depois fazer um vaso de honra (Provérbios 25:4).
Também não devemos ficar murmurando diante
de adversidades, perseguições, injustiças ou imprevistos, mas alicerçar-se com
confiança no livramento de Deus, meditando na palavra e orando a todo tempo – “Se te mostrares fraco no dia da angústia,
é que a tua força é pequena.” (Provérbios 24:10).
Em várias oportunidades Jesus ensinou que o
sofrimento faz parte da vida cristã, sendo importante para a purificação,
disciplina e perseverança que fortalecem a esperança da vida eterna. É fato comprovado
que o Senhor Jesus sofreu muito fisicamente durante o jejum de quarenta dias no
deserto, período que foi ao mesmo uma provação da sua obediência ao Pai e
também de resistência às tentações de Satanás (Mateus 4:1-11), porém em momento
algum se fez de fraco ou desobedeceu a vontade de Deus. Se o início da vida
ministerial dele foi de sofrimento, não foi diferente o final, pois, orando no
Getsemani suou sangue por causa da angústia que lhe sufocava, e a partir do
momento que foi preso pelos guardas do templo foi zombado, esbofeteado,
cuspido, ferido com a coroa de espinho, açoitado, carregou a cruz pelas ruas de
Jerusalém, até ser pregado na cruz e furado por uma lança, mas tudo suportou em
obediência ao propósito eterno de Deus de salvar a humanidade pela fé na sua
morte – “todavia, não seja como eu
quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:39).
A partir da experiência da cruz é inconcebível desejar viver pela fé sem
passar por dificuldades ou abalos que balançam toda a estrutura espiritual que
proporcionava momentos bons, pois essas aflições são necessárias ao
fortalecimento e nos fazem participantes das aflições de Cristo (I Pd 4:12-13,
5:9-10). Não devemos esquecer que o chamado cristão inclui o dever de
testemunhar o que vivenciamos na fé, inclusive as perseguições, injustiças e
prisões pelo nome de Cristo (Lucas 21:12-13).
É de grande impacto ouvir o apóstolo Pedro declarar que nosso chamado
inclui sofrer, não justamente por algo feito de errado, mas injustamente ou sem
merecer ainda que tenha feito o bem, pois isso será agradável a Deus – “Porque para isto sois chamados; pois
também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas
pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.” (I
Pd 2:21-22).
O alvo do escândalo é o coração do homem, pois é uma arma que
Satanás usa para esfriar a fé e ânimo dos cristãos no evangelho da verdade.
Quando vê escândalos o coração dos homens desanima na fé e se endurece à
palavra. Ele sabe que o nosso coração é enganoso, soberbo e vaidoso. Ele faz
isso por experiência própria, pois encheu o coração de soberba para ser igual a
Deus e foi expulso dos céus (Isaías 14:14 e Apocalipse 12:9).
No Éden ele enganou Eva cutucando a vaidade e a soberba do
coração dela quando a estimulou a comer o fruto proibido dizendo que assim
abririam seus olhos do entendimento do bem e do mal e isso a faria ser igual a
Deus. Satanás sempre usa a rebeldia para afastar os homens de Deus. O que nos
livra desse perigo é guardar os preceitos e os mandamentos de Deus no coração
porque são eles que iluminam nossos olhos para ver os enganos e as ciladas
espirituais urdidas pelo nosso inimigo (Salmos 19:8:11).
Cristo, dá-nos sabedoria e discernimento para imitá-lo em
tudo que fizeste para mostrar o caminho da salvação eterna aos homens.