
Toda fé precisa ser útil
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!
Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais
importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas
coisas, e não omitir aquelas.” (Mateus 23:23).
A expressão
proverbial “Ai de vós” é o anúncio
profético de que referido ato ou conduta atrairá a reprovação e o juízo de
Deus. É sentença que representa pena e tristeza pelo mal que
alguém certamente sofrerá por algo que está fazendo contra a vontade de Deus.
No termo “deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas”, o verbo “deveis” (greg. “sei”) refere-se a uma necessidade de lei e mandamento, de dever, de
justiça, estabelecidos por Deus, pelo qual naturalmente há uma inclinação
interna em cada um de nós por dizer respeito à salvação eterna da alma,
verdadeiro senso de dever ou de obrigação que favorece a comunhão com a
essência divina.* Aqui vemos o espaço da eternidade gravado e reservado no
coração dos homens clamando ser preenchido pela eterna palavra de Deus e não
por coisas exteriores ou materiais - “Tudo
fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do
homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio
até ao fim.” (Eclesiastes 3:11 - ARA).
Os
fariseus eram legalistas, faziam tudo o que no seu entender atendia a lei
mosaica, crendo que suas atividades religiosas os redimiam diante de Deus, o
que foi criticado por Jesus. Eles davam o dízimo das pequenas ervas ou plantas
(Levítico 27:30), a fim de parecerem rigorosamente obedientes, contudo negligenciavam
as coisas mais importantes e sérias (greg. “barus”)
da fé verdadeira – “Condutores cegos! Que
coais um mosquito e engolis um camelo.” (Mateus 23:24). Esta censura de Jesus
aos fariseus deixa-nos um aviso bem claro: Não podemos ignorar o que é
importante e verdadeiro para o crescimento na fé – amor, justiça, misericórdia,
oração e santificação -, contentando-se com a aparência religiosa.
Não
obstante a aparente religiosidade eles eram injustos, não tinham misericórdia e
nem fé sincera. Neles se via a essência da fé egoísta, sem compaixão ou
misericórdia com o próximo, puramente religiosa e sem Deus. Ou seja, eles não
serviam a Deus com amor porque tudo era legalismo, pois o que agrada a Cristo é
a justiça, a misericórdia e “a fé que opera pelo amor.” (Gálatas 5:6). Se o próximo
está excluído da fé professada, ela é vazia, de aparência. Um crente com fé
sincera tem o coração moldado pela humildade e vida útil ao próximo,
principalmente na família, no trabalho e na igreja entre os irmãos, pois seu
Mestre ensinou que ele veio ao mundo para servir, não para ser servido – “Não será assim entre vós; mas todo aquele
que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal” (Mateus 20:26).
Os
fariseus eram frios e soberbos, faziam tudo atendendo a lógica do pensamento
religioso e o intelectualismo do conhecimento da lei mosaica em seus mínimos
detalhes, de forma mecânica e ritual, porque não tinham o dom do amor.
Esqueceram-se que não se conhece Deus além do que ele já revelou em sua palavra
ou através de experiências espirituais vivenciadas por homens e mulheres de
coração puro, por meio de revelações do Espírito Santo.
É
bom repetir: a fé cristã tem na essência o amor e opera pelo poder do Espírito
Santo. Não somente a fé opera-se pelo amor, mas também a lei operava-se pelo
amor, e sua ausência fazia os religiosos fariseus errarem gravemente no
cumprimento mecânico das leis e mandamentos de Deus. Logo, se um cristão vai ao
culto ou à igreja e faz tudo mecanicamente, sem sentir amor nem misericórdia
por aqueles que ainda não abriram os olhos da fé salvadora, infelizmente nele
se perpetua a prática farisaica.
Isso
é legalismo, conduta reprovável no crente da velha e da nova aliança. Uma vida
com Deus não se resume a cumprir lei, regras e rituais, mas em se viver a justiça dos céus entre os
homens porque isso glorifica a Deus – “Então
clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se
tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente;”
(Isaías 58:9).
Não
se alcança a salvação nem crescimento espiritual sujeitando-se rigorosamente a
regras, regulamentos e costumes religiosos, pois, neste tempo da graça, o amor
e a misericórdia do evangelho constrangem os crentes a acolherem e ajudarem os
mais fracos na fé a se libertarem dos embaraços pessoais que impedem uma vida
consagrada e limitam o entendimento da doutrina evangélica, porquanto a
salvação eterna não se baseia em obras ou na capacidade de cumprir leis, mas na
justiça de Cristo – dom divino concedido pela graça e pela fé em Cristo (Rm
5:17). Grande e efetiva ajuda se dará aos fracos na fé se os irmãos orarem
pedindo que o Espírito Consolador venha em socorro deles.
Senhor,
ajude-nos a ser útil onde estivermos, mas principalmente na família e entre os
irmãos de fé, para que as boas novas do evangelho do Reino de Deus cheguem aos
fracos, oprimidos e incrédulos como fruto de justiça – “Cheios dos frutos de justiça, que são por Jesus Cristo, para glória e
louvor de Deus.” (Filipenses 1:11).
* Dicionário
Strong