
A grande paciência de Deus com os pecadores
“Porque
do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça
dos homens, que detêm a verdade em injustiça.” (Romanos 1:18).
No termo “que
detêm a verdade em injustiça” o verbo deter (greg. “katecho”) é o ato de suprimir, obstruir, reprimir, e se refere a
homens que impedem a propagação da verdade – que é a palavra de Cristo - por
atos de injustiça (greg. “adikia”)
advindo de coração e de vidas que não se importam em violar profundamente a lei
e a justiça divina. Aqui está uma radiografia interna dos corações rebeldes que
não só vivem no prazer carnal da velha natureza, como também se empenham em
obstruir e reprimir a pregação da verdade neste tempo da graça, mormente porque
sua proclamação age como um contraste a denunciar os cancros pecaminosos.
Muitos pecadores não aceitam se submeter à limpeza moral e espiritual que a
palavra de Deus opera em corações impenitentes para os levar à presença do Deus
Criador, tornando-se adversários da luz e da glória da palavra da verdade – e também
de seus pregadores -, preferindo viverem enganados pela astúcia do diabo a se
ajustarem ao estilo de vida moralmente perfeito como é a vontade divina para
todos que confessam Cristo como Senhor e Salvador, daí a razão pela qual
incorrem em erro que lhes trará sérias consequências espirituais por haverem
trocado a verdade de Deus pela mentira (Romanos 1:25).
A doutrina da ira de Deus é tão importante que
foi a primeira a ser ensinada pelo apóstolo Paulo na epístola aos Romanos, a
carta mais teológica de todas as cartas do Novo Testamento, escrita em Corinto
(Atos 20:3 e Romanos 15:24-27), em sua terceira viagem missionária, entre os anos 52 e
55 d. C. Todavia, sua pregação praticamente sumiu das igrejas evangélicas, e
alguns dizem que ela existe, mas não na prática porque o amor de Deus é maior
do que a ira divina revelada no velho testamento; outros, dizem que a mesma foi
mencionada no novo testamento devido à formação farisaica do apóstolo Paulo, o
que lhe deu uma visão rigorosa da palavra de Deus influenciado pelo ensinamento
rabínico sobre o Deus tribal da velha aliança, o que seria incompatível com o
amor pregado por Jesus e a condição de Deus como Pai espiritual da Humanidade.
Contorcionismo espiritual não salva almas. Sem razão todos esses argumentos,
porquanto Paulo foi um fiel mensageiro do evangelho, escolhido pessoalmente por
Cristo, e o “Apóstolo dos gentios”
deixa claro que o motivo principal para pregar o evangelho de Jesus Cristo era
salvar almas da ira de Deus.
Esta mensagem fala da ira de Deus sobre a
humanidade e principalmente da paciência divina sobre os atos de pecados e
iniquidades dos homens. Aos que somente alardeiam que o julgamento dos homens
será feito essencialmente pelo amor divino, a doutrina bíblica da ira
serve-lhes de equilíbrio porque declara a palavra da verdade que Deus não toma
o culpado por inocente (Números 14:18, Jó 9:23, Provérbios 17:15, Jr
30:11, 46:28, Naum 1:3). Assim, todo mal será
punido diante da justiça divina no tempo determinado como ensinou
Jesus – “Quem me rejeitar a mim, e não receber as
minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há
de julgar no último dia.” (João 12:48). E, passado o tempo da graça e do
arrependimento não mais haverá perdão mesmo que o
pecador peça clemência de mãos juntas no dia do julgamento (Provérbios 11:21:5). A justiça divina
decorre da verdade, por isso que esse julgamento não falhará nem haverá
tolerância com o mal.
Quando Deus prometeu dar a Abraão e a sua descendência a terra de Canaã,
esse território era ocupado pelos amorreus e Deus lhe disse que esse povo ainda
não tinha atingido o limite das injustiças que Ele toleraria, por isso ainda
permitiria que nela habitassem – “Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida
da iniquidade dos amorreus.” (Gn
15:16). Mesmo os amorreus (povo formado por cerca de sete povos cananeus) sendo
ímpios e pecadores, foram tratados com justiça porque o julgamento divino
somente caiu sobre eles quando a injustiça que praticavam atingiu o limite
máximo. Vemos quão grande é paciência de Deus com os pecadores, pois esperou
quatrocentos anos para julgar os amorreus. Paulo também exalta essa paciência
divina com os pecadores à espera do arrependimento – “Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade,
e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao
arrependimento?” (Romanos 2:4).
Isso mostra que Deus é justo em todos seus atos, não tirando nada de
ninguém se não tiver base moral para agir com verdade e justiça. Mas, pela
onisciência Deus diz a Abraão que esse limite de tolerância com os amorreus
seria atingido após quatrocentos anos, tempo que sua descendência ficaria como
escrava em terra alheia – escravidão do Egito. Esse controle do que acontece ao
longo do tempo no mundo é mostrado em Apocalipse quando o Cordeiro vem e toma o
livro da mão direita (greg. “dexios”)
Daquele que estava sentado no trono (Apocalipse 5:7). Na mão direita de Deus está a
justiça divina (Salmos 48:10 e Isaías 41:10) e também é pela mão direita que Deus
levanta, protege e salva os que lhe clamam por ajuda (Salmos 20:6).
O cenário celestial mostrado pelo apóstolo João nessa passagem do livro
do Apocalipse é a representação de que a história do mundo está no controle absoluto de Deus. A
vitória de Jesus na cruz deu-lhe poder para julgar os homens (João 5:27) porque
ele pagou com seu sangue os pecados da humanidade. O texto apocalíptico
evidencia que ninguém no céu, na terra e debaixo da terra tem esse poder do
Cristo ressurreto (Apocalipse 5:3-5). O livro de Gênesis mostra que Deus julga pecados
e iniquidades por meio de limites e medidas que somente ele conhece – “Porque assim como os céus são mais altos
do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos
caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is
55:9).
Não adianta os homens ficarem ansiosos ou
perdendo tempo em descobrir a data desse julgamento visitando e interpretando
profecias bíblicas com distorções – as seitas gostam de fazer isso! -, pois
além de só afligirem a alma também perderão tempo para estudar a palavra, de
conhecer Deus e de fazerem as obras que confirmam a fé sincera na vida dos
cristãos.
Todavia, o Espírito Santo demonstra que nem após
a morte a ansiedade abandona a alma humana. As almas dos que foram mortos por
amor da palavra de Deus e que estavam embaixo do altar clamando por vingança
eram contra esse limite e paciência de Deus com os pecadores – “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo
do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor
do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó
verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra?” (Apocalipse 6:9-10).
Para esses já devia ter descido as águas como
foi no dilúvio (Gênesis 7:10) e caído fogo e enxofre como ocorreu na destruição de
Sodoma e Gomorra (Gênesis 199:24-25). A impaciência dessas almas é algo impróprio
diante da palavra e da própria natureza do Senhor Deus, pois, como lembra o
salmista Deus não se esquece de fazer justiça aos que tiveram o sangue
derramado nesta terra (Salmos 9:12 e Gênesis 9:5). É só esperar o tempo de Deus em
santificação porque o tempo está próximo – “Quem
é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo,
seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” (Ap
22:11).
Como cristãos, precisamos prosseguir para o alvo
da nossa fé que é Cristo, buscando cada vez mais comunhão e intimidade com o
amor de Deus que nele se manifesta, pois, se o juízo divino ainda não veio
sobre a terra é devido a justiça, a paciência e a longanimidade de Deus com os
pecadores por causa do sangue derramado na cruz do calvário, o que durará
enquanto houver chance de arrependimento no coração dos homens.
Louvado seja Deus por sua misericórdia que redimiu nossas almas pelo poder do sangue do seu Filho Amado.
*© Texto bíblico: ACF – SBTB