Mensagem Bíblica

A grande paciência de Deus com os pecadores

A grande paciência de Deus com os pecadores

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 8 Minutos

Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.” (Romanos 1:18).

No termo “que detêm a verdade em injustiça” o verbo deter (greg. “katecho”) é o ato de suprimir, obstruir, reprimir, e se refere a homens que impedem a propagação da verdade – que é a palavra de Cristo - por atos de injustiça (greg. “adikia”) advindo de coração e de vidas que não se importam em violar profundamente a lei e a justiça divina. Aqui está uma radiografia interna dos corações rebeldes que não só vivem no prazer carnal da velha natureza, como também se empenham em obstruir e reprimir a pregação da verdade neste tempo da graça, mormente porque sua proclamação age como um contraste a denunciar os cancros pecaminosos. Muitos pecadores não aceitam se submeter à limpeza moral e espiritual que a palavra de Deus opera em corações impenitentes para os levar à presença do Deus Criador, tornando-se adversários da luz e da glória da palavra da verdade – e também de seus pregadores -, preferindo viverem enganados pela astúcia do diabo a se ajustarem ao estilo de vida moralmente perfeito como é a vontade divina para todos que confessam Cristo como Senhor e Salvador, daí a razão pela qual incorrem em erro que lhes trará sérias consequências espirituais por haverem trocado a verdade de Deus pela mentira (Romanos 1:25).

A doutrina da ira de Deus é tão importante que foi a primeira a ser ensinada pelo apóstolo Paulo na epístola aos Romanos, a carta mais teológica de todas as cartas do Novo Testamento, escrita em Corinto (Atos 20:3 e Romanos 15:24-27), em sua terceira viagem missionária, entre os anos 52 e 55 d. C. Todavia, sua pregação praticamente sumiu das igrejas evangélicas, e alguns dizem que ela existe, mas não na prática porque o amor de Deus é maior do que a ira divina revelada no velho testamento; outros, dizem que a mesma foi mencionada no novo testamento devido à formação farisaica do apóstolo Paulo, o que lhe deu uma visão rigorosa da palavra de Deus influenciado pelo ensinamento rabínico sobre o Deus tribal da velha aliança, o que seria incompatível com o amor pregado por Jesus e a condição de Deus como Pai espiritual da Humanidade. Contorcionismo espiritual não salva almas. Sem razão todos esses argumentos, porquanto Paulo foi um fiel mensageiro do evangelho, escolhido pessoalmente por Cristo, e o “Apóstolo dos gentios” deixa claro que o motivo principal para pregar o evangelho de Jesus Cristo era salvar almas da ira de Deus.

Esta mensagem fala da ira de Deus sobre a humanidade e principalmente da paciência divina sobre os atos de pecados e iniquidades dos homens. Aos que somente alardeiam que o julgamento dos homens será feito essencialmente pelo amor divino, a doutrina bíblica da ira serve-lhes de equilíbrio porque declara a palavra da verdade que Deus não toma o culpado por inocente (Números 14:18, Jó 9:23,  Provérbios 17:15, Jr 30:11, 46:28, Naum 1:3). Assim, todo mal será punido diante da justiça divina no tempo determinado como ensinou Jesus – “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.” (João 12:48). E, passado o tempo da graça e do arrependimento não mais haverá perdão mesmo que o pecador peça clemência de mãos juntas no dia do julgamento (Provérbios 11:21:5). A justiça divina decorre da verdade, por isso que esse julgamento não falhará nem haverá tolerância com o mal.

Quando Deus prometeu dar a Abraão e a sua descendência a terra de Canaã, esse território era ocupado pelos amorreus e Deus lhe disse que esse povo ainda não tinha atingido o limite das injustiças que Ele toleraria, por isso ainda permitiria que nela habitassem – Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus.” (Gn 15:16). Mesmo os amorreus (povo formado por cerca de sete povos cananeus) sendo ímpios e pecadores, foram tratados com justiça porque o julgamento divino somente caiu sobre eles quando a injustiça que praticavam atingiu o limite máximo. Vemos quão grande é paciência de Deus com os pecadores, pois esperou quatrocentos anos para julgar os amorreus. Paulo também exalta essa paciência divina com os pecadores à espera do arrependimento – “Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?” (Romanos 2:4).

Isso mostra que Deus é justo em todos seus atos, não tirando nada de ninguém se não tiver base moral para agir com verdade e justiça. Mas, pela onisciência Deus diz a Abraão que esse limite de tolerância com os amorreus seria atingido após quatrocentos anos, tempo que sua descendência ficaria como escrava em terra alheia – escravidão do Egito. Esse controle do que acontece ao longo do tempo no mundo é mostrado em Apocalipse quando o Cordeiro vem e toma o livro da mão direita (greg. “dexios”) Daquele que estava sentado no trono (Apocalipse 5:7). Na mão direita de Deus está a justiça divina (Salmos 48:10 e Isaías 41:10) e também é pela mão direita que Deus levanta, protege e salva os que lhe clamam por ajuda (Salmos 20:6).

O cenário celestial mostrado pelo apóstolo João nessa passagem do livro do Apocalipse é a representação de que a história do mundo está no controle absoluto de Deus. A vitória de Jesus na cruz deu-lhe poder para julgar os homens (João 5:27) porque ele pagou com seu sangue os pecados da humanidade. O texto apocalíptico evidencia que ninguém no céu, na terra e debaixo da terra tem esse poder do Cristo ressurreto (Apocalipse 5:3-5). O livro de Gênesis mostra que Deus julga pecados e iniquidades por meio de limites e medidas que somente ele conhece – “Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is 55:9).

Não adianta os homens ficarem ansiosos ou perdendo tempo em descobrir a data desse julgamento visitando e interpretando profecias bíblicas com distorções – as seitas gostam de fazer isso! -, pois além de só afligirem a alma também perderão tempo para estudar a palavra, de conhecer Deus e de fazerem as obras que confirmam a fé sincera na vida dos cristãos.

Todavia, o Espírito Santo demonstra que nem após a morte a ansiedade abandona a alma humana. As almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e que estavam embaixo do altar clamando por vingança eram contra esse limite e paciência de Deus com os pecadores – “E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Apocalipse 6:9-10).

Para esses já devia ter descido as águas como foi no dilúvio (Gênesis 7:10) e caído fogo e enxofre como ocorreu na destruição de Sodoma e Gomorra (Gênesis 199:24-25). A impaciência dessas almas é algo impróprio diante da palavra e da própria natureza do Senhor Deus, pois, como lembra o salmista Deus não se esquece de fazer justiça aos que tiveram o sangue derramado nesta terra (Salmos 9:12 e Gênesis 9:5). É só esperar o tempo de Deus em santificação porque o tempo está próximo – “Quem é injusto, seja injusto ainda; e quem é sujo, seja sujo ainda; e quem é justo, seja justificado ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” (Ap 22:11).

Como cristãos, precisamos prosseguir para o alvo da nossa fé que é Cristo, buscando cada vez mais comunhão e intimidade com o amor de Deus que nele se manifesta, pois, se o juízo divino ainda não veio sobre a terra é devido a justiça, a paciência e a longanimidade de Deus com os pecadores por causa do sangue derramado na cruz do calvário, o que durará enquanto houver chance de arrependimento no coração dos homens.

Louvado seja Deus por sua misericórdia que redimiu nossas almas pelo poder do sangue do seu Filho Amado.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB