
Um abismo chama outro abismo
“Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas cachoeiras; todas
as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim.“).
O Salmo 42
foi escrito por alguém que estava passando sérios problemas na alma (doença,
estresse, depressão, etc) e acometido por uma tristeza doentia, por estar
impossibilitado de comparecer ao templo do Senhor. Zombavam dele porque
anteriormente era uma pessoa que participava regularmente das cerimônias
religiosas, mas isso não lhe impediu de sofrer a profunda tristeza na alma – “no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33). Você se identificou com o
problema desse homem? Então está no caminho certo porque as mesmas aflições e
perseguições da fé vêm sobre todos os irmãos e no mundo todo – “Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as
mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.” (I Pd 5:9).
Navegar por rios com cachoeiras não é nada fácil, pois o temor de tombar o barco, morrer afogado ou se ferir batendo em pedras é assustador e permanente. São situações que não deixam ninguém navegar tranquilo, por causa dos riscos de morte que envolve os perigos das cachoeiras. Esta era a situação da alma do salmista. Sua vida estava tomada de medos e perigos constantes, numa terra longe do templo do Senhor em Jerusalém – ele estava na região do monte Hermon (hebr. “Montanha sagrada”), norte de Israel, fronteira com a Síria (Salmos 42:6), de onde contemplava as águas do Jordão correndo rio abaixo. Também constantes eram os homens que zombavam de sua fé – “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?” (Salmos 42:3).
A pergunta “onde está o seu Deus?” soa como um
deboche de sua fé e religiosidade. A imagem usada pelo salmista é de uma
cachoeira onde suas quedas d'águas ininterruptas vão cada vez mais afundando o
chão ou a rocha formando novos abismos pelo contínuo cair das águas. Por não
cessar de cair águas, formam-se novos e profundos abismos continuamente. Assim
é aquele tem sua alma abatida pela descrença em Deus. Quem não tem Deus em sua
vida sofre como se passasse sobre ele grandes ondas de águas, fazendo debater e
respirar-se em apuros para se livrar da morte. Se não se agarrar em Deus as
águas impetuosas desta vida o levarão para abismos sempre mais profundos.
O rio Jordão
tem muitas quedas d’águas e cachoeiras - nasce próximo do monte Hermom (hebr. “Montanha sagrada”), o qual está a 2.814 metros acima do
nível do mar, na Síria, enche o Mar (lago) da
Galileia e vai descendo até o Mar Morto –, as quais são ligeiras por
causa da inclinação do rio, e assim minam rapidamente a respiração e as forças
dos que se debatem contra elas. Era dessa maneira que o salmista se via
enfrentando os inimigos e adversários sem poder adorar o Senhor no santuário
para matar a sede e restaurar suas forças. Ele desejava estar na presença da
glória de Deus – “Assim como o cervo
brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!”
(Salmos 42:1). Que contraste! Hoje temos a facilidade e a liberdade de irmos à
igreja e muitas vezes arranjamos desculpas para sairmos da presença do Espírito
Santo de Deus.
O
salmista comparou sua sede à sede da corça. Esse animal não bebe água parada ou
suja. Ele possui um faro apurado que o faz sentir o cheiro de água corrente à
grandes distâncias e vai até lá matar a sede. Também nós não devemos nos
contentar com quaisquer palavras doces ou agradáveis, misticismo ou ritualismo
religioso, pois nossa alma somente pode saciar-se da palavra do Deus vivo, que
nos vê e escuta nossas orações. Fomos projetados para funcionarmos
perfeitamente quando a temos guardada no coração – “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me
apresentarei ante a face de Deus?” (Salmos 42:2).
Quem
não leva a sério a palavra de Deus comete o maior erro de sua vida, porque
abriu brecha para as forças demoníacas o atacarem até sua destruição – um abismo chama outro abismo! O ataque
preferido dos demônios é provocar enfermidades, ele fez isso com Jó e com a
mulher encurvada curada por Jesus (Jó 2:7, Lucas 13:10-13). Judas mesmo andando
com Jesus tinha brecha espiritual: ele era um ladrão, pois furtava da bolsa o
dinheiro que ofertavam ao ministério de Jesus em suas andanças pela terra de
Israel (João 12:6). Esta foi a legalidade que Satanás encontrou para entrar na
vida desse apóstolo e fazê-lo trair Jesus (João 13:27). Satanás não
tem clemência, ataca o homem até destruir sua alma. É como diz o ditado: “o diabo não brinca de ser diabo”. Apenas
Deus é misericordioso com o pecador e quer sua salvação (Deuteronômio 4:31).
Durante
um ano e meio o exército babilônico cercou Jerusalém sem poder entrar na
cidade, até que fizeram uma brecha no muro. Se houver apenas uma brecha é o
suficiente para o inimigo entrar com sua destruição. Depois que fizeram uma
brecha no muro de Jerusalém o exército da Babilônia entrou destruiu, queimou e
levou todos os moradores de Judá como escravos para o exílio (Jeremias 39:2-9) e da
mesma forma também entram os demônios pelas brechas espirituais que deixamos
abertas em nossas vidas. Fujam da mentira, do adultério, do falso testemunho,
da inveja, do roubo, da falsidade e da desonra aos pais que o inimigo não terá
brecha para começar sua obra de destruição.
Muitas
vezes o termo angústia na Bíblia está descrevendo o estado mórbido da
depressão, doença psicológica que nos dias atuais tem derrubado muitas almas
que vivem afastadas de Deus. Neste sentido, o salmista
inspirado diz a Deus que sua palavra o
vivificou quando estava na angústia ou aflição – “O que me consola na minha angústia é isto:
que a tua palavra me vivifica.” (Salmos 119:50 – ARA), comprovando que muitos
casos de enfermidades mentais só podem ser curados por meio da palavra de Deus,
pois tem fundo espiritual.
Ninguém se
torna mal, pecador ou é destruído da noite para o dia. Antes, o desejo do pecado
foi alimentado dia após dia através de pensamentos pecaminosos até que num
determinado momento cai-se em pecado. A vontade e os pensamentos da carne
escravizam os incrédulos no pecado e na desobediência (Efésios 2:3), permanecendo
morto até serem vivificados. Os primeiros instantes do pecado são alegres,
prazerosos e compensadores, mas depois vêm suas consequências malignas e surge
claro o lamaçal onde o pecado colocou a vida do pecador. Quando ele clamar Deus
não o ouvirá nem o livrará do poder do mal no tempo da sua angústia (Juízes 10:10-14, Provérbios 1:25-30, Jeremias 2:27-29 e Mateus 10:11-15).
Assim começa
o adultério: olha-se para
a mulher sensual e para a colega com um olhar de desejo, então vai surgindo
mais pensamentos carnais depois vêm os flertes e em fim quando surge a ocasião
e cede-se à tentação do pecado – Um
abismo chama outro abismo! A palavra instrui-nos que “assim, o que adultera com uma mulher é
falto de entendimento; aquele que faz isso destrói a sua alma.” (Provérbios 6:32). Diz-se literalmente: esse é um prazer que
destrói a alma humana. Igualmente,
o homicídio inicia-se com os pensamentos de maldade, de eliminação do desafeto
até o coração ser totalmente dominado pelo desejo de matar – Um abismo chama outro abismo! Percebe-se que para evitar o próximo
abismo é imprescindível que haja arrependimento e confissão de pecado para se
restaurar a comunhão com Deus?
Irmãos,
jamais devemos ceder às circunstâncias que atacam nossa fé, pois estamos na
Rocha inabalável que é Cristo, o qual não nos deixará sofrer além do que
podemos suportar, basta eu e você confiarmos porque dele vem o refrigério e a água
que verdadeiramente mata nossa sede – “Espera
no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor.”
(Salmos 27:14).