
Pregador x Construtor
“Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio
construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele.
Contudo, veja cada um como constrói. Porque ninguém pode colocar outro
alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo.” (I Co
3:10-11).
O texto em
destaque faz uma analogia da edificação dos crentes pela palavra do evangelho
de Cristo com a construção de um edifício ou casa, na qual o alicerce da obra é
de grande importância para que ao término se tenha segurança e paz. Neste
aspecto, normalmente o alicerce das construções é de concreto, o qual constitui
a fundação ou fundamento da edificação que se fará no terreno quando se vai
construir uma casa. Nele há uma estrutura de ferro que suporta o peso das
paredes de tijolos, a laje e o telhado.
Sabemos que
a base de toda construção é ter um fundamento resistente, daí a necessidade do
material ser bastante forte, do contrário pode ser até mais fácil construir um
belo castelo com madeira, feno e palha, mas a construção durará muito pouco.
Detalhe: o alicerce fica escondido dentro da terra, ninguém o vê depois que a
casa foi concluída e pintada, e da mesma maneira a palavra de Deus fica dentro
do coração (terra) sustentando uma vida abençoada e próspera na presença de
Deus, agindo invisivelmente para produzir com abundância frutos visíveis.
Uma fé
verdadeira e forte tem como alicerce Jesus Cristo. Quem constrói a vida com
base nos conselhos do evangelho fez uma obra para ser eterna, diferentemente
dos que olham apenas para as coisas terrenas e deixam perecer a alma por falta
do conhecimento de Deus.
O
sentido bíblico do verbo edificar (greg. “epoikodomeo”)
é construir sobre, terminar a estrutura da qual a fundação já foi colocada,
para incrementar constantemente o conhecimento cristão e uma vida que se
conforma a ele (Atos 20:32, I Co 3:10,12,14, Efésios 2:20, Jd 20). Em outras palavras,
o apóstolo Paulo diz enfaticamente que Cristo é o único fundamento da
edificação espiritual da alma humana, vez que apenas tendo fé em sua morte
redentora na cruz é que somos reconciliados e nos tornamos filhos de Deus.
Importante
repisar que o fundamento ou alicerce inabalável de toda evangelização e vida
espiritual é Jesus Cristo, sua vida terrena, morte e ressurreição. A
evangelização da Igreja Primitiva e dos gentios pelo apóstolo Paulo foi feita “conforme a graça de Deus” pregando a
mensagem do evangelho do Senhor Jesus. Na verdade, Cristo é o único fundamento
do edifício ou da obra que Deus faz neste mundo, que é a Igreja – “Porque ninguém pode colocar outro alicerce
além do que já está posto, que é Jesus Cristo.” (I Co 3:11).
Por isso a
melhor maneira de se edificar uma vida é com o ensino da palavra de Deus, pois só
ela liberta, cura, regenera e salva. É mais demorado fazer um alicerce bem
feito, sem se preocupar em atender o modismo do “mundo evangélico” voltado para o show e para os apelos à
prosperidade material, mas era assim que Jesus fazia no seu ministério quando ensinava
e pregava a palavra da verdade (Mateus 4:23, 9:35). Pregar e ensinar são
atividades distintas e complementares desempenhadas pelos ministros da palavra
de Deus na edificação das almas pela fé (Mateus 4:23, Atos 28:31, I Tm 4:13).
O mensageiro
da palavra de Deus antes de pregar deve meditar nela de dia e de noite buscando
o entendimento correto da vontade de Deus, o que será revelado por inspiração
do Espírito Santo na exata medida do que ele precisa para fazer a obra. Todos
os cristãos são sacerdotes do reino de Deus (I Pd 2:5, 9), mas alguns são
ungidos para exercer publicamente essa função comum a todos os cristãos (At
10:38 e Efésios 4:11-12), para esses a inspiração divina ocorre com mais frequência
dada sua intimidade constante com Deus. Mas, seja um ministro ou outro servo
justo do Senhor sempre haverá revelações do Espírito Santo que contribuirá com
proclamação da palavra de Deus.
Infelizmente
existem almas que são edificadas sem o fundamento correto. Edificar com apelo
emocional, sem fundamento bíblico ou com interpretação intencionalmente
distorcida é construir sem se preocupar com a permanência da obra, pois é certo
que ventos impiedosos não deixarão de soprar contra. Quando Jesus ordenou à
Grande Comissão que fizesse discípulos de todas as nações, também ordenou que
lhes ensinassem o que ele tinha ordenado – “Ensinando-os
a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado;” (Mt
28:20) -, ou seja, devemos ensinar apenas o que recebemos dos
evangelhos de Jesus, nada aquém e nem além dele.
Ademais,
todo crente deve esmerar-se no estudo das Escrituras (Romanos 12:7), procurando extrair
o significado correto do texto original, aliando significado original das
palavras bíblicas com seu contexto, atentando que em todas as Escrituras há
farto uso das figuras de linguagem, o que impõe zelo e observação para extrair
o exato sentido do costume de seu uso, como por exemplo as parábolas contadas
por Jesus.
Também não
adianta fazer estudos bíblicos visando apenas conhecimento intelectual,
memorização ou por prazer acadêmico. Antes, faz-se necessário que além de
entender a vontade de Jesus estejamos dispostos a aplicar suas verdades
reveladas em nossa vida. Conhecer os evangelhos sem praticar as boas-novas é
igualar-se aos fariseus combatidos por Jesus.
Tal se dá porque as coisas do Espírito
discernem-se espiritualmente, daí que apenas homens com vivência no evangelho
estão capacitados a entendê-las, em nada prestando a sabedoria humana para este
fim. Vivemos em tempo que as informações circulam livre e rapidamente entre
todos e em todos os lugares, cobrindo praticamente todas as áreas do conhecimento
secular, contudo isso não se presta para o crescimento espiritual porque o
aprendizado da palavra não se limita a informações bíblicas, porquanto depende
da presença do Espírito Santo na alma que ouve a palavra.
Eis aí a razão pela qual a mensagem de
Jesus a cada uma das sete igrejas do Apocalipse (Ap 2 e 3) encerra-se com a
frase “quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.”,
verdadeiro alerta para que, se quisermos ser edificados espiritualmente,
sejamos ouvintes da palavra de Cristo pregada nas igrejas.