
Cuidado para não cair!
“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não
caia.” (I Co 10:12).
Na expressão “que cuida estar” o
verbo atentar ou cuidar (greg. “blepo”)
tem o sentido de olhar e ver com os olhos da visão, olhar sério e atento,
acautelar-se, ter visão mental, discernir mentalmente, prestar
atenção, contemplar com atenção e cuidado (Marcos 13:9, Atos 13:40, Gálatas 5:15, Filipenses 3:2 e
Hebreus 3:19). De sua parte, no termo “olhe
que não caia”, o verbo cair (greg. “pipto”)
tem o sentido de falhar, cair em ruína, perder a graça ou favor, arruinar-se
moral ou espiritualmente (Romanos 14:4, Apocalipse 2:5).
Aqui cair é algo trágico, não se resumindo a perder posição ministerial,
reputação, convívio com a igreja ou irmandade, pois se refere a queda ou ruína
que leva à perdição da salvação eterna. Mas, somos instruídos que o cair do
crente em pecado depois que foi limpo, regenerado e convertido é um “cair e levantar” porque Deus não permite
que um justo fique prostrado – “O
Senhor sustenta a todos os que caem, e levanta a todos os abatidos.” (Sl
145:14).
A
autoconfiança arma ciladas e faz o terreno escorregadio aos que se esquecem que
são sustentados pela graça, não pela própria força. Homens e mulheres de fé que
se tornaram orgulhosos depois de revestidos da proteção do alto acabam
fracassando, caindo em buracos e covas porque corromperam a fé genuína do
relacionamento que tinham com Deus. Tornaram-se orgulhos, arrogantes e
afeiçoados ao mesmo pecado que derrubou Satanás. Eles sabem da queda de
Satanás, mas acreditaram que com eles seria diferente.
Foi por
causa do orgulho que aquele fariseu quando orava no templo juntamente com um
publicano não foi perdoado por Deus, mas o humilde publicano recebeu a
justificação de seus pecados (Lucas 18:10-14). Esta parábola declara que o orgulho
e o menosprezo ao próximo impedem que nossas orações cheguem aos ouvidos de
Deus. É o típico exemplo de complacência espiritual, pois mostra um homem
religioso minado pelo orgulho e pela fraqueza espiritual presumindo ser salvo e
agradável a Deus.
A
complacência pode ocorrer com o objetivo de agradar ou ser indulgente com
outrem, não lhe falando a verdade que a pessoa precisa ouvir para se libertar
ou edificar-se espiritualmente. Para se evitar os perigos da complacência espiritual
ou da auto justificação o homem precisa examinar-se a si mesmo (I Co 11:28), certificando-se
pela palavra da verdade que sua salvação em nada depende de suas forças ou
obras, mas unicamente da graça de Deus.xxxx Fé e humildade são frutos da mesma árvore – um
coração puro -, por isso que quando uma árvore produz apenas uma delas suas
orações não são recolhidas nem chegam aos céus.
Em
Trôade, Paulo prolongou a pregação até à meia-noite, ocasião que um jovem
chamado Êutico, que se assentava numa janela, tomado de sono profundo durante o
discurso do apóstolo, caiu do terceiro andar e foi levantado morto (Atos 20:9).
Paulo desceu até o corpo caído, inclinou-se sobre ele, abraçou-o e o jovem foi
levado vivo para consolação dos presentes. Esse jovem cometeu pelo menos dois
erros. Primeiro, estava no lugar errado, pois não se assenta em janela, mas em
banco. Ele não foi diligente em evitar o perigo. Há cristãos que também têm
comportamento inadequado andando ou fazendo o que deveria ser evitado. Depois,
o jovem dormiu profundamente quando era edificado espiritualmente. Muitas
pessoas também cometem o mesmo erro, porquanto não se esforçam com o
crescimento espiritual nem para vencer os desejos da carne, em manifesto (greg.
“phaneros”) desinteresse pela palavra
de Deus. Precisamos vigiar para não perdemos a alma por imaturidade ou
negligência espiritual.
Da
mesma maneira há muitas pessoas igualmente dormindo quando se fala a palavra de
Deus no púlpito, desconsiderando o conselho divino que as instam a se desviaram
do mal, manterem-se obedientes e perseverantes na fé, pois vem do Espírito o
despertar espiritual para nossa salvação – “Desperta,
tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.
Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios,
Remindo o tempo; porquanto os dias são maus.” (Efésios 5:14-16). Ir ao
culto e não fazer uma adoração com coração quebrantado e sincero é fazer
sacrifício de tolo, pois só pisar na igreja é ato que não agrada a Deus (Is
1:12-17, Eclesiastes 5:1).
A
perseverança mantém a fé acesa e o crente de pé, porém sabemos que as tentações
são constantes e cada vez mais os desejos carnais e terrenos desta geração são
intensamente atiçados, alguns manifestamente manipulados por forças demoníacas
visando destruir a família ou afastar homens e mulheres da presença de Cristo.
Nessa
circunstância o pecado não surge como tentação ou provação, vez que
simplesmente aparece como possibilidade de uma rotina. Isso acontece com
aqueles que assistem diariamente certos programas de TV ou plataformas da
internet estimuladores de vícios, rebeldia ou prática de perversão sexual.
Temos que dar graças a Deus pelo discernimento espiritual que temos acerca
desse sistema que silenciosamente tem arrastado um número incontável de almas à
destruição moral e espiritual.
O
apóstolo menciona alguns erros que os israelitas cometeram no passado, com a
finalidade de que aprendemos com os ensinamentos das Escrituras “para que não cobicemos as coisas más, como
eles cobiçaram” (I Co 10:6) e não repetimos esses mesmos erros e
pecados – idolatria, fornicação e murmuração -, “porque
tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela
paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.” (Rm
15:4).
Senhor
Deus, Pai de Jesus Cristo, fortaleça todos os que invocam seu nome para que sempre
confiem e esperem na sua misericórdia.