
Jesus veio anunciar o “ano aceitável do Senhor”
“O Espírito
do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres.
Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos,
E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar
o ano aceitável do Senhor. E,
cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de
todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se
cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.”
(Lucas 4:18-21).
Era sábado e Jesus estava numa sinagoga judaica, ocasião
que lhe deram o livro do profeta Isaías e quando ele o abriu achou o lugar que
falava sobre si mesmo, uma profecia messiânica indicando as atividades do
Messias nesta terra, as quais consistiam em evangelizar aos pobres, curar os
quebrantados de coração, dar liberdade aos cativos, restaurar a vista dos
cegos, libertar os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor (Isaías 61:1-2).
Claramente o texto sagrado faz referências a um tempo de cura para toda espécie
de enfermidades.
O que significa “ano aceitável” do Senhor? O ano aceitável
tem suas raízes de libertação e benefícios no Ano do Jubileu ou o ano
quinquagésimo da antiga aliança, o qual se celebrava no ano seguinte de cada
quadragésimo nono ano (Levítico 25:8-13). Era um ano de perdão para todas as dívidas,
servidões e de quaisquer espécies de sujeição forçada, abrangendo pessoas e
bens. Chamavam-no de ano da liberdade (Ezequiel 46:17). Também era um ano de recomeço
para os pobres que tinham vendidos seus bens por causa de dívidas. A terra que
tinha sido vendida retornava à família do dono original, se não houvesse
anterior resgate (Levítico 25:25-27:27) e o servo reconquistava sua liberdade da
escravidão ficando livre da dívida (Levítico 25:39-40).
Era um tempo de grande expectativa e alegria. Todos os
devedores, escravos, oprimidos, contratados e encarcerados ficavam aguardando o
Ano do Jubileu (hebr. “Sonido de Trombeta”)
para fossem declarados isentos de qualquer cobrança ou coação. O anúncio da
chegada do Jubileu vinha pelo toque da trombeta com o chifre de carneiro e
todos os oprimidos ou endividados pulavam de alegria pela libertação geral que
vigorava na terra a partir do soar da trombeta do Ano do Jubileu. A terra e as
pessoas ficavam em descanso durante um ano, nada semeavam nos campos, pois suas
provisões eram garantidas por Deus com fartas colheitas (Levítico 25:20-21), numa
espécie de socialismo santo e universal em busca da justiça social dentro da
terra de Israel.
A doutrina diz o seguinte: “Esse quinquagésimo ano era anunciado, pelo toque da trombeta de
carneiro, no décimo dia do mês de tisri, que corresponde ao mês de setembro. A
terra, como nos anos sabáticos, ficava sem cultivo. As terras hipotecadas eram
libertas e voltavam aos donos originais. Todos os servos e escravos se tornavam
livres, Levítico 25:39-41. O jubileu é um tipo da emancipação alegre e gloriosa do
domínio e da escravidão de Satanás, por meio do evangelho, Isaías 61:2; Lucas 4:19.”
(Pequena Enciclopédia Bíblica – Orlando Boyer).
Então, durante o ministério do profeta Isaías, ao falar das atividades do Messias nesta terra usou-se originalmente o termo “ano aceitável do Senhor”, instruindo-nos que, diferentemente do perdão das dívidas terrenas que se operava por meio do Ano do Jubileu – ou seja, de cinquenta em cinquenta anos havia um ano de perdão -, o ano aceitável do Senhor seria um tempo de perdão das dívidas espirituais que se operariam por meio do evangelho do Senhor Jesus Cristo, de forma permanente até a consumação dos séculos. O evangelho do reino de Deus trouxe salvação universal para todos os homens (I João 2:2), anunciando que no sangue de Cristo há redenção geral e irrestrita de todos os pecados, permitindo que sejamos feitos filhos de Deus e herdamos a vida eterna. O evangelho fez soar a trombeta para os quatro cantos deste planeta de que há liberdade na obra redentora da cruz – “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36, Gálatas 5:1, Colossenses 2:13-14).
Ou seja, o tempo bíblico
favorável aos homens ensina que “ano
aceitável” ou “tempo aceitável” é um período
em que a graça de Deus está disponível para
conduzir os homens à salvação eterna, por meio do evangelho de Jesus Cristo e
da fé em suas palavras. A palavra
aceitável no hebraico (hebr. “ratsah”)
e no grego (greg. “dektos”) significa
agradável, tornar-se aceito, propício ou receber com agrado (Lucas 4:24 e II Co
6:2). O animal oferecido em sacrifício tinha que ser sem defeito para se tornar
aceitável por Deus (Gênesis 4:4 e Levítico 22:20). Verdade é que o pecado tornou o homem
inimigo de Deus. Alguém somente é aceitável na presença de Deus depois de
reconciliado com o Pai por meio da fé em Jesus Cristo, pois só nele há perdão
de pecados – “E tudo
isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos
deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da
reconciliação.” (II Co 5:18-19).
Verifica-se que ano aceitável ou tempo aceitável (Salmos 69:13 e II Co 6:2) é um período que há disponibilidade da graça de Deus para com os homens, tornando-lhes propício o perdão de suas dívidas espirituais. A graça do evangelho de Jesus Cristo é o tempo da salvação para todos, pois pela fé em suas palavras está a única possibilidade pela qual importa que sejamos perdoados de todos nossos pecados (I Co 15:3, I Tm 2:6, Hebreus 2:9 e I João 2:2) e salvos da morte eterna. É glorioso e motivo de grande júbilo saber que não mais somos escravos do pecado nem de Satanás, pois o sangue de Cristo pagou para sempre a dívida espiritual do pecado, tirando-nos da servidão.
O evangelho da graça é o ano do jubileu para a Igreja ou o
ano aceitável do Senhor. Nele aprendemos a necessidade de se buscar as coisas
espirituais enquanto há tempo e a porta não se fechou como foi fechada a porta
da arca de Noé para aquela geração perversa que pereceu nas águas do dilúvio – “E os que entraram eram macho e fêmea de
toda a carne, como Deus lhe tinha ordenado; e o Senhor o fechou dentro.” (Gênesis 7:16).
É sempre bom lembrar que o conceito
bíblico de tempo aceitável ensina que, devido a finitude da vida humana, há um tempo certo e apropriado para se fazer as
coisas neste mundo, não bastando fazê-la, mas fazê-la no tempo certo e é um princípio que vigora desde o velho testamento (Isaías 55:6,
Salmos 6:5 e Hebreus 4:16). Até mesmo
uma oração tem que ser feita no tempo certo (Sl 69:13).
Senhor Jesus, dá-nos força para sempre buscarmos o perdão
de pecados neste tempo favorável, neste tempo em que a graça e a verdade estão
disponíveis em ti, nosso Redentor, antes que venha o juízo da ira de Deus como
foi com aquela geração. Amém.