Mensagem Bíblica

“Apegou-se às pontas do altar”

“Apegou-se às pontas do altar”

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 5 Minutos

Porém Adonias temeu a Salomão; e levantou-se, e foi, e apegou-se às pontas do altar.” (I Rs 1:50).

As pessoas que eram perseguidas em Israel procuravam refúgio agarrando-se às pontas do altar ou chifres (hebr. “qeren”) para não serem mortas, sobretudo quando escapando de vingadores de sangue. Não eram chifres de animais, como o chifre de carneiro (hebr. “shophar”), mas extensões da madeira do próprio altar de bronze. No velho testamento chifre era símbolo de força, daí que as pontas do altar simbolizavam o poder e a autoridade do Senhor Deus operando naquele lugar. O altar de bronze (hebr. “mizbeach”) não poderia servir de asilo ou refúgio para quem matou voluntariamente ou assassinou injustificadamente alguém (Êxodo 21:14), mas apenas se tirou a vida de alguém involuntariamente. Além da força, o chifre do altar também representava a parte mais santa do altar. Logo, nele havia a presença do binômio força e santidade de Deus.

Por exemplo, na ordenação dos sacerdotes descendentes de Arão o sangue de um carneiro era posto na orelha direita, polegar da mão direita e polegar do pé direito do sacerdote consagrado e ainda sobre o altar de bronze ou de holocaustos, bem como na santificação desses sacerdotes aspergia-se o mesmo sangue misturado com azeite sobre as vestes dos sacerdotes consagrados (Êxodo 29:20-21). O azeite misturado ao sangue do carneiro (Cristo) prefigurava o trabalho do Espírito Santo na santificação do homem que foi lavado com o sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus.

Por que a orelha, o polegar da mão e do pé direito? A unção da orelha direita significava que o sacerdote ungido ouviria somente a palavra do Senhor, rejeitando ouvir outras vozes no exercício do ministério sacerdotal – o lado direito prefigurava a posição de Cristo à direita de Deus Pai (Hebreus 1:3:1, 10:12). O polegar da mão direita representava a mão forte, a indicar que somente deveria fazer o que lhe fosse ordenado por Deus. E, a unção do polegar do pé de direito do sacerdote lembrava-lhe que só deveria andar pelo caminho da retidão e justiça ensinado pela palavra de Deus.

Entre as leis dadas por Deus a Moisés no monte Sinai consta a seguinte: “Quem ferir alguém, de modo que este morra, certamente será morto. Porém se lhe não armou cilada, mas Deus lho entregou nas mãos, ordenar-te-ei um lugar para onde fugirá. Mas se alguém agir premeditadamente contra o seu próximo, matando-o à traição, tirá-lo-ás do meu altar, para que morra.” (Ex 21:12-14), prevendo que assassinos deviam ser mortos por haver tirado a vida de alguém (vs. 12), bem como ainda menciona o refúgio protetivo dos que matavam alguém de forma não dolosa ou involuntária (vs. 13) nas cidades-refúgio de Israel (Números 35:22-25, Josué 20:1-9) e o acolhimento emergencial de quem matou alguém involuntariamente que se agarrasse na ponta do altar de bronze ou holocausto (vs. 13).

Mas, qual a razão deste refúgio na ponta ou chifre do altar? Impedir que pessoas inocentes fossem mortas. O perseguidor daquele que se agarrou no altar hesitaria de arrancá-lo dali, sobretudo porque o altar era ungido com óleo sagrado, de modo que era considerado coisa santíssima e assim somente os sacerdotes podiam tocá-lo. Logo, era abrigo daquele que justificadamente cometeu um homicídio, não podendo ser violado por perseguidores.

Adonias, filho de Davi, tentou usurpar o trono do pai, fazendo-se rei de Israel para impedir que seu irmão Salomão fosse ungido rei como era a vontade de Deus. Adonias fez tudo às escondidas – “Porém a Natã, o profeta, e a Benaia, e aos poderosos, e a Salomão, seu irmão, não convidou.” (I Rs 1:10). Porém, o plano de Adonias foi frustrado e Salomão tornou-se rei.  Ao ver seu irmão no trono Adonias agarrou às ponta do altar para não morrer, contudo foi morto mesmo assim porque atentou traiçoeiramente contra o rei.

Joabe agarrou-se à ponta do altar para não ser morto pelo rei Salomão, mas de nada valeu porque Joabe não era inocente, pois todos sabiam que ele havia matado à traição Abner e Amasa (I Rs 2:28-34). Joabe demonstrou covardia ao se esconder na tabernáculo para escapar da morte, porquanto matou traiçoeiramente dos comandantes do exército de Israel, Abner e Amasa, afrontando a autoridade do rei Davi (II Sm 3:28-29 e 20:10). Ele matou esses homens como ato de vingança, em tempo de paz, de modo que “Joabe sem causa derramou” sangue (I Rs 2:31), o que era proibido pela lei mosaica que somente permitia matar em batalha. Por causa disso, antes de morrer, Davi orientou Salomão a não poupá-lo de castigo e nem que morresse em paz como morrem os justos (I Rs 2:5-6). A mesma recomendação ele fez em relação a Simei, o benjamita que o amaldiçoou quando passava por Baurim em direção à Maanaim (hebr. “dois acampamentos”), território de Gileade (I Rs 2:8-9, 39-46).

Assim, o asilo no altar de bronze ou de holocaustos para os perseguidos prefigurava a salvação em Cristo, o qual salva o homem que possui santidade, do contrário não será acolhido nem protegido da morte eterna. Ensina-nos que a graça do Senhor salva o pecador redimido, não o pecador impenitente, ou quem vive cometendo pecado.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB