
“Apegou-se às pontas do altar”
“Porém Adonias temeu a Salomão; e levantou-se, e foi, e
apegou-se às pontas do altar.” (I Rs 1:50).
As pessoas que eram
perseguidas em Israel procuravam refúgio agarrando-se às pontas do altar ou
chifres (hebr. “qeren”) para não
serem mortas, sobretudo quando escapando de vingadores de sangue. Não eram
chifres de animais, como o chifre de carneiro (hebr. “shophar”), mas extensões da madeira do próprio altar de bronze. No
velho testamento chifre era símbolo de força, daí que as pontas do altar
simbolizavam o poder e a autoridade do Senhor Deus operando naquele lugar. O
altar de bronze (hebr. “mizbeach”) não poderia servir de
asilo ou refúgio para quem matou voluntariamente ou assassinou
injustificadamente alguém (Êxodo 21:14), mas apenas se tirou a vida de alguém
involuntariamente. Além da força, o chifre do altar também representava a parte
mais santa do altar. Logo, nele havia a presença do binômio força e santidade
de Deus.
Por exemplo, na ordenação dos
sacerdotes descendentes de Arão o sangue de um carneiro era posto na orelha
direita, polegar da mão direita e polegar do pé direito do sacerdote consagrado
e ainda sobre o altar de bronze ou de holocaustos, bem como na santificação
desses sacerdotes aspergia-se o mesmo sangue misturado com azeite sobre as
vestes dos sacerdotes consagrados (Êxodo 29:20-21). O azeite misturado ao sangue
do carneiro (Cristo) prefigurava o trabalho do Espírito Santo na santificação
do homem que foi lavado com o sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus.
Por que a orelha, o polegar
da mão e do pé direito? A unção da orelha direita significava que o sacerdote
ungido ouviria somente a palavra do Senhor, rejeitando ouvir outras vozes no
exercício do ministério sacerdotal – o lado direito prefigurava a posição de
Cristo à direita de Deus Pai (Hebreus 1:3:1, 10:12). O polegar da mão direita
representava a mão forte, a indicar que somente deveria fazer o que lhe fosse
ordenado por Deus. E, a unção do polegar do pé de direito do sacerdote lembrava-lhe
que só deveria andar pelo caminho da retidão e justiça ensinado pela palavra de
Deus.
Entre as leis dadas por Deus
a Moisés no monte Sinai consta a seguinte: “Quem
ferir alguém, de modo que este morra, certamente será morto. Porém se lhe não
armou cilada, mas Deus lho entregou nas mãos, ordenar-te-ei um lugar para onde
fugirá. Mas se alguém agir premeditadamente contra o seu próximo, matando-o à
traição, tirá-lo-ás do meu altar, para que morra.” (Ex
21:12-14), prevendo que assassinos deviam ser mortos por haver tirado a vida de
alguém (vs. 12), bem como ainda menciona o refúgio protetivo dos que matavam
alguém de forma não dolosa ou involuntária (vs. 13) nas cidades-refúgio de
Israel (Números 35:22-25, Josué 20:1-9) e o acolhimento emergencial de quem matou
alguém involuntariamente que se agarrasse na ponta do altar de bronze ou
holocausto (vs. 13).
Mas,
qual a razão deste refúgio na ponta ou chifre do altar? Impedir que pessoas
inocentes fossem mortas. O perseguidor daquele que se agarrou no altar
hesitaria de arrancá-lo dali, sobretudo porque o altar era ungido com óleo
sagrado, de modo que era considerado coisa santíssima e assim somente os
sacerdotes podiam tocá-lo. Logo, era abrigo daquele que justificadamente
cometeu um homicídio, não podendo ser violado por perseguidores.
Adonias, filho de Davi,
tentou usurpar o trono do pai, fazendo-se rei de Israel para impedir que seu
irmão Salomão fosse ungido rei como era a vontade de Deus. Adonias fez tudo às
escondidas – “Porém
a Natã, o profeta, e a Benaia, e aos poderosos, e a Salomão, seu irmão, não
convidou.” (I Rs 1:10). Porém, o plano de Adonias foi frustrado e Salomão
tornou-se rei. Ao ver seu irmão no trono
Adonias agarrou às ponta do altar para não morrer, contudo foi morto mesmo
assim porque atentou traiçoeiramente contra o rei.
Joabe agarrou-se à ponta do altar para não ser morto pelo rei Salomão, mas de nada valeu porque Joabe não era inocente, pois todos sabiam que ele havia matado à traição Abner e Amasa (I Rs 2:28-34). Joabe demonstrou covardia ao se esconder na tabernáculo para escapar da morte, porquanto matou traiçoeiramente dos comandantes do exército de Israel, Abner e Amasa, afrontando a autoridade do rei Davi (II Sm 3:28-29 e 20:10). Ele matou esses homens como ato de vingança, em tempo de paz, de modo que “Joabe sem causa derramou” sangue (I Rs 2:31), o que era proibido pela lei mosaica que somente permitia matar em batalha. Por causa disso, antes de morrer, Davi orientou Salomão a não poupá-lo de castigo e nem que morresse em paz como morrem os justos (I Rs 2:5-6). A mesma recomendação ele fez em relação a Simei, o benjamita que o amaldiçoou quando passava por Baurim em direção à Maanaim (hebr. “dois acampamentos”), território de Gileade (I Rs 2:8-9, 39-46).
Assim,
o asilo no altar de bronze ou de holocaustos para os perseguidos prefigurava a
salvação em Cristo, o qual salva o homem que possui santidade, do contrário não
será acolhido nem protegido da morte eterna. Ensina-nos que a graça do Senhor
salva o pecador redimido, não o pecador impenitente, ou quem vive cometendo
pecado.