
A 2ª geração de israelitas no deserto prefigurou a Igreja
“E o
povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito
para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a
nossa alma tem fastio deste pão tão vil. Então o Senhor mandou
entre o povo serpentes ardentes, que picaram o povo; e morreu muita
gente em Israel.” (Números 21:5-6).
Cabe relembrar que a primeira murmuração dos
israelitas na saída do Egito ocorreu no deserto de Elim e Deus a atendeu
fazendo as águas de Mara (hebr. “amarga”)
ficarem doces para eles beberem (Êxodo 15:22-25); quando pela segunda vez eles
murmuraram no deserto Sim pediram carne lembrando das panelas de carne que
tinham no Egito, oportunidade Deus lhes deu carne de codornizes e também fez
descer dos céus maná como alimento contínuo (Êxodo 16:12-15); quando pela terceira
vez em Refidim, próximo do monte Sinai, o povo contendeu com Moisés e murmurou
contra Deus, então Deus mandou Moisés passar à frente do povo e ir até ao
Horebe - cadeia de montanha da qual faz parte o monte Sinai – onde ele estaria
sobre a rocha, a qual deveria ser ferida por Moisés com o bordão com que feriu
as águas dos rios do Egito, na presença dos anciãos, e ao fazer saiu água para
o povo beber. Esse episódio foi chamado de Meribá (hebr. “merybah“) que quer dizer contenda, e Massá (hebr. “maccah“) que significa tentação, porque
contenderam e tentaram o poder de Deus no deserto do Sinai (Êxodo 17:1-7). Mas, o
que se nota em todas essas murmurações é que Deus perdoou-lhes, deixando o povo
sem castigo.
Por que Deus agiu
assim, mesmo sendo ofendido várias vezes? O Senhor não leva em conta o tempo da
ignorância ou de desconhecimento de sua palavra e com isso sua misericórdia
impede a punição de incrédulos ou ignorantes – “Mas
Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, ordena agora a todos os
homens, e em todo o lugar, que se arrependam;” (Atos 17:30).
Entrementes,
durante o tempo de permanência no Sinai Deus celebrou aliança com o povo de
Israel, falou diretamente aos ouvidos dos israelitas, entregou-lhes os dez mandamentos e outras leis
civis, religiosas e militares. O povo deixou de ser ignorante porque Israel
celebrou uma aliança com o Senhor Deus, na qual havia deveres de ambas as
partes e ainda foi instruído pela lei.
Ao deixaram o monte Sinai os israelitas
murmuraram por carne, Deus enviou-lhes codornizes e morreram com a carne nos
dentes (Números 11:33). Deus mudou a maneira de tratar seus pecados. A primeira
murmuração já como conhecedores da palavra de Deus foi punida com a morte dos murmuradores.
Na segunda murmuração, ainda com o povo que saiu do Egito, por causa do
relatório dos espias, a mesma foi gravemente punida: “Neste deserto cairão os vossos cadáveres,
como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de
vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; Não
entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar
nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.” (Nm
14:29-30). Novamente não houve alívio para os pecadores que murmuraram contra
Deus, pois já conheciam a palavra da verdade.
Passados
quarenta anos – o pecado coletivo fez o povo trocar onze dias de caminhada até
Canaã por quarenta anos no deserto -, morta toda aquela geração que tinha acima
de vinte anos de idade quando o povo murmurou na fronteira de Canaã, Israel
retoma sua caminhada.
A primeira murmuração da nova geração de
israelitas depois que seus pais morreram no deserto ocorreu em Cades, norte do
monte Sinai e sul de Canaã (atual Israel), depois que o povo completou quarenta
anos no deserto e prosseguia novamente em direção à terra prometida. Eles
pediam as frutas e água que tinham no Egito. Os murmuradores foram atendidos
com água e não punidos, pois Moisés cumprindo ordem de Deus bateu com a vara - “Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a
rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água; e bebeu a congregação e os
seus animais.” (Números 20:11). Nesse episódio conhecido também como Meribá,
Moisés e Arão perderam o direito de entrarem na terra Canaã à frente do povo
porque Deus mandou falar à rocha para dar água, porém Moisés bateu duas vezes
para sair água (Números 20:12-13).
Entanto, o surgimento milagroso de água da rocha
era um precedente da manifestação do poder do Espírito Santo no meio dessa nova
geração – foi o primeiro milagre para todo (novo) povo de Deus que seguia para
a terra prometida - e criava-se antecedente de experiência sobrenatural dessa
nova geração de israelitas com o Senhor Deus. Deus se fazia presente no meio
deles. Jesus advertiu os fariseus que quem ouve a palavra ou vê um milagre não
pode mais se dizer cego nem ignorante e torna-se culpável diante de Deus (Jo
9:40-41, 15:22).
O povo de Israel voltou a murmurar por água
depois que deixou o monte Hor, onde Arão morreu, quando se fazia o retorno para
contornar a terra de Edom (Números 21:4), lamuriando que Deus os fez subir do Egito
para morrer naquele deserto (Zim), bem como que suas almas tinham nojo ou
náusea em comer o maná que chamaram de “pão
vil”, que é aquilo que não tem valor ou desprezível. Que geração incrédula
e ingrata! Considerar o “pão de Deus”
vil ou nauseante. Hoje quando vemos pessoas rejeitando ou blasfemando contra a
palavra do evangelho está se repetindo essas mesmas ofensas ao alimento que
Deus deixou no mundo para dar refrigério, paz e salvação às almas dos homens.
Agora Deus puniu a segunda murmuração com o envio de serpentes ardentes ou
abrasadoras que mordiam o povo e morreram muitos no meio de Israel. Desesperado
e sentindo-se em pecado diante do Senhor, o povo pediu a Moisés que orasse “ao
Senhor que tire de nós estas serpentes” (Números 21:7). Em resposta à oração de Moisés, o Senhor
ordenou-lhe que fizesse uma serpente ardente ou de metal (cor de bronze) e a
levantasse numa haste para que todo israelita mordido pela serpente olhasse
para a serpente de metal com confiança em Deus ficaria curado, livre da morte e
continuaria no caminho em busca do descanso. Aqui tudo aponta para Igreja e a
cruz de Cristo. É Cristo que cura o povo de Deus, de todo veneno da Serpente ou
Satanás. Sempre muitas tentações (“demônios”) que aparecerão na caminhada da
vida cristã que se não for pela ajuda e livramento jamais algum de nós chegaria
à vida eterna.
A segunda geração representa o
cristianismo e a necessidade dos cristãos viverem em santidade para que uma
oração seja eficaz, de se arrependerem de pecados - “havemos pecado contra o Senhor e contra ti” (Números 21:7) - e a efetiva
e necessária intercessão de Cristo por nossa salvação, único mediador entre
Deus e os homens pelo qual devemos ser salvos (Atos 4:12). O evangelho do reino
de Deu já revelou todos os mistérios que estavam ocultos desde a fundação do
mundo, de modo que basta obedecer a verdade da palavra de Deus por meio da fé
que a graça divina providenciará nossa entrada na vida eterna.
A partir desse episódio os israelitas
seguiram sem nova murmuração em direção à campina de Moabe, com certeza olhando
para a serpente de metal toda vez que os sentimentos carnais lhes afligiam o
coração. Tal serpente ficou no meio do povo de Israel até ser destruída pelo
rei Ezequias (716 a 687 a. C.), pois o povo de Judá começou a adorá-la com o nome de Neustã (hebr.
“uma coisa de latão”) como faziam os
povos pagãos com seus falsos deuses (II Rs 18:4). Também aprenderam que o
louvor e o trabalho comum entre o povo e sua liderança atrai as bênçãos divinas.
Agora se vê o povo juntamente com seus príncipes, nobres e legisladores
trabalhando unidos na presença de Deus e sendo abençoados com poços brotando
água na superfície do deserto (Números 18:16-18), em clara alusão à vital
importância da unidade da fé no meio da congregação ou igreja local para que
desfrutemos das bênçãos espirituais e materiais guardadas nos lugares
celestiais em Cristo Jesus (Efésios 1:3).
Da
mesma forma que os israelitas picados pelas serpentes no deserto eram curados se
olhassem para a serpente pendurada por Moisés na haste (Números 21:8-9), assim
também todos os que olham com fé para a cruz de Cristo também se salvam do
veneno mortal do pecado e ganham a vida eterna (João 3:14-15). Olhar para a
serpente de bronze pendurada na haste exigia do povo de Israel confiança na
palavra de Deus, pois aquela imagem era a causa da dor e das mortes dos que
foram picados, contudo todos os que olharam para a haste foram salvos.
Deus
não falhou com Israel e jamais falhará. Encetava-se a abundância da graça de
Deus para com os homens, porquanto como por um homem entrou o pecado no mundo e
com ele a morte, também todos os pecadores foram justificados pelo dom da graça
e da justiça que reinam abundantemente através da morte substitutiva de Jesus
na cruz (Romanos 5:12-19). Eis a perfeita simetria: a morte entrou no mundo por um
homem que pecou – Adão - e saiu pela
morte do Filho de Deus, nascido da carne e que se fez semelhante aos homens,
mas sem pecado.
Jesus
chama todos os pecadores a olharem para si na cruz para receberem a vida
eterna: “E, como Moisés levantou
a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo
3:14-15).