Mensagem Bíblica

A 2ª geração de israelitas no deserto prefigurou a Igreja

A 2ª geração de israelitas no deserto prefigurou a Igreja

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 9 Minutos

E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil. Então o Senhor mandou entre o povo serpentes ardentes, que picaram o povo; e morreu muita gente em Israel.” (Números 21:5-6).

Cabe relembrar que a primeira murmuração dos israelitas na saída do Egito ocorreu no deserto de Elim e Deus a atendeu fazendo as águas de Mara (hebr. “amarga”) ficarem doces para eles beberem (Êxodo 15:22-25); quando pela segunda vez eles murmuraram no deserto Sim pediram carne lembrando das panelas de carne que tinham no Egito, oportunidade Deus lhes deu carne de codornizes e também fez descer dos céus maná como alimento contínuo (Êxodo 16:12-15); quando pela terceira vez em Refidim, próximo do monte Sinai, o povo contendeu com Moisés e murmurou contra Deus, então Deus mandou Moisés passar à frente do povo e ir até ao Horebe - cadeia de montanha da qual faz parte o monte Sinai – onde ele estaria sobre a rocha, a qual deveria ser ferida por Moisés com o bordão com que feriu as águas dos rios do Egito, na presença dos anciãos, e ao fazer saiu água para o povo beber. Esse episódio foi chamado de Meribá (hebr. “merybah“) que quer dizer contenda, e Massá (hebr. “maccah“) que significa tentação, porque contenderam e tentaram o poder de Deus no deserto do Sinai (Êxodo 17:1-7). Mas, o que se nota em todas essas murmurações é que Deus perdoou-lhes, deixando o povo sem castigo.

Por que Deus agiu assim, mesmo sendo ofendido várias vezes? O Senhor não leva em conta o tempo da ignorância ou de desconhecimento de sua palavra e com isso sua misericórdia impede a punição de incrédulos ou ignorantes – “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, ordena agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;(Atos 17:30).

Entrementes, durante o tempo de permanência no Sinai Deus celebrou aliança com o povo de Israel, falou diretamente aos ouvidos dos israelitas, entregou-lhes os dez mandamentos e outras leis civis, religiosas e militares. O povo deixou de ser ignorante porque Israel celebrou uma aliança com o Senhor Deus, na qual havia deveres de ambas as partes e ainda foi instruído pela lei.

Ao deixaram o monte Sinai os israelitas murmuraram por carne, Deus enviou-lhes codornizes e morreram com a carne nos dentes (Números 11:33). Deus mudou a maneira de tratar seus pecados. A primeira murmuração já como conhecedores da palavra de Deus foi punida com a morte dos murmuradores. Na segunda murmuração, ainda com o povo que saiu do Egito, por causa do relatório dos espias, a mesma foi gravemente punida: “Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo toda a vossa conta, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes; Não entrareis na terra, pela qual levantei a minha mão que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num.” (Nm 14:29-30). Novamente não houve alívio para os pecadores que murmuraram contra Deus, pois já conheciam a palavra da verdade.

Passados quarenta anos – o pecado coletivo fez o povo trocar onze dias de caminhada até Canaã por quarenta anos no deserto -, morta toda aquela geração que tinha acima de vinte anos de idade quando o povo murmurou na fronteira de Canaã, Israel retoma sua caminhada.

A primeira murmuração da nova geração de israelitas depois que seus pais morreram no deserto ocorreu em Cades, norte do monte Sinai e sul de Canaã (atual Israel), depois que o povo completou quarenta anos no deserto e prosseguia novamente em direção à terra prometida. Eles pediam as frutas e água que tinham no Egito. Os murmuradores foram atendidos com água e não punidos, pois Moisés cumprindo ordem de Deus bateu com a vara - Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água; e bebeu a congregação e os seus animais.” (Números 20:11). Nesse episódio conhecido também como Meribá, Moisés e Arão perderam o direito de entrarem na terra Canaã à frente do povo porque Deus mandou falar à rocha para dar água, porém Moisés bateu duas vezes para sair água (Números 20:12-13).  

Entanto, o surgimento milagroso de água da rocha era um precedente da manifestação do poder do Espírito Santo no meio dessa nova geração – foi o primeiro milagre para todo (novo) povo de Deus que seguia para a terra prometida - e criava-se antecedente de experiência sobrenatural dessa nova geração de israelitas com o Senhor Deus. Deus se fazia presente no meio deles. Jesus advertiu os fariseus que quem ouve a palavra ou vê um milagre não pode mais se dizer cego nem ignorante e torna-se culpável diante de Deus (Jo 9:40-41, 15:22).

O povo de Israel voltou a murmurar por água depois que deixou o monte Hor, onde Arão morreu, quando se fazia o retorno para contornar a terra de Edom (Números 21:4), lamuriando que Deus os fez subir do Egito para morrer naquele deserto (Zim), bem como que suas almas tinham nojo ou náusea em comer o maná que chamaram de “pão vil”, que é aquilo que não tem valor ou desprezível. Que geração incrédula e ingrata! Considerar o “pão de Deus” vil ou nauseante. Hoje quando vemos pessoas rejeitando ou blasfemando contra a palavra do evangelho está se repetindo essas mesmas ofensas ao alimento que Deus deixou no mundo para dar refrigério, paz e salvação às almas dos homens.

Agora Deus puniu a segunda murmuração com o envio de serpentes ardentes ou abrasadoras que mordiam o povo e morreram muitos no meio de Israel. Desesperado e sentindo-se em pecado diante do Senhor, o povo pediu a Moisés que orasse “ao Senhor que tire de nós estas serpentes” (Números 21:7).  Em resposta à oração de Moisés, o Senhor ordenou-lhe que fizesse uma serpente ardente ou de metal (cor de bronze) e a levantasse numa haste para que todo israelita mordido pela serpente olhasse para a serpente de metal com confiança em Deus ficaria curado, livre da morte e continuaria no caminho em busca do descanso. Aqui tudo aponta para Igreja e a cruz de Cristo. É Cristo que cura o povo de Deus, de todo veneno da Serpente ou Satanás. Sempre muitas tentações (“demônios”) que aparecerão na caminhada da vida cristã que se não for pela ajuda e livramento jamais algum de nós chegaria à vida eterna.

A segunda geração representa o cristianismo e a necessidade dos cristãos viverem em santidade para que uma oração seja eficaz, de se arrependerem de pecados - “havemos pecado contra o Senhor e contra ti” (Números 21:7) - e a efetiva e necessária intercessão de Cristo por nossa salvação, único mediador entre Deus e os homens pelo qual devemos ser salvos (Atos 4:12). O evangelho do reino de Deu já revelou todos os mistérios que estavam ocultos desde a fundação do mundo, de modo que basta obedecer a verdade da palavra de Deus por meio da fé que a graça divina providenciará nossa entrada na vida eterna.

A partir desse episódio os israelitas seguiram sem nova murmuração em direção à campina de Moabe, com certeza olhando para a serpente de metal toda vez que os sentimentos carnais lhes afligiam o coração. Tal serpente ficou no meio do povo de Israel até ser destruída pelo rei Ezequias (716 a 687 a. C.), pois o povo de Judá começou a adorá-la com o nome de Neustã (hebr. “uma coisa de latão”) como faziam os povos pagãos com seus falsos deuses (II Rs 18:4). Também aprenderam que o louvor e o trabalho comum entre o povo e sua liderança atrai as bênçãos divinas. Agora se vê o povo juntamente com seus príncipes, nobres e legisladores trabalhando unidos na presença de Deus e sendo abençoados com poços brotando água na superfície do deserto (Números 18:16-18), em clara alusão à vital importância da unidade da fé no meio da congregação ou igreja local para que desfrutemos das bênçãos espirituais e materiais guardadas nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 1:3).

Da mesma forma que os israelitas picados pelas serpentes no deserto eram curados se olhassem para a serpente pendurada por Moisés na haste (Números 21:8-9), assim também todos os que olham com fé para a cruz de Cristo também se salvam do veneno mortal do pecado e ganham a vida eterna (João 3:14-15). Olhar para a serpente de bronze pendurada na haste exigia do povo de Israel confiança na palavra de Deus, pois aquela imagem era a causa da dor e das mortes dos que foram picados, contudo todos os que olharam para a haste foram salvos.

Deus não falhou com Israel e jamais falhará. Encetava-se a abundância da graça de Deus para com os homens, porquanto como por um homem entrou o pecado no mundo e com ele a morte, também todos os pecadores foram justificados pelo dom da graça e da justiça que reinam abundantemente através da morte substitutiva de Jesus na cruz (Romanos 5:12-19). Eis a perfeita simetria: a morte entrou no mundo por um homem que pecou – Adão -  e saiu pela morte do Filho de Deus, nascido da carne e que se fez semelhante aos homens, mas sem pecado.

Jesus chama todos os pecadores a olharem para si na cruz para receberem a vida eterna: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:14-15).

*© Texto bíblico: ACF – SBTB