Mensagem Bíblica

O púlpito pode salvar o pregador e seus ouvintes

O púlpito pode salvar o pregador e seus ouvintes

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 7 Minutos

Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (I Tm 4:15-16).

O apóstolo Paulo declara com palavras firmes que o alimento da igreja vem do púlpito. E não só isso: Que a salvação tanto do pregador como dos que o ouvem nos bancos também vem do púlpito, vinculando a salvação dos ouvintes à salvação dos pregadores que falam a mensagem. A salvação que procede do púlpito é condicionada – “fazendo isto” – a que o pregador persista em manter sua vida em ler, exortar e ensinar a palavra de Deus a seus ouvintes, do contrário perece tanto ele quanto os que ouvem.

Não se deve jogar ao chão o chamado ministerial passando a tratá-lo como se fosse um negócio secular ou empresarial, conduta repreendida pelo apóstolo Paulo – “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.” (II Tm 2:4) -, usando a igreja como se fosse atividade negocial como fazem os ímpios em busca das riquezas mundanas, tampouco recorrer a metodologia ou visão humana de marketing na “pesca” de membros, o que geralmente se faz quando não se tem confiança no poder do evangelho de por si só curar, libertar, transformar e prosperar vidas – “Sola Scriptura” como pregavam os reformadores.

Todo aquele que se propor a pregar a palavra de Deus deve mostrar que antes de querer ensinar a outrem ele próprio já aprendeu a lição que se propõe a ensinar. O direito de pregar tem vínculo direto e indissociável com o dever de vivenciar a mensagem pregada, porque a verdadeira experiência espiritual não se resume a conceitos teóricos, mas pela prática de um estilo de vida dedicado ao louvor, oração e proclamação do evangelho.

O pregador (greg. “kerysso”) tem para com Deus o dever moral de ensinar tanto pelo exemplo como pela sã doutrina e se assim não faz causa sérios danos a sua salvação e à fé salvadora dos convertidos, os quais por falta de alimento espiritual não terão crescimento e nem discernimento espiritual, e abandonados à própria sorte, passam a viver como crentes nominais, meramente religiosos, sem conhecerem os fundamentos básicos da fé bíblica e incapacitados de proclamarem a mensagem das boas novas do evangelho para outras almas.

Em conformidade com o novo testamento, os pregadores ou ministros da palavra de Deus são escolhidos e capacitados espiritualmente pelo Senhor. A Igreja Primitiva foi edificada por cinco dons ministeriais: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (Efésios 4:11). Com exceção do dom apostólico que vigorou somente naqueles doze homens, e mais em Paulo, o qual é distinto, especial e único porque esses foram escolhidos pessoalmente por Jesus (Mt 10:1-4), os demais dons ministeriais continuam vigorando nas igrejas do Senhor. Cabe pontuar não ser bíblico o instituto da sucessão apostólica pregado pelos católicos romanos dizendo que o Papa seria sucessor do apóstolo Pedro em Roma, pois se nenhum outro apóstolo teve sucessor, por qual motivo somente Pedro teria?

O púlpito não deve ser usado como local de honra ou de glória própria (greg. “kauchaomai”) de nenhum pregador, mas aquele que nele subir deve lembrar-se da condição de filho de Deus e que a glória pertence só ao Pai e ele não a divide com ninguém (Isaías 42:8), consciente ainda que ali é lugar onde homens de vida santa e de oração são colocados para lutarem contra as trevas deste mundo segundo o propósito divino para salvação das almas. O púlpito é local de batalhas, não é para fracos nem pecadores, muito menos para piadas e vaidades pessoais. Ressoa aos nossos ouvidos que o altar do Senhor não é lugar de hipocrisia, de encenação nem de pretensão puramente terrena e humana, sobretudo porque é pela casa do Senhor que começa o juízo divino (Ezequiel 9:6, I Pd 4:17).

O que toda igreja precisa é de homens e mulheres santos e tementes a Deus, com o corpo de Cristo organizado conforme o modelo bíblico – dirigida por dois cargos: diáconos (e diaconisas) e presbíteros (ou bispos, anciãos ou pastores). Feito isso, é só permanecer em adoração, oração e louvor que os dons espirituais serão concedidos para o fortalecimento da fé e da unidade do corpo de Cristo. O homem piedoso precisa apenas se santificar mais e mais, pois a escolha e a concessão de dons espirituais vêm de Cristo e do Espírito Santo, pois quem diz se o vaso está pronto para receber e guardar o azeite, que não possui rachadura nem impureza, não é o vaso, é o oleiro (Cristo) que o examina por dentro e por fora.

Ser ministro do evangelho é elevar-se à posição de representante de Deus nesta terra, como servo fiel e prudente que tem a missão de alimentar seus conservos, exatamente como Jesus ensinou na parábola do servo bom e do servo mau (Mt 24:45-51), portando-se em sinceridade de coração e simplicidade de vida. Jesus disse que o homem ungido pelo Espírito Santo é reconhecido pelo testemunho de vida e pelo que sai da sua boca – “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a sua boca.” (Lucas 6:45). E, em seguida, Jesus conclui esse pensamento dizendo que tal homem não só ouve suas palavras, mas também as cumpre em sua vida (Lc 6:47-49).

É pela oração que os homens recebem força espiritual para fazerem as obras de Deus, sabendo-se que orar é tornar-se dependente da graça divina, é viver à espera de um agir sobrenatural que apenas encontra confiança nos corações consagrados e tementes a Deus. Lembra-se que apenas estudar muito a Bíblia sem orações produz orgulho no coração do homem (greg. “anthropos”), palavra grega que se aplica ao ser humano, homens e mulheres.

E não é só isso. O apóstolo Paulo ensinou que fazer orações é entrar numa batalha ou luta (greg. “agon”) espiritual contra os principados e potestades (Colossenses 2:1 e Ef 6:12), inimigos invisíveis aos olhos carnais, mas que a todo momento agem para causar aflições e embaraços na vida dos homens. Ele disse isto quando a igreja de Colossos estava sendo atacada pelos ensinos gnósticos que visavam enfraquecer a obediência ao evangelho de Cristo. Como só o poder de Deus pode anular suas atividades malignas, essas hostes do mal fazem de tudo para impedir nossa perseverança na comunhão com Cristo e com Deus, por meio da oração.

O que vimos de entender é que a responsabilidade do pregador pela salvação de seus ouvintes ergue-se como condição para sua própria salvação eterna, pois, se fizer com dedicação e esmero – “Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;” (Rm 12:7) -, aprovou-se na obra que Cristo o incumbiu de realizar em seu nome (Hb 13:17), ao tempo que contribuiu decisivamente para a salvação individual daqueles que ensinou e exortou com os conselhos da palavra de Deus.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB