
Heresias no meio da igreja
“E até importa que haja
entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós.” (Co 11:19).
O que é heresia (greg. “hairesis”)?
É a desunião, discórdia ou dissensão provocada no meio de grupo ou comunidade,
com uma tendência de separar pessoas ou opiniões. As heresias têm deturpado o
evangelho e vai chegar ao ponto que muitos ouvirão doutrinas de engano e
mentiras heréticas, que acrescentam e diminuem na palavra da verdade. Esse é o
tempo que se terá sede da verdadeira palavra de Deus. Poucas igrejas estarão
pregando o evangelho que repreende o pecado, que liberta, que salva e que transforma
o coração para obedecer aos ensinamentos de Cristo.
Corrigindo contendas e
dissensões entre os irmãos da igreja de Corinto, o apóstolo Paulo exorta os
irmãos santos daquela comunidade cristã a se manifestarem conforme a palavra da
verdade no apaziguamento dos conflitos e solução dos problemas que enfrentavam.
O ensino correto tem que vir da palavra da verdade, jamais de qualquer outra
fonte – “Sola Scriptura”.
Se o irmão sincero e sabedor da
verdade não se manifestar diante de heresias incorre em pecado omissivo – “Se tu deixares de livrar os que estão
sendo levados para a morte, e aos que estão sendo levados para a matança; Se
disseres: Eis que não o sabemos; porventura não o considerará aquele que
pondera os corações? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? Não dará
ele ao homem conforme a sua obra?” (Provérbios 24:11-12).
O
bispo Tiago ao ensinar que pecar não se resume somente fazer algo contra a lei
de Deus, porém peca “aquele, pois, que
sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4:17). Há um dever moral
fundado no conhecimento da verdade que obriga a se fazer ou dizer o que é
certo, do contrário a conduta omissiva configura-se pecado contra a lei de
Deus. É obrigação de todos os membros da igreja
manter-se fiel e vigilante às Escrituras, pois é uma responsabilidade coletiva
e não só dos pastores ou anciãos (I Co 10:32). Isto fica evidente na primeira igreja das sete
do apocalipse, a de Éfeso. Jesus
disse-lhe em tom de elogio que ”puseste à prova os que dizem ser
apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos.” (Apocalipse 2:2). Era uma igreja que conhecia a
palavra e a doutrina de Cristo e foi elogiada pelo Senhor porque não se deixou enganar
pelos falsos apóstolos nem pela doutrina dos nicolaítas.
A ética cristã exige obediência
ao evangelho, santidade de conduta e temor reverencial, rejeitando-se com isso
qualquer teologia mística, rituais ou cerimonialismos desprovidos de santidade
ética. Não devemos parecer santos por meio de rito, vestes ou cerimônia
exterior, mas sermos interiormente santos a ponto de nossa aparência projetar
essa pureza do coração, pois a verdadeira conversão inicia-se com a regeneração
interior (Tito 3:5 e I Pd 1:3, 23) e ser cristão é conformar-se ao caráter de
Deus.
O cerne da ética cristã foi
brilhantemente exposto por Tiago, irmão de Jesus, da seguinte maneira: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e
tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.” (Tg
2:10). Em outras palavras, o bispo Tiago não se intimidou em declarar que uma
brecha espiritual – entenda-se pecado ou descumprimento da palavra de Deus - é
suficiente para derrubar anos ou décadas de vida cristã. Cabelos brancos não
atestam santidade, apenas se andarem no caminho da justiça (Provérbios 16:31). Todavia,
longe de ser um exagero ou excesso de rigor, suas palavras refletem como deve
ser a conduta do homem e da mulher cristã quando medida ou comparada com a
posição de glória e santidade que têm o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Se a
santidade for manchada infalivelmente perde-se o vínculo com o Deus que é pura
santidade. É uma palavra dura, difícil de ser ouvida e aceita por muitos
crentes que medem a santidade por padrões diferentes da santidade divina do
evangelho.
Logo,
é saudável a correção do corpo de Cristo pela palavra e doutrina ensinadas nas
Escrituras, sem redução nem acréscimo, pois é a palavra da verdade que
santifica nossos corações, muitas vezes com remédios amargos, porém
indispensáveis às enfermidades tratadas. Se um doente grave não for tratado com
remédios potentes fatalmente morrerá. Um canceroso não pode ser tratado com um
analgésico comum, pelo contrário devem ser usados medicamentos fortes por meio
da quimioterapia para destruir os tumores. Assim também ocorre com aqueles que
são exortados por pregações e ensinos do evangelho a renunciarem imediatamente
o pecado que os arrasta para o inferno.
No
entanto, muitas dessas pessoas mesmo sabendo não haver outro meio de tirá-las
do poço em que caíram, ainda que abatidas, fracassadas ou com vidas derrotadas,
não se dispõem afastar-se do pecado com base no conselho da palavra de Deus,
único remédio capaz de curar essa enfermidade espiritual.
Que
o Senhor nos livre desta rebeldia espiritual representada pelas heresias, mantendo
a igreja unida pela palavra de Cristo, dando-nos um coração contrito e
quebrantado para cairmos aos pés de Deus todos os dias clamando perdão de
nossos pecados!