
Crente caloteiro? Fuja deste perigo espiritual
“A ninguém devais coisa alguma, a não
ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros
cumpriu a lei.” (Romanos 13:8)
O crente deve ser fiel com a palavra de Deus
e também deve ser fiel nos contratos e negócios que participa como cidadão
deste mundo – ele tem dupla cidadania, uma terrena e outra celestial -, fazendo
o oposto do que fazem os ímpios, os quais são infiéis com Deus e em outros
compromissos (Romanos 1:31).
Vivendo apenas com
a moral humana, o homem insensato cumpre suas obrigações financeiras
e negociais de acordo com a conveniência, sem se importar em agir sempre de
maneira correta independentemente das circunstâncias, o que absolutamente não é
modelo para nenhum cristão fiel a Deus.
A figura do caloteiro ou mau pagador
jamais deve associar-se ao homem ou mulher temente a Deus, pois somos exortados
a cumprir fielmente nossas obrigações contratuais, o que os ímpios não fazem
porque são “infiéis nos contratos”
(Romanos 1:31), se quisermos dar um bom testemunho perante aos homens e ao próprio
Senhor.
O
primeiro mandamento bíblico relativo a licitude dos negócios comerciais diz
respeito ao contrato de compra e venda (o objeto era o número de colheitas no
ano do jubileu), o negócio mais celebrado em todo o mundo, ocasião em que os
israelitas foram advertidos pela lei divina a não enganarem quem comprava ou
quem lhe vendia alguma coisa – “E
quando venderdes alguma coisa ao vosso próximo, ou a comprardes da mão do vosso
próximo, ninguém engane a seu irmão;” (Lv
25:14).
Deus desaprova qualquer intenção de fazer
dívida com o propósito de prejudicar o credor. Ele é o Deus de justiça, ou
melhor, ele é a verdadeira Justiça. Sabe por que Deus mandou o profeta Eliseu
multiplicar o azeite da viúva? Para pagar uma dívida contraída por seu falecido
marido, homem temente a Deus e um dos filhos dos profetas (II Rs 4:7). Deus fez
um milagre tendo por finalidade principal o pagamento de uma dívida que não foi
paga por aquela família e a preocupação da viúva em honrar o compromisso com o
credor fez Deus abençoá-la com muito mais do que lhe era necessário. Ou seja,
ser fiel aos compromissos contratuais agrada a Deus.
Os crentes sinceros
são instruídos no novo testamento a que “ninguém
oprima ou engane a seu irmão em negócio algum, porque o Senhor é vingador de
todas estas coisas” (I Ts 4:6). Neste texto
consta no original grego o
termo “ninguém oprima ou engane a seu irmão em
negócio algum” usou-se o verbo transgredir
(greg. “huperbaino”) ou defraudar
outro em negócio, ultrapassar os limites, errar e pecar, o qual é usado
metaforicamente nesta passagem (I Ts 4:6) com o sentido de “oprimir” referindo-se aos que
ultrapassam os limites que separam a castidade da licensiodade ou a
santificação do que é pecaminoso. O verbo enganar (greg. “pleonekteo”) significa ganhar ou levar vantagem sobre outros por
meio de engano, aproveitar-se de alguém por ganância ou cobiça, defraudar, ser
superior, exceder, desejo de ter mais apropriando-se do que pertence a outros
(II Co 2:11, 7:2, 12:17, I Ts 4:6).*
O
problema não é ter dívida, mas sim se recusar a quitá-la ou devolver o bem não
pago. A assunção inconsequente de dívidas com parcelas a perder de vista também
colabora para o descontrole financeiro e deve ser evitada como parte da boa
gestão financeira da renda pessoal. Recusar-se a endividar por mero consumismo
reflete domínio sobre desejos materialistas que combatem contra a paz de
espírito. Possuir dívida não depõe contra
ninguém, tampouco atrasar sua quitação, todavia a palavra de Deus repugna o
crente caloteiro por mero vontade de causar dano ao patrimônio alheio ou agir
com injustiça em seus negócios.
Sabidamente
as leis bíblicas foram fonte de muitos códigos de leis de governos seculares,
procedência que lhes confere caráter complementar das leis divinas, podendo se
ver a influência da ética judaico-cristã presente na maioria dos regramentos
modernos, posicionadas como pilares estruturantes, especialmente em relação aos
princípios do respeito à família, da paz e da dignidade dos homens.
Todo cristão
fiel e justo sempre será um cidadão cumpridor de suas obrigações civis perante
o governo, as autoridades e as leis as quais se submete (Romanos 13:1-7). A obediência é devida nas boas obras, não para as más
obras, visto que por essas últimas quem abusar da sua autoridade responderá
perante os homens e também perante Deus.
Em virtude desse princípio moral da vida cristã, torna-se
imprescindível ao comportamento honesto dos cristãos sempre cumprirem os
contratos assinados, salvo se discordar de seus termos e condições amparados em
pressuposição de melhor direito ou em leis. O coração que ama a Deus de
todo coração não se recusa cumprir todas as obrigações morais da vida cristã,
pelo contrário o faz com alegria sabendo que isso agrada o Pai.
O salmista ensina que para estar na presença de Deus, como
cidadão dos céus, é preciso ser íntegro com o próximo e com os negócios deste
mundo, sob pena de se perder a salvação: “Senhor,
quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que
anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração.” (Sl
15:1-2).
* Dicionário
Strong