“Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2 - ARA).

O salmista compara a sede extrema da corça com a sede inata que a alma do homem tem para encontrar o Deus vivo. A sabedoria divina pegou um animal ímpar no esforço desesperado que faz para encontrar água numa região desértica. A corça possui um olfato (ou faro) apuradíssimo que lhe permite sentir o cheiro de água a quilômetros de distância e até metros abaixo da superfície da terra em lençóis freáticos. A corça sedenta faz uma busca insana por uma fonte de água, pois é um animal que não bebe água de poças ou represadas, mas somente água pura que jorra da nascente ou corrente de água. Sobe no alto dos montes e sorve freneticamente o ar para sentir o cheiro da água que pode estar jorrando das pedras.

Da mesma maneira que a corça anseia por água assim a alma do homem deseja a presença de Deus. Embora não tenha um olfato tão aguçado como a corça, o homem precisa usar o discernimento para saber que a única fonte espiritual pura são as Escrituras. Será perda de tempo, com risco de morte eterna, beber noutra fonte para matar a sede de Deus ou satisfazer-se com as poças de falsas doutrinas. Nenhuma dessas alternativas pode saciar a alma. A fonte de água pura que precisamos é Cristo: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba.” (João 7:37). Cristo é a água pura que mata a sede da nossa alma.

Na palavra profética, o Espírito Santo e a Igreja dizem: “Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” (Apocalipse 22:17). O Senhor é manancial de águas vivas para sua igreja (Jeremias 2:13). O profeta Isaías dizia: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.” (Isaías 55:1), referindo-se à gratuidade da graça divina na vida de todos aqueles que ouvem a palavra de Deus.

Uma outra característica importante da corça que a faz encontrar água pura é sua rejeição absoluta ao confinamento, pois a mesma é arredia e não aceita ser aprisionada para fins domésticos. Prefere viver fugindo, tendo que superar todos os obstáculos que lhes são impostos, mas tem liberdade para buscar a fonte de água limpa.O crescimento espiritual cristão também precisa ter semelhante rejeição às várias espécies de barreiras e confinamentos que o diabo ergue no caminho da fé. O pecado é o pior de todos os cativeiros (João 8:34 e Romanos 6:18). Quem está em Cristo se liberta do pecado que aprisiona o homem natural, pois se “o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36).

Precisamos separar tempo para leitura da palavra, comunhão com irmãos, oração, jejum e para isso tem que ser arisco com as rotinas do mundo que nos cerca e da pura religiosidade, do contrário jamais beberemos água na fonte. A fé verdadeira, aquela em conformidade com as Escrituras, não pode ter medo de enfrentar os confinamentos impostos pelos líderes religiosos, porquanto muitos deles não bebem água pura há muito tempo e fazem de tudo para aumentar seus prosélitos (gentios convertidos).

A sede desidrata o corpo da corça, como sucede também com quem não bebe água para matar a sede física e espiritual. A falta de água no organismo faz rachar sua pele, surgindo feridas que lhes trazem grande sofrimento pela exposição ao sol do deserto. Sabe o que cura essas feridas? A ingestão da água. Quando encontra a fonte de água ela sacia-se e também molha todo o corpo na água. A água cura as feridas em seu corpo, fazendo cessar as dores. Identicamente, o sangue e a água derramados de Cristo ao ter um dos lados perfurado pela ponta da lança do soldado romano é que cura a doença do pecado na vida dos homens (João 19:34). É esse sangue que tem poder para purificar a alma de qualquer pecado. E, ainda, a água representa o poder purificador da palavra do evangelho na vida dos cristãos e da Igreja do Senhor Jesus Cristo (Efésios 5:26).

A alegria da corça é muito grande quando encontra a fonte de água. Ela deleita-se na corrente de água, onde sacia a sede, cura as feridas e livra-se das dores. O desespero anterior é substituído por movimentos corporais que revelam sua grande alegria. Essa mesma alegria o cristão sente quando se encontra com Jesus Cristo, o filho de Deus. É adoração, é louvor e vontade de crescer mais e mais no conhecimento de Deus. Tal alegria explica-se porque a salvação eterna por intermédio da fé em Cristo é a maior fonte de regozijo de um coração que teme a Deus.

As cinco características da corça: 1) olfato aguçado – o crente com discernimento sente cheiro do pecado e até de demônios em ambientes, 2) bebe somente água pura – o crente não aceita heresia, mentiras ou enganos em sua fé, 3) a água sara as feridas da pele do animal – a palavra de Deus purifica o espírito, a alma e o espírito, numa cura plena e total 4) alegria por haver encontrado água – o crente edificado espiritualmente tem a alegria como fruto do Espírito, e 5) a água retira-lhe do corpo o odor que facilitava ser encontrada pelos seus predadores – o crente com temor não mais tem brecha em sua vida para que o diabo possa atacá-lo, mas o inimigo fica ao derredor bramando como leão.

O evangelho ensina que Jesus é a fonte da água viva, e todo aquele que beber da sua água – que é a palavra da verdade que purifica e refrigera – nunca mais terá sede, mas terá nele uma fonte de água – o Espírito Santo – que salta para vida eterna – “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.” (João 7:38).

*© Texto bíblico: ACF – SBTB