
Parábola da grande ceia: Existe salvação eterna à força?
“E disse o
senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar,
para que a minha casa se encha.”
Na parábola dos convidados à grande ceia (Lucas 14:16-24) Jesus
conta que um certo homem fez uma grande ceia, convidou a muitos, mas na hora da
ceia, estando tudo pronto para sua celebração, os convidados escusaram-se com
desculpas injustificáveis. Naquela época eram feitos dois convites. O primeiro,
semanas ou meses antes da festa e o segundo próximo dela, nos dias imediatamente
anteriores ao evento, relembrando os convidados do compromisso social. O
primeiro convidado alegou no segundo convite – após o anfitrião ter matado os
animais e preparado a ceia - que iria ver o campo que comprou (vs. 18); o
segundo, igualmente disse que iria experimentar cinco juntas de bois que havia
comprado (vs. 19); e o terceiro negou-se a comparecer dizendo que havia se
casado (vs.20).
Nas duas primeiras desculpas foi usado o verbo “comprar” (greg. “agorazo”), que é ir ao mercado, negociar lá, comprar ou vender (Mt
13:44, I Co 6:20), em evidente alusão à
preferência dessas pessoas pelas coisas terrenas desta vida, com menosprezo
pelo chamado do evangelho à salvação. Sentir-se plenamente realizado pela posse
de coisas materiais chega à loucura porque sabemos que nada levaremos deste
mundo, mas somente a obra realizada pela fé em Jesus Cristo, única obra que
verdadeiramente agrada a Deus – “Disseram-lhe,
pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e
disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (João 6:28-29).
A parábola dos convidados à grande
ceia faz uma forte advertência aos que ouvem a palavra
de Deus, porém a negligenciam ou a tratam com desdenho mesmo
sabendo que Cristo foi sacrificado pelos nossos pecados, não lhe
dando a importância devida pela salvação que só nela há. Os primeiros convidados do anfitrião da grande
ceia a rejeitaram com desculpas frágeis, mostrando nítido desinteresse em
comparecer na festa que anteriormente tinham se comprometido com quem
(Deus) os convidou. Esses são
todos aqueles que ouviram com alegria o chamado da
salvação pela palavra do evangelho, contudo não se dispõem a pagar o preço da
vida cristã assumindo um novo estilo vida com base na santidade, fidelidade e
na obediência a Deus. Parece
loucura, porém recusaram o convite à vida eterna por coisas e afazeres
temporários e que perecerão no tempo.
Normalmente são pessoas que não precisam da graça e
do poder da palavra porque possuem recursos e posses suficientes que lhes
permitem viver confortavelmente neste mundo, diferentemente dos que veem no
evangelho o acolhimento que necessitam para viver dignamente, e assim
esforçam-se para ter comunhão com o Senhor, pois a fé acrescenta-lhes
benefícios que não achariam em nenhum outro lugar. A desculpa dada pelo recém casado – “Casei, e portanto não posso ir.” (vs.
20) – é a mais contraditória e injustificada entre todas, pois a lei mosaica
dispensava o marido recém casado da guerra pelo período de um ano – “Quando um homem for recém-casado não sairá à
guerra, nem se lhe imporá encargo algum; por um ano inteiro ficará livre na sua
casa para alegrar a mulher, que tomou.” (Deuteronômio 24:5). Ora, se homem estava
isento da guerra ou de outra obrigação coercitiva para “para alegrar a mulher”, logicamente que comparecer a uma festa
social seria algo que deixaria a esposa feliz. Para nossa tristeza somos
ensinados que nos últimos tempos as famílias não mais se formarão com objetivo
de agradar a Deus, mas pelos seus próprios interesses pessoas e nas coisas
deste mundo. Vão apenas usar as igrejas para o cerimonial das núpcias, fazendo
filmagens e imagens para guardarem como recordação em álbuns, sem, contudo, terem
a intenção de cumprir o compromisso assumido diante do altar de Deus,
principalmente de guiarem suas vidas pela palavra do evangelho do reino de
Deus.
A
parte difícil da interpretação deste ensino de Jesus é quando ele diz “sai pelos caminhos e valados, e força-os a
entrar, para que a minha casa se encha.” (vs. 23). O termo “força-os a entrar” usou o verbo forçar
(greg. “anagkazo”), ato de forçar, compelir, empurrar para, pela força, ameaça,
coerção por força de contrato (Mateus 14:22). Está claro que o verbo grego foi
usado no imperativo aoristo da voz ativa, dando uma ordem a alguém. Não,
definitivamente se rejeita existir aqui um ensino de salvação compulsória ou
salvação contra a vontade do homem, pois isso contradiz o livre arbítrio dado
por Deus a todos os homens.
O
reflexo espiritual deste ensino mostra que cada vez mais o Espírito Santo fará
um grande esforço para convencer os homens a aceitarem o chamado do evangelho,
vez que quanto mais se aproxima o fim do tempo as pessoas cada vez mais
seduzidas pelo pecado e pelas coisas deste mundo, deixando-os insensíveis e indiferentes
às coisas espirituais. Então, a frase “força-os
a entrar” deve ser entendida como um convite insistente e persuasivo do
Espírito Santo – executor da ordem de Deus para convencer o homem do pecado (Jo
16:8) - no coração do homem para ele buscar a salvação em Cristo, pois em seu
grande amor Deus é “que quer que todos os
homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” (I Tm 2:4). Serão
tempos trabalhosos para quem semeia a palavra e também para o próprio Espírito
Santo – “Sabe, porém, isto: que nos
últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” (II Tm 3:1).
A palavra ensina que o fim de pecadores que
menosprezam ou desobedecem a Deus é a morte física em irremediável desgraça, de modo que não entrarão
no repouso eterno por causa da incredulidade de seus
corações (Hebreus 3:17-19). Os pobres,
aleijados, mancos e cegos (vs. 21) são todos aqueles que mesmo enfrentando
problemas e adversidades procuram conhecer e praticar a verdade do evangelho do
reino de Deus, e com isso são ajudados pelo mover do Espírito Santo em suas
vidas para chegarem à vida eterna.