Mensagem Bíblica

Parábola da grande ceia: Existe salvação eterna à força?

Parábola da grande ceia: Existe salvação eterna à força?

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 6 Minutos

E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.

Na parábola dos convidados à grande ceia (Lucas 14:16-24) Jesus conta que um certo homem fez uma grande ceia, convidou a muitos, mas na hora da ceia, estando tudo pronto para sua celebração, os convidados escusaram-se com desculpas injustificáveis. Naquela época eram feitos dois convites. O primeiro, semanas ou meses antes da festa e o segundo próximo dela, nos dias imediatamente anteriores ao evento, relembrando os convidados do compromisso social. O primeiro convidado alegou no segundo convite – após o anfitrião ter matado os animais e preparado a ceia - que iria ver o campo que comprou (vs. 18); o segundo, igualmente disse que iria experimentar cinco juntas de bois que havia comprado (vs. 19); e o terceiro negou-se a comparecer dizendo que havia se casado (vs.20).

Nas duas primeiras desculpas foi usado o verbo “comprar” (greg. “agorazo”), que é ir ao mercado, negociar lá, comprar ou vender (Mt 13:44, I Co 6:20),  em evidente alusão à preferência dessas pessoas pelas coisas terrenas desta vida, com menosprezo pelo chamado do evangelho à salvação. Sentir-se plenamente realizado pela posse de coisas materiais chega à loucura porque sabemos que nada levaremos deste mundo, mas somente a obra realizada pela fé em Jesus Cristo, única obra que verdadeiramente agrada a Deus – “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.(João 6:28-29).

A parábola dos convidados à grande ceia faz uma forte advertência aos que ouvem a palavra de Deus, porém a negligenciam ou a tratam com desdenho mesmo sabendo que Cristo foi sacrificado pelos nossos pecados, não lhe dando a importância devida pela salvação que só nela há. Os primeiros convidados do anfitrião da grande ceia a rejeitaram com desculpas frágeis, mostrando nítido desinteresse em comparecer na festa que anteriormente tinham se comprometido com quem (Deus) os convidou. Esses são todos aqueles que ouviram com alegria o chamado da salvação pela palavra do evangelho, contudo não se dispõem a pagar o preço da vida cristã assumindo um novo estilo vida com base na santidade, fidelidade e na obediência a Deus. Parece loucura, porém recusaram o convite à vida eterna por coisas e afazeres temporários e que perecerão no tempo.

Normalmente são pessoas que não precisam da graça e do poder da palavra porque possuem recursos e posses suficientes que lhes permitem viver confortavelmente neste mundo, diferentemente dos que veem no evangelho o acolhimento que necessitam para viver dignamente, e assim esforçam-se para ter comunhão com o Senhor, pois a fé acrescenta-lhes benefícios que não achariam em nenhum outro lugar. A desculpa dada pelo recém casado – “Casei, e portanto não posso ir.” (vs. 20) – é a mais contraditória e injustificada entre todas, pois a lei mosaica dispensava o marido recém casado da guerra pelo período de um ano – “Quando um homem for recém-casado não sairá à guerra, nem se lhe imporá encargo algum; por um ano inteiro ficará livre na sua casa para alegrar a mulher, que tomou.” (Deuteronômio 24:5). Ora, se homem estava isento da guerra ou de outra obrigação coercitiva para “para alegrar a mulher”, logicamente que comparecer a uma festa social seria algo que deixaria a esposa feliz. Para nossa tristeza somos ensinados que nos últimos tempos as famílias não mais se formarão com objetivo de agradar a Deus, mas pelos seus próprios interesses pessoas e nas coisas deste mundo. Vão apenas usar as igrejas para o cerimonial das núpcias, fazendo filmagens e imagens para guardarem como recordação em álbuns, sem, contudo, terem a intenção de cumprir o compromisso assumido diante do altar de Deus, principalmente de guiarem suas vidas pela palavra do evangelho do reino de Deus. O ensino da parábola deixa claro que um convite – feito por Deus!!! - pode ser aceito ou rejeitado (Mateus 22:1-14 e Lucas 14:16-24), porquanto ninguém pode ser coagido a ser salvo ou a buscar a salvação eterna.

A parte difícil da interpretação deste ensino de Jesus é quando ele diz “sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha.” (vs. 23). O termo “força-os a entrar” usou o verbo forçar (greg. “anagkazo”), ato de forçar, compelir, empurrar para, pela força, ameaça, coerção por força de contrato (Mateus 14:22). Está claro que o verbo grego foi usado no imperativo aoristo da voz ativa, dando uma ordem a alguém. Não, definitivamente se rejeita existir aqui um ensino de salvação compulsória ou salvação contra a vontade do homem, pois isso contradiz o livre arbítrio dado por Deus a todos os homens.

O reflexo espiritual deste ensino mostra que cada vez mais o Espírito Santo fará um grande esforço para convencer os homens a aceitarem o chamado do evangelho, vez que quanto mais se aproxima o fim do tempo as pessoas cada vez mais seduzidas pelo pecado e pelas coisas deste mundo, deixando-os insensíveis e indiferentes às coisas espirituais. Então, a frase “força-os a entrar” deve ser entendida como um convite insistente e persuasivo do Espírito Santo – executor da ordem de Deus para convencer o homem do pecado (Jo 16:8) - no coração do homem para ele buscar a salvação em Cristo, pois em seu grande amor Deus é “que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” (I Tm 2:4). Serão tempos trabalhosos para quem semeia a palavra e também para o próprio Espírito Santo – “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” (II Tm 3:1).

A palavra ensina que o fim de pecadores que menosprezam ou desobedecem a Deus é a morte física em irremediável desgraça, de modo que não entrarão no repouso eterno por causa da incredulidade de seus corações (Hebreus 3:17-19). Os pobres, aleijados, mancos e cegos (vs. 21) são todos aqueles que mesmo enfrentando problemas e adversidades procuram conhecer e praticar a verdade do evangelho do reino de Deus, e com isso são ajudados pelo mover do Espírito Santo em suas vidas para chegarem à vida eterna.

*© Texto bíblico: ACF – SBTB