“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10:17).

A força do homem espiritual tem relação direta com o tamanho da sua fé, “conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12:6), é o que diz o apóstolo Paulo, porquanto a fé é um dom sobrenatural concedido aos homens por Deus para se ter acesso ao mundo espiritual e ainda para operar os demais dons espirituais por meio do Espírito Santo. A fé em Cristo é a base da crença em Deus porque “sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11:6).

Como adquiri-la? A fé vem por ouvir a palavra de Deus (Rm 10:17). A palavra de Deus é o primeiro elo da corrente espiritual e base na nossa fé. Quanto mais palavra, mais Espírito Santo, mais santidade, mais temor, mais obediência, mais amor no coração, mais alegria da salvação. S Sem fé não se faz nada no mundo espiritual, bem como sua força maior ou menor força vem da qualidade positiva de nossa obediência e confiança em Deus. Tampouco se vê o poder e as obras de Deus como veem os que têm fé: “Quão grandes são, Senhor, as tuas obras! Mui profundos são os teus pensamentos. O homem brutal não conhece, nem o louco entende isto.” (Salmos 92:5-6).  

Para se saber que Deus existe não  se precisa ter fé, pois a mente racional de qualquer pessoa pode chegar a essa conclusão, basta olhar para a natureza ao redor e se verá a obra da criação diante dos olhos de crentes e descrentes -  “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Romanos 1:20) -, contudo confiar e esperar em Deus requer capacitação espiritual, que vem por da edificação na palavra da verdade, especialmente porque a fé é o instrumento pelo qual o homem lida com a invisibilidade do mundo espiritual.

Por exemplo, orar é falar com Deus, se isso não é feito com fé parecerá algo inútil porque se vê somente alguém falando sozinho sem ninguém ao seu lado. Portanto, crer no que não se vê faz parte do conceito bíblico de fé (Hebreus 11:1). A razão ou a racionalidade está limitada pelo que o homem pode ver ou fazer, essencialmente sensorial, mas a fé é ilimitada justamente porque sua fonte é o próprio Deus, a quem ela liga o homem no mundo espiritual e para quem nada é impossível. Quanto a isso, o puritano C. H. Mackintosh diz: “A fé encontra divinas certezas [absoluta verdade] e eternas realidades no meio de uma cena onde a razão e o sentimento nada podem encontrar.”.

Enfim, é pelo uso da razão que conhecemos a Deus, por meio do culto racional (Romanos 12:1), fazendo a escolha correta da crença verdadeira, porém nosso relacionamento com ele depende do dom da fé, vez que fé e razão estão interligadas na tridimensão humana – espírito, alma e corpo (I Ts 5:23). Logo, não há conflito entre fé e razão, vez que na verdade ambas se associam no contínuo conhecimento e adoração que devemos prestar ao Senhor – “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6:3).

Se alguém quiser comprovar a existência de Deus pela lógica e pela razão, de maneira filosófica, à parte das evidências bíblicas, recomenda-se a leitura das obras Suma contra os Gentios (1259 a 1264 d. C.) e Suma Teológica (1268 a 1272 d. C.), escritas por Tomás de Aquino, o que só reforçará os argumentos e a convicção da presença irrecusável de Deus em tudo que existe, quer na terra ou nos céus.

O homem espiritual é superior aos demais por causa da fé em Cristo, pois enquanto o homem racional vive esta vida restringido pelas limitações da matéria ou natureza carnal, o homem de fé revigora-se com o poder divino do Espírito Santo de Deus que habita dentro de si, entesourando-se com as bênçãos e auxílio espirituais que descem dos céus para aqueles que confiam e esperam pelo agir de Deus. O homem racional só compreenderá esta fraqueza em sua estrutura quando for libertado por Cristo do pecado – “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36).