
Obediência dos cristãos às autoridades constituídas
“Todo homem esteja sujeito às autoridades
superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus;
e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” (Romanos 13:1).
Sabidamente
as leis bíblicas foram fonte de muitos códigos de leis de governos seculares,
procedência que lhes confere caráter complementar das leis divinas, podendo se
ver a influência da ética judaico-cristã presente na maioria dos regramentos modernos,
posicionadas como pilares estruturantes, especialmente em relação aos
princípios do respeito à família, da paz e da dignidade dos homens. A
organização do Estado, o poder estatal, autoridades, tributos e julgamentos de
magistrados são concepções divinas colocadas em práticas pelos primeiros reinos
e nações, algumas delas essencialmente teocráticas como foi Israel. A paz
social, a segurança dos direitos individuais e coletivos dependem da manutenção
da ordem pública pelas autoridades constituídas. Quando o candidato do eleitor
não vence a eleição ele fica chateado, mas se for cristão deve lembrar que é o
Senhor que remove e estabelece reis e governos (Daniel 2:21) e também inclina o
coração deles conforme sua soberana
vontade (Provérbios 21:1).
Todo cristão
possui a obrigação de cumprir e obedecer às leis civis
que regem a vida das pessoas, porquanto a própria organização dessas leis pelas
nações foram estabelecidas e fundamentam-se na palavra de Deus (Romanos 13:1-7
e I Pd 2:13-14). Mas, quando houver um comando legal ordenando
descumprir uma lei divina, há de prevalecer a vontade de Deus, o que se pode
chamar de desobediência santa, pois o temor maior é sempre da palavra de Deus.
Isso é um princípio desde a antiguidade: “Príncipes
me perseguiram sem causa, mas o meu coração temeu a tua palavra.” (Sl
119:161).
Que o diga
Hananias, Mizael e Azarias quando não se intimidaram diante da fornalha ardente
(Daniel 3:12-18) e depois o rei Nabucodonosor reconheceu que bendito
era o Deus desses três amigos do profeta Daniel, o qual os livrou de morrerem
na fornalha depois que se recusaram obedecer o decreto real, preferindo entregarem
seus corpos ao fogo ardente “para
que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus.” (Dn
3:28). Pedro e os apóstolos recusaram-se
a obedecer a ordem do sinédrio judaico para que não mais ensinassem o povo pelo
nome de Jesus – “Mais
importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5:29).
A palavra lembra que todas as
autoridades e governos constituídos submetem-se ao poder divino, pois Deus
ocupa o posto máximo da hierarquia do comando universal. O escalonamento
hierárquico prioritariamente se presta para lembrar a detentores de poder que
uma autoridade sempre tem outra que lhe é superior, principalmente para coibir
injustiças: “Se vires em alguma província
opressão do pobre, e violência do direito e da justiça, não te admires de tal
procedimento; pois quem está altamente colocado tem superior que o vigia; e há
mais altos do que eles.” (Eclesiastes 5:8).
A palavra do evangelho é
pregada não para agradar a homens, mas para cumprir o propósito de Deus em
proclamar ao mundo a salvação por meio da obra da cruz de Cristo, em busca da
salvação das almas (I Ts 2:4). Porém, a palavra de Deus, desde a velha aliança,
ensina aos justos e santos a orarem pelas autoridades constituídas visando
manter a paz social entre os homens (Jeremias 29:7 e I Tm 2:1-2). Isso é apto a
afastar as ações as hostes espirituais da maldade que comandam os espíritos da
violência, do roubo, do vício ou prostituição, desgraçando coletivamente o
convívio entre os homens.
No entanto, isso não se
confunde em querer usar a palavra de Deus e do evangelho de Cristo para mudar
governos, estruturas políticas e sociais do país, pois Jesus Cristo rejeitou
fazer isso quando andou neste mundo. Certa feita os herodianos tentaram fazer
Jesus se envolver no governo dos homens, porém sua resposta foi mostrar que há
clara divisão entre o mundo espiritual e os governos seculares: “Dai
pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21). Ele se recusou a interferir no governo que
envolvia a nação de Israel, o povo escolhido de Deus.
Ora, Jesus ensinou aos judeus e a todos nós que ele não
veio mudar o mundo, estabelecer ou remover reis e governos, mas transformar o
coração do homem tirando o pecado de dentro do seu coração, pois só assim
haverá verdadeira transformação e um mundo melhor para todos os homens. O
conselho do Espírito de Deus aos cristãos é que o bom soldado de Cristo não se
envolva com as coisas desta vida, a fim de agradar aquele que o alistou para a
guerra espiritual que se trava todos os dias (II Tm 2:4).