
A tentação vem até na hora da morte
“Vigiai
e orai, para que não entreis em tentação;
o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:41)
A carne é fraca (greg. “asthenes”) porque a força e o poder
sobrenatural agem no espírito vivificado, jamais isoladamente no corpo ou na
alma, partes mais frágeis da dimensão humana. Aqui vemos Jesus, o Filho de
Deus, titubeando na carne para prosseguir no plano de salvação eterna que veio
cumprir fazendo a vontade do Pai – “Meu
Pai, se é possível, passe de mim este cálice;” (Mateus 26:39), porém, ao
mesmo tempo, ele demonstra que toda fraqueza carnal pode ser superada pela
força espiritual que vem por meio da oração e exorta os discípulos a orarem
para que tivessem forças para enfrentar o que estava por vir naquela noite. Esta
fraqueza de Jesus na iminência de sua morte há de ser vista como própria de
qualquer natureza humana, pois enquanto cumpriu seu ministério nesta terra ele
foi totalmente homem e totalmente Deus, tinha a natureza humana e a natureza
divina agindo na mesma pessoa – é a doutrina União Hipostática.
A vigilância espiritual representa ao mesmo
tempo um dever e uma graça. Se a oração for constante não surgirão brechas na
velha natureza para o ataque demoníaco, ficando afastadas a dor, a angústia e
as perdas. Precisamos estar sempre à postos no alto refúgio e na torre forte
que é Cristo (Salmos 9:9:3 e Provérbios 18:10), pois a vida cristã é vivida com
batalhas diárias até o fim – “Mas
aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.” (Mt
24:13, Salmos 119:33), nosso ou deste mundo. Havendo
vigilância espiritual por meio da oração e meditação no evangelho, certamente
nossa casa terá paz e liberdade no Espírito até o último dia.
Judas mesmo andando com Jesus
tinha brecha espiritual: ele era um ladrão, pois furtava da bolsa o dinheiro
que ofertavam ao ministério de Jesus enquanto andou pelas terras de Israel (Jo
12:6). A maldição do pecado estava sobre ele, embora tenha sido um homem
escolhido por Jesus para ser apóstolo – “Porque
muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mateus 22:14) - e caiu quando
não se arrependeu sinceramente ao se converter. Esta foi a legalidade que Satanás encontrou para entrar
na vida desse apóstolo e fazê-lo trair Jesus (João 13:27). Se houver apenas uma
brecha é o suficiente para o inimigo entrar com sua destruição. Depois que
fizeram uma brecha no muro de Jerusalém o exército da Babilônia entrou,
destruiu, queimou e levou todos os moradores de Judá como escravos para o
exílio (Jeremias 39:2-9).
Felizmente há homens que temem a Deus, não se desviam e vivem na
integridade da fé. Assim era o profeta Daniel. Os inimigos
não achando ocasião ou culpa alguma em Daniel para acusá-lo diante do rei, pois
o mesmo era homem fiel e íntegro, “então estes
homens disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a
acharmos contra ele na lei do seu Deus.” (Daniel 6:5), pediram ao rei a edição de um decreto
real proibindo em todo reino que, pelo espaço de trinta dias, ninguém fizesse
petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, que não fosse o próprio rei, e se
alguém ousasse desobedecer seria lançado na cova dos leões. Daniel sabendo que
o decreto estava assinado não se intimidou, pois continuou entrando no seu
quarto para, três vezes ao dia, orar de joelho a Deus como era do seu costume
fazer. O final da história nós sabemos: Daniel foi jogado na cova dos leões, Deus
o protegeu das feras, e por ordem do rei seus inimigos foram jogados na mesma
cova “e ainda não
tinham chegado ao fundo da cova quando os leões se apoderaram deles, e lhes
esmigalharam todos os ossos.” (Daniel 6:24).
Aqui está uma grande verdade espiritual: o nosso
inimigo quer que paramos de orar a todo custo. Deixar de orar é tornar-se fraco,
abrir brechas na vida espiritual e interromper
a comunhão e a intimidade com Deus. Quando a palavra diz “vigiai”
ou “sede vigilantes” isso é um
chamado a perseverar na oração. Não se iluda: o diabo quer a todo custo que
paremos de orar, pois a falta de oração constante é a principal
brecha por onde entra a tentação para derrubar o crente. Quando Paulo diz “orai sem cessar” (I Ts 5:17) não é um
exagero, e sim uma necessidade para quem quer se manter íntegro e reto na
presença de Deus.