
Nem tudo que o filho pedir deve ser atendido
“E
disse: Um certo homem tinha dois filhos; E o mais moço deles disse
ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por
eles a fazenda.” (Lucas 15:11-12).
O pai do filho pródigo errou dando sua parte na herança quando
lhe foi pedida, pois o costume era o pai dividir a herança ainda em vida, porém
o momento em que ocorria a partilha ficava no controle do pai e normalmente era
feito próximo de sua morte. O filho pediu a herança porque o que queria fazer e
viver não seria tolerado pelo pai, devido às regras e mandamentos que regiam a
família. Toda casa precisa ter autoridade, do contrário as mazelas do mundo
entram porta adentro. Nenhum pai deve impedir um filho adulto de fazer ou ir
aonde quer, contudo se sair de casa perde o apoio incondicional que sempre recebeu
em casa. As bênçãos da casa do pai não o acompanham.
O desejo que tirou o filho pródigo da presença do pai,
hoje está dentro do coração de muitos jovens, contudo sem condições financeiras
para se aventurarem, não saem de casa porque em nenhum outro lugar encontrarão
tudo disponível como em sua família. Mas, isso serve para lembrá-los que não há
liberdade sem independência econômica pessoal, pois a liberdade tem custo e exige
responsabilidade.
A figura do pai nesta parábola de Jesus representa Deus,
mas ele jamais forçou alguém a ficar na sua presença para ser salvo – Jesus
chorou às portas de Jerusalém, mas não forçou ninguém a se converter de seus
maus caminhos (Lucas 19:41) – e mesmo não sendo usual um filho pedir sua parte na
herança, o pai atendeu o filho mais novo, devido seu amor pelo filho. Na velha
aliança Deus nunca obrigou a Israel a adorá-lo, mesmo quando o abandonaram para
adorar deuses falsos: “Mas o meu povo não quis ouvir a minha voz, e Israel
não me quis. Portanto eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram
nos seus próprios conselhos.” (Salmos 81:11-12).
Por detrás da questão do pedido da herança há uma questão
interessante para todos os pais. Por que o filho mais novo quis sair de casa? A
resposta desta pergunta está diretamente ligada com o engano do seu coração – “Enganoso é o coração, mais do que todas as
coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jeremias 17:9). O destino da sua viagem e o que fez o filho mais novo indicam que o
mesmo queria fazer algo que não podia feito próximo ou na casa do pai, por isso
foi para “uma terra distante”. Seu
coração estava cheio de desejos carnais e mundanos que apenas podiam ser
experimentados longe dos limites e das regras da casa do pai. Ele dissipou
todos os bens vivendo dissolutamente, que quer dizer de modo devasso e depravado
porque não tinha maturidade espiritual, olvidando que o homem que ama a
sabedoria alegra seu pai e “o companheiro
de prostitutas desperdiça os bens” (Provérbios 29:3).
A igreja é o melhor lugar do mundo para se preservar uma
alma, contudo muitas almas têm deixado a casa do Senhor atraídas pelos desejos
carnais, pelas iscas e ciladas do diabo. Rapidamente muitos percebem o engano
que lhes empurrou para a miséria espiritual – e geralmente também a miséria
material os segue como uma maldição -, mas feridos e diminuídos na dignidade
humana não encontram forças para voltar e afundam-se mais e mais no pecado. Só
alguns acham o caminho e retornam para novamente vestirem-se com a melhor roupa
(o Espírito Santo), receber um anel no dedo (aliança com Deus), sandálias nos
pés (preparação no evangelho) e a casa toda (a igreja) celebra sua volta numa
alegre festa (Lucas 15:22).
As perdas e misérias desfigurou esse filho, como se fosse
outra pessoa aos olhos de quem o conhecera antes, tudo pelo simples ato de dar
vazão aos pecados carnais e mundanos da velha natureza, porquanto não só perdeu
bens, mas também a dignidade de ser filho do Pai. Enquanto esteve no mundo vivia
humilhado e com a vida. O pecado nunca acrescenta ou exalta, apenas diminui e
humilha os que lhe são cativos. O principal efeito do pecado é cegar o
entendimento dos pecadores, impedindo-lhes de enxergar as coisas como elas
realmente são, especialmente as coisas espirituais. A maioria deles não
conseguem ver a cegueira em suas vidas (II Co 4:4) e precisam ser libertados e
curados pelo Senhor Jesus, por ser aquele que dá vista aos cegos e liberta os
encarcerados (Lucas 4:19).
Sem libertação os pecadores não enxergam a dignidade de
ser filhos de Deus e vivem oprimidos quando poderiam estar vivendo na
abundância e na alegria da casa do Pai (Isaías 1:19).
O filho pródigo foi embora de casa e voltou quando quis. Por
que o Pai não foi buscar o filho no mundo? A volta para casa do Senhor deve ser
espontânea, voluntária e de coração, pois exige confissão (“pequei contra o céu e perante ti”) e nova aliança (“um
anel no dedo”) e compromisso perante a igreja (festa/batismo), pois, o que
agrada a Deus é um coração contrito e quebrantado por meio da fé em Cristo.
Filho ou Filha, voltem que o Pai está te aguardando de
braços abertos!