Mensagem Bíblica

O amor apaga multidão de pecados

O amor apaga multidão de pecados

  • Éder de Souza
  • Tempo de Leitura 6 Minutos

Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados.” (I Pd 4:8).

A frase “cobrirá uma multidão de pecados” foi usada por Pedro e também por Tiago (Tiago 5:20), em momentos que ambos aconselhavam os irmãos das igrejas a conviveram afetuosamente, na prática da fé e do amor fraternal, mas principalmente na oração, ministração de dons e serviços como despenseiros da multiforme graça de Deus, ensinando-lhes que vida cristã em comum é servir uns aos outros.

Tiago diz: “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.“, onde embora não tenha mencionado o amor a resolução do problema, o olhar de Tiago está sendo dirigido pelo amor cristão sobre aquele irmão que abandonou a fé, deixou a irmandade e a comunhão com o corpo de Cristo. Hoje há muitas pessoas que foram feridas nas igrejas e se revoltaram contra a fé, o que é correto até a decisão de se afastar de determinada igreja se não há mais clima para convivência – Cristo está em todas as igrejas que ensinam e obedecem sua palavra como se nas sete igrejas do Apocalipse -, mas se mostra uma decisão errada quando isso é feito para se afastar definitivamente da comunhão com o corpo de Cristo, especialmente porque as contendas, ofensas e brigas são obras da carne e não do Espírito Santo, o que pode ser algo bom para se encontrar outra comunidade cristã mais edificada e espiritual.

Não é tarefa fácil pregar para crentes que se desviaram da fé, vez que muitos se dizem machucados ou insatisfeitos não pela falta ou excesso da palavra, mas por divergências com líderes ou irmãos da igreja local. Embora seja um problema bastante recorrente, trata-se de embate antigo no meio da religiosidade: “O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como os ferrolhos de um palácio.” (Provérbios 18:19).

E, se o afastamento deu-se pela prática de pecado ou ato sujeito a disciplina, mais difícil fica seu retorno porque sua restauração passa pela respectiva correção, vez que esse processo pode causar mais vergonha e sofrimento em quem já está combalido. A liderança precisa ser paciente e sábia para entender que decisões erradas envolvendo família, irmandade fraternal, vida profissional ou relacionamento conjugal demandam tempo porque são de trato delicado. Há casos que envolvem decisão judicial, a qual muitas vezes vincula a inocência ou culpa dos que são acusados de desvios do caminho da verdade, sobretudo nos pecados sexuais. A vinculação não é absoluta, mas normalmente se impõe porque a igreja não tem de investigar a vida particular, porquanto sua disciplina limita-se aos fatos conhecidos notoriamente e comprovados internamente.  Portanto, a regra nesses casos é fazer tudo com espírito de mansidão (Gálatas 6:1), com misericórdia e acolhimento espiritual, sem se afastar sequer por um momento da verdade do evangelho.

Ademais, o trabalho para se eliminar apenas um pecado pode precisar de muito esforço e tempo, pois os homens são amarrados pelas cordas dos seus próprios pecados (Provérbios 5:22), de modo não ser nada fácil “cobrir uma multidão de pecados” como ensinam Tiago e Pedro. Por outro lado, a prática do amor apenas será possível ao quem ama a Deus sobre todas as coisas, pois Ele é a fonte do amor (I João 4:19).

Nós somente podemos dar amor se o amor de Deus produzir amor em nós, porque a velha natureza humana não tem a essência do amor inata como o amor faz parte da natureza de Deus – “Deus é amor” (I João 4:8). Quando se diz que “o amor cobrirá multidão de pecados” invoca-se uma realidade onde a convivência fraterna entre irmãos é baseada no amor, que é o “vínculo da perfeição” (Colossenses 3:14) e por isso prevalece sobre as ofensas, contendas ou egoísmo. Os irmãos em Cristo têm que se amar ardentemente com um amor fraternal não fingido ou hipócrita, pois só assim refletem a pureza da alma pela obediência à verdade (I Pd 1:22).

Cobrir pecado não é negar nem ignorar a ofensa injusta, o que normalmente é visto como indício de fraqueza, mas é deixar de devolver a ofensa ou de pagá-la com o mesmo mal, preferindo perdoá-la inclinado pela pureza de um coração benigno. Um coração crente, transformado por Cristo, mesmo sofrendo humilhação e perda, encontrará força para obedecer esta ordem: “Não digas: Vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor, e ele te livrará.” (Provérbios 20:22).

A tarefa de “cobrir multidão de pecados” não é algo fácil de ser colocado em prática pelo fato do pecado ser uma força sobrenatural do mal, porém onde mora o dom do amor também mora o perdão.

Quem perdoa está em Cristo e vive com e para Cristo, conquanto fomos perdoados por Deus porque buscamos Cristo por meio da fé: “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Efésios 4:32).

Logo, somente o perdão divino – projeção da prática do amor de Deus - tem força para destruir as raízes malignas do pecado, apagando-o no mundo espiritual, e ainda cancelar a dívida que pesava sobre a alma do pecador, libertando-o da condição de prisioneiro do cárcere espiritual. Mas, muitas vezes o perdão liberta o próprio ofendido de sentimento de amargura ou vingança, de modo que perdoar é sempre bom. Tenha um coração leve, uma alma feliz e perdoe sempre!

*© Texto bíblico: ACF – SBTB