
O amor apaga multidão de pecados
“Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor
cobrirá a multidão de pecados.” (I Pd 4:8).
A frase “cobrirá uma multidão de pecados” foi usada por Pedro e também por Tiago (Tiago 5:20), em momentos que ambos aconselhavam os irmãos das igrejas a conviveram afetuosamente, na prática da fé e do amor fraternal, mas principalmente na oração, ministração de dons e serviços como despenseiros da multiforme graça de Deus, ensinando-lhes que vida cristã em comum é servir uns aos outros.
Tiago diz: “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador,
salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.“, onde
embora não tenha mencionado o amor a resolução do problema, o olhar de Tiago
está sendo dirigido pelo amor cristão sobre aquele irmão que abandonou a fé, deixou
a irmandade e a comunhão com o corpo de Cristo. Hoje há muitas pessoas que
foram feridas nas igrejas e se revoltaram contra a fé, o que é correto até a
decisão de se afastar de determinada igreja se não há mais clima para convivência
– Cristo está em todas as igrejas que ensinam e obedecem sua palavra como se nas
sete igrejas do Apocalipse -, mas se mostra uma decisão errada quando isso é
feito para se afastar definitivamente da comunhão com o corpo de Cristo,
especialmente porque as contendas, ofensas e brigas são obras da carne e não do
Espírito Santo, o que pode ser algo bom para se encontrar outra comunidade
cristã mais edificada e espiritual.
Não é tarefa
fácil pregar para crentes que se desviaram da fé, vez que muitos se dizem
machucados ou insatisfeitos não pela falta ou excesso da palavra, mas por
divergências com líderes ou irmãos da igreja local. Embora seja um problema
bastante recorrente, trata-se de embate antigo no meio da religiosidade: “O irmão ofendido é mais difícil de
conquistar do que uma cidade forte; e as contendas são como os ferrolhos de um
palácio.” (Provérbios 18:19).
E, se o
afastamento deu-se pela prática de pecado ou ato sujeito a disciplina, mais
difícil fica seu retorno porque sua restauração passa pela respectiva correção,
vez que esse processo pode causar mais vergonha e sofrimento em quem já está
combalido. A liderança precisa ser paciente e sábia para entender que decisões
erradas envolvendo família, irmandade fraternal, vida profissional ou
relacionamento conjugal demandam tempo porque são de trato delicado. Há casos
que envolvem decisão judicial, a qual muitas vezes vincula a inocência ou culpa
dos que são acusados de desvios do caminho da verdade, sobretudo nos pecados
sexuais. A vinculação não é absoluta, mas normalmente se impõe porque a igreja
não tem de investigar a vida particular, porquanto sua disciplina limita-se aos
fatos conhecidos notoriamente e comprovados internamente. Portanto, a regra nesses casos é fazer tudo
com espírito de mansidão (Gálatas 6:1), com misericórdia e acolhimento espiritual,
sem se afastar sequer por um momento da verdade do evangelho.
Ademais, o trabalho para se eliminar apenas um pecado pode precisar de
muito esforço e tempo, pois os homens são amarrados pelas cordas dos seus
próprios pecados (Provérbios 5:22), de modo não ser nada fácil “cobrir uma multidão de pecados” como ensinam Tiago e Pedro. Por
outro lado, a prática do amor apenas será possível ao quem ama a Deus sobre
todas as coisas, pois Ele é a fonte do amor (I João 4:19).
Nós somente podemos dar amor se o amor de Deus produzir amor em nós,
porque a velha natureza humana não tem a essência do amor inata como o amor faz
parte da natureza de Deus – “Deus é amor”
(I João 4:8). Quando se diz que “o amor
cobrirá multidão de pecados” invoca-se uma realidade onde a convivência
fraterna entre irmãos é baseada no amor, que é o “vínculo da perfeição” (Colossenses 3:14) e por isso prevalece sobre as
ofensas, contendas ou egoísmo. Os irmãos em Cristo têm que se amar ardentemente
com um amor fraternal não fingido ou hipócrita, pois só assim refletem a pureza
da alma pela obediência à verdade (I Pd 1:22).
Cobrir pecado não é negar nem ignorar a ofensa injusta, o que
normalmente é visto como indício de fraqueza, mas é deixar de devolver a ofensa
ou de pagá-la com o mesmo mal, preferindo perdoá-la inclinado pela pureza de um
coração benigno. Um coração crente, transformado por Cristo, mesmo sofrendo humilhação
e perda, encontrará força para obedecer esta ordem: “Não digas: Vingar-me-ei do mal; espera
pelo Senhor, e ele te livrará.” (Provérbios 20:22).
A tarefa de “cobrir multidão de
pecados” não é algo fácil de ser colocado em prática pelo fato do pecado
ser uma força sobrenatural do mal, porém onde mora o dom do amor também mora o
perdão.
Quem perdoa está em Cristo e vive com e para Cristo, conquanto fomos perdoados por Deus porque buscamos Cristo por meio da fé: “Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Efésios 4:32).
Logo, somente o perdão divino – projeção da prática do amor de Deus -
tem força para destruir as raízes malignas do pecado, apagando-o no mundo
espiritual, e ainda cancelar a dívida que pesava sobre a alma do pecador,
libertando-o da condição de prisioneiro do cárcere espiritual. Mas, muitas
vezes o perdão liberta o próprio ofendido de sentimento de amargura ou
vingança, de modo que perdoar é sempre bom. Tenha um coração leve, uma alma
feliz e perdoe sempre!