
Os limites da liberdade cristã
“Todas as coisas me são lícitas, mas
nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu
não me deixarei dominar por nenhuma.” (I Co 6:12).
A questão nunca foi estar encarcerado, preso por ferrolhos
e correntes, pois os mesmos podem ser abertos ou quebrados e os prisioneiros
ganharem a liberdade que sempre desfrutaram. Pelo contrário, o correto na vida
espiritual é não se colocar em situação que provoca a perda da liberdade. Jesus
alertou que libertar uma pessoa sem que ela assuma a responsabilidade de permanecer
livre é muito perigoso para ela mesma, pois eventual segunda libertação será
mais difícil (Lucas 11:24-26).
Hoje muitos crentes são libertados do pecado, batizados e
incluídos no corpo de Cristo, porém não conseguem viver no estado da graça
divina, na alegria do Espírito e da paz na alma, porquanto retornam à vida de
pecados e de prisioneiro espiritual. Isso ocorre principalmente com aqueles que,
depois de libertados do jugo do pecado, não buscam edificação nem crescimento,
o que é favorecer às inclinações da carne contra a obra de santificação do
Espírito Santo.
Vejam como a palavra diz isso: “Estai, pois, firmes na liberdade com que
Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” (Gl
5:1). Qualquer pessoa para estar firme na fé tem que estar buscando se
fortalecer no Senhor (Efésios 6:10), pois ele é a nossa rocha e fortaleza, dele vem
todo poder por meio da graça de Deus. Em seguida, no mesmo capítulo, é dito: Porque vós, irmãos, fostes chamados à
liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos
uns aos outros pelo amor.” (Gálatas 5:13).
A
parte final do texto diz “servi-vos uns
aos outros pelo amor”, porém quem não se edifica não conhece a Deus e, por
óbvio desconhece o amor, porque Deus é amor (I João 4:8). Quem está no mundo ou
vem do mundo para a igreja e não se fortalece na fé nem possui conhecimento de
Deus não sabe do verdadeiro amor – o amor “ágape”, que é o amor de Deus.
Ninguém nasce com ele, é ensinado na igreja pela palavra de Deus (João 14:21). Os
sentimentos guardados no coração dos que não conhecem o amor de Deus foram moldados
pelo amor que conheceram no mundo (amor “eros”
e amor fraternal), o que é insuficiente
para se estabelecer na vida cristã, para ter uma vida abençoada.
A
liberdade cristã tem limites: “Todas as
coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são
lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.” (I 6:12). Um homem ou
uma mulher somente não se deixará dominar pelo que é ilícito ou por algo lícito
(I Co 10:23), se entender pela nova vida em Cristo existir coisas proibidas e inconvenientes
à condição de discípulo do Senhor, o que se absorve quando há temor no coração
e o temor vem por meio da palavra de Deus, daí que sem meditação permanente na
palavra de Deus a liberdade espiritual é perdida. E junto com a liberdade vão
todos os benefícios da vida cristã, ainda que o encarcerado permaneça
frequentando igrejas.
Paulo diz que se o homem interior estiver fortalecido pelo
poder do Espírito está atendida a condição “para que Cristo habite pela fé nos vossos corações”
(Efésios 3:17). Ou seja, é necessário estar sob o domínio do Espírito para se ter
liberdade saudável e livre dos desejos da carne. Como dito, Cristo é o Espírito
e o mesmo está onde há almas que foram libertadas da escravidão das trevas,
ainda que seja apenas uma em meio a tantas outras almas encarceradas ele estará
ali para honrar sua condição de redentor e filho de Deus.
Porém, não é fácil viver livre das paixões e
concupiscências da carne, chegando mesmo parecer ser mais vantajoso viver na
escravidão do que em liberdade. O povo de Israel foi libertado da escravidão
para ser levado à terra que manava leite e mel, contudo ainda no deserto ele
quis várias vezes retornar ao Egito para viver como escravo novamente (Êxodo 16:3
e Números 11:4-5 e 14:3). Às vezes parece que viver como escravo é mais fácil do que
pegar as rédeas da vida e viver em liberdade, não porque ser livre seja ruim,
mas por causa do ônus que ela traz consigo. Na esfera espiritual este dilema é
mais grave, vez que não havendo campo neutro no mundo espiritual a liberdade de
escolha insere o homem na condição de servo do pecado ou de servo de Deus (Rm
6:20-22).
Mas, devemos nos exultar em Cristo, pois o evangelho diz: “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36). Oh, glória!